Luanda - O Ministério do Interior em Cabinda considera “legítima” a decisão das forças policiais locais, que proibiram, no passado sábado, 21, pela segunda vez consecutiva, a realização da “Conferência de Reflexão sobre a Paz em Cabinda”, co-organizado pela Omunga, alegadamente pelo facto de a organização não-governamental não ter cumprido “os pressupostos administrativos a nível do governo provincial que deveria autorizar a realização dessa actividade”.

Fonte: Isto É Notícia

“A Omunga é uma associação de outra província. Para vir fazer uma actividade deve dar conhecimento ao governo. Além disso, aparece associada à Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), que não tem qualquer legitimidade, porque não é legal”, declarou à Lusa o director do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior em Cabinda, Chala Gime.

 

Segundo o responsável, “as coisas ilegítimas não podem ser legitimadas, e por isso a polícia apareceu no local para impedir a realização da actividade”, reforçou, reiterando que “a organização não cumpriu as formalidades legais”.

 

Entretanto, Chala Gime não respondeu ao questionamento da Lusa quando lhe perguntado se tinha sido o Governo Provincial de Cabinda, liderado por Marcos Nhunga, a chamar a polícia ao local.

 

Um dos prelectores que assistiu à acção policial e foi inclusive proibido de aceder ao interior da unidade hoteleira que acolheria o evento, o reverendo Ntoni-a-Nzinga, disse, em declarações à DW África, “que não se pode falar de paz em Angola quando, em Cabinda, o povo vive reprimido e impedido de exercer a sua cidadania”.

 

“Angola ainda está em guerra, porque enquanto todo o espaço que chamamos de Angola não tiver a mesma liberdade de viver, falar e fazer como acontece em outros pontos do país, consideramos não existir a paz de que se fala”, afirmou.

 

“Estou bastante triste, primeiro porque não esperava isso, pois acreditava que em 2022 Angola seria um pouco diferente”, lamentou o reverendo Ntoni-a-Nzinga, desolado com a situação das liberdades em Cabinda e a situação do respeito pelos direitos humanos.

 

O coordenador da Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos, Alexandre Nkuanga Nsito, admitiu alguma frustração, visto que “as organizações se sentem bastante prejudicadas, porque é a segunda vez que tudo falha” e porque há custos implicados.

 

No passado, 21, as autoridades de Cabinda impediram a realização da ‘Conferência de Reflexão sobre a Paz em Cabinda’, sob alegação de que a actividade não poderia ter lugar por “ordens superiores”.

 

Testemunhas contaram que, quando os organizadores da actividade e prelectores — entre os quais se destaca o reverendo Daniel Ntoni-a-Nzinga e o Padre Celestino Epalanga — chegaram à unidade hoteleira, que haveria de acolher o evento, depararam-se com um forte aparato policial armado, que os informou, de forma lacónica mas peremptória, de que “a conferência não podia ter lugar, pois tinham recebido ordens superiores para a impedir”.