Lisboa - O Governo angolano enviou um avião para a Polónia para trazer de volta 277 angolanos em fuga do conflito na Ucrânia. O grupo queixa-se de falta de apoio das autoridades angolanas. Apenas 30 aceitaram embarcar.

Fonte: DW

"No âmbito da efetivação do plano de contingência" para retirar cidadãos angolanos que deixaram a Ucrânia e se refugiaram na Polónia, desde o início do conflito com a Rússia, o Governo de Angola, através da missão diplomática no território polaco, "criou condições de receção de todos os cidadãos angolanos atingidos pelo conflito, tendo até 05 de março chegado a Varsóvia 277 cidadãos", refere um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores angolano divulgado este domingo (06.03).


"Em função disto, o Executivo angolano mobilizou um meio aéreo -- um Boeing Triple Seven - para trazer para Angola a totalidade dos referidos cidadãos, incluindo os cônjuges nacionais e estrangeiros", precisou a nota. Porém, acrescentou o ministério: "Dos 277 cidadãos acolhidos em Varsóvia, apenas 30 aceitaram embarcar para Angola, tendo os restantes decidido permanecer em solo polaco por sua conta e risco, o que exonera o Estado angolano de responsabilidades sobre estes cidadãos, exceto apoio consular possível".


Num vídeo a circular nas redes sociais, os angolanos que ficaram na Polónia alegam que não tiveram apoio necessário para recomeçar a vida. "Será que é possível alguém recomeçar com 16 dólares?", questionam. "Muitas pessoas aqui perderam casas, carros, empresas, empregos. Não vamos voltar a Angola com 16 dólares na mão. 13 mil euros para mais de 200 pessoas? Vamos fazer o quê? Nada", criticam.


Segundo o Jornal de Angola, os 30 angolanos que aceitaram a evacuação chegaram esta madrugada ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, onde foram recebidos por uma delegação do Governo composta pelo ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado e os ministros das Relações Exteriores, Téte António, a ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Alves, bem como por equipas de apoio.


Faustina Alves, citada pelo Jornal de Angola, assegurou que estão criadas as condições para acolher estes cidadãos, desde a hospedagem, à assistência médica e alimentar. A ministra lamentou o comportamento da maioria dos angolanos que fugiu da Ucrânia e preferiu não regressar ao país.


Perante a recusa do grupo, e "no âmbito da vocação panafricanista da República de Angola, o Governo [angolano] aceitou transportar no mesmo avião cidadãos de outros países" do continente africano, numa altura em que o número de pessoas em fuga da guerra na Ucrânia já chegou aos 1,5 milhões.


Só na Polónia, o número de pessoas procedentes da Ucrânia ultrapassou, ao fim da tarde de domingo, um milhão, segundo a guarda-fronteiriça polaca. Segundo a ONU, esta crise de refugiados é a "de crescimento mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial".


Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau informou que conseguiu evacuar nas últimas horas seis dos nove cidadãos guineenses para a Polónia, Varsóvia e um conseguiu boleia dos angolanos para Luanda.


No terreno, a situação continua tensa. As forças russas intensificaram este domingo os bombardeamentos de cidades do centro, norte e sul da Ucrânia, informa o conselheiro presidencial ucraniano Oleksiy Arestovich: "É uma catástrofe. Não sei que tipo de mísseis laçaram esta noite. É uma tragédia total".


Volodymyr Zelensky, Presidente ucraniano, diz que a Rússia anunciou novos ataques, em locais com civis por perto, e que não viu nenhuma reação por parte dos líderes do Ocidente. "Para esta segunda-feira, a Rússia anunciou oficialmente o bombardeamento do nosso território. As nossas instituições de defesa. A maioria foi construída há décadas, pelo então poder soviético, nos centros urbanos. Milhares de pessoas trabalham lá. Centenas de milhares vivem lá", avisou.


O cessar-fogo foi desrespeitado e a evacuação da cidade de Mariupol falhou pela segunda vez. A central nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, caiu nas mãos dos russos.


Zelensky acrescenta que a audácia do agressor é um claro sinal para o Ocidente de que as sanções contra a Rússia não são suficientes e acusa Vladimir Putin de matar civis com fortes bombardeamentos em várias cidades: "Ouvimos promessas de que haverá corredores humanitários. O que não está a acontecer. Em vez de corredores humanitários, assistimos ataques sangrentos. Hoje [domingo] uma família foi morta em Irpin. Homem, mulher e dois filhos, foram assassinados em plena via pública, quando tentaram sair da cidade, para serem salvos".


Uma terceira ronda de conversações entre a Ucrânia e a Rússia é esperada esta segunda-feira. Também esta tarde, o Conselho de Segurança da ONU volta a reunir-se para discutir a situação humanitária na Ucrânia, 12 dias depois do início da invasão russa.