Luanda - A história de Manuel de Brito Carvalho Vinhas é a história ligada á Cervejeira CUCA, de uma época, mas é também o legado pouco conhecido de uma figura portuguesa com um espírito de iniciativa muito particular.

Fonte: Poly Dibassano Dumpontierry

Descendente de Francisco Vinhas e de Luísa Carvalho uma família com negócios ligados às indústrias, nasceu em Lisboa em 1925. Teve sua formação do Ensino Primário e Secundário no Colégio Infante de Sagres, inaugurado em 1928. Nesta instituição conheceu Maria Alice Carneiro Bustorff Silva com quem veio a casar.

 

Como principal accionista da Sociedade Central de Cervejas (um dos pilares da sua gestão), foi o homem que fundou em Luanda a Companhia União de Cervejas de Angola (CUCA) em 1952, numa altura que já tinha em Portugal a Sagres, a Skol no Brasil, e a Laurentina em Moçambique e um império de mais de 53 empresas diferentes, em ramos tão distintos como a produção de garrafas, a criação de galinhas, a exploração agrícola de vegetais (quase tudo na zona industrial de Cazenga), uma fazenda de maracujá (que vendia concentrado de polpa), uma plantação de abacaxi (que transformava em vinho), cultivou também vetiver (uma raiz para fazer água de colónia), possuiu jornais e até revistas (em 1970 juntou-se ao grupo Neográfica com as revistas Noite e Dia e Notícia com edição angolana e portuguesa). Tinha também fazendas no Luso (Luena), plantações de café, fábricas de plástico e até importava vinho. Fundou em Angola o Banco Comercial de Angola, na altura o edifício mais alto das colónias portuguesas, finalizado em 1967.


Por volta de 1950, a cerveja em Angola, era importada o que encarecia o produto, o que resultou num grande sucesso imediato a sua introdução em 1956. A principio a cerveja foi baptizada como KUKA nome inviabilizado por fazer lembrar a Ku Klux Klan, pelo que, simplesmente foi preterido o K por C. Mais do que uma Marca, Cuca é “a” cerveja de Angola tão conhecida que era normal alguém pedir "uma Cuca por favor", por ser sinónimo de cerveja.


A Cuca a Marca, é uma cerveja que os angolanos não dispensam, seja para restaurar as forças ao fim de um dia de trabalho, numa festa com os amigos, ou apenas porque lhes apeteceu uma cerveja geladinha.


Desde os tempos idos a vida em Angola não era fácil para os africanos de pele negra e ser recrutado como quadro dessa cervejeira, era não distinguido salarialmente pela cor, o que representava grande ambição fazer parte como trabalhador. Manuel Vinhas da Cuca, foi provavelmente o primeiro branco a perceber que os trabalhadores mereciam ordenados compatíveis com as suas necessidades básicas, direito a assistência médica, creche, biblioteca e grupo cultural e desportivo. Assim, a par dos negócios e com o patrocínio da Cuca, organizou inúmeras exposições de arte e cultura e torneios de futebol.


Quando se fala da Cuca às gerações mais velhas de Luanda, o primeiro pensamento é para os torneios com até 30 mil pessoas a assistir as finais no estádio dos Coqueiros, em Luanda. Justino Fernandes um dos homens ligados ao desporto em Angola chegou no cargo elevado de “ organizador dos torneios da Cuca” sob convite de Manuel Vinhas após ter jogado em Portugal no início da década de 60 graças num desses torneios.


Das festas que deu em Luanda patrocinado pela Cuca, Dionísio Rocha um dos elementos da banda Negoleiros do Ritmo foi um dos privilegiados, que em 1964 com ele viajou por mar para Portugal, para tocar no festival de Santa Marta de Portuzelo em Viana do Castelo e depois para o Brasil em 1966 para ver o Carnaval do Rio de Janeiro. Graças a esse patrocino, a Cuca trouxe Martinho da Vila pela primeira vez a Angola.


Durante a sua vida, Manuel Vinhas leu e escreveu muito. Nos anos 60 foi preso, teve residência fixa e impedido de viajar. Escreveu “Para um diálogo sobre Angola”, opúsculo retirado pela censura, e conotado de colaborador com os “terroristas” do MPLA e da UPA ao ponto de o colocar numa incómoda situação. Era sua a teoria que não se devia fazer guerra em Angola, mas promover o desenvolvimento económico do país, com toda a sua pujança e riqueza.


Sob constante vigilância da PIDE desde 1961 a situação agudizou-se após a apreensão a 13 de Março de 1963 de 400 exemplares da 2.ª edição editada em Março de 1962.


No dia 25 de Abril de 1974 Manuel Vinhas estava em Luanda quando as forças do movimento das Forças Armadas assaltaram a sua residência em Portugal de metralhadoras em punho. Suas contas bancárias e da família foram congeladas deixando a esposa sozinha com salários e contas para pagar. De Angola, viajou e em Fevereiro de 1975 exilou-se no Brasil onde foi convidado para presidir a uma grande empresa mas negou para reservar-se mais a leitura, escrever, passear e meditar.


Descoberto um problema no seu coração, foi operado de urgência numa clínica em Cleveland - Estados Unidos de América e em Julho de 1977, numa nova intervenção cirúrgica da vesícula morre em Salvador aos 57 anos.


Um mês depois seu corpo chegou a Lisboa os funcionários da Sociedade Central de Cervejas entupiu o trânsito na cidade, com as carrinhas de distribuição de refrigerantes, águas e cerveja, para se despedirem do antigo accionista da empresa.


Para um renomeado diplomata Angolano, foi o melhor industrial e melhor investidor que Angola teve, vestia-se de linho, usava calções e sandálias e nada de gravatas no seu dia-a-dia.