Lisboa - António Carlos Jorge, contava 28 anos de idade quando aconteceu o evento de “27 de maio de 1977”, em que duas facções do MPLA, se digladiaram, em Angola. Em quase todos os  livros ou publicações disponíveis, o seu nome aparece em relatos menos bom associando a sua imagem a actos de execução. A falecida investigadora Dalila Cabrita, autora do livro Purga em Angola, descreveu lhe como integrante do grupo que interrogou e executou Nito Alves, ao lado do antigo ministro da Defesa, Iko Carreira.

Fonte: Club-k.net

Já, Fernando Vumby, uma das vitimas do “27 de Maio” descreve – lhe nos seus escritos na internet, como “um dos mandões das cadeias políticas de Luanda uma espécie de diretor-geral promovido á moda atípica onde a cor da pele, familiarismo, amiguismo e padrinho na cozinha contou como vai contar sempre tudo indica, que frequentou as escolas dos serviços secretos cubanos”.

 

“Quando Carlos Jorge regressou de Cuba, se calhar fanatizado com o nome de algum seu professor das escolas da secreta cubana, gostava que lhe chamassem por Mariguelas -nome este que não pegou - acabando por ficar a ser mesmo mais conhecido por Kajó”, escreve Vumby que pertenceu a Contra Inteligência Militar mas teve depois de fugir do país por questões de segurança.

 

Vumby nunca foi maltratado por Carlos Jorge mas ouviu historias de amigos que foram “amarrados , escarrados na cara e obrigados a engolir a urina dos agentes mais sádicos que já conheci na minha vida”, na qual descreve-os pelos nomes “Osvaldo Inácio, Carlos Jorge , Pereira e outros tantos.

 

O sobrevivente agradece por não ter caído nas mãos destes carrascos que em nome do MPLA, contabilizaram luto nacional. “Foram momentos e situações tão únicas que transformam para sempre a minha vida , e todo o seu percurso que suscitam divagações de como teria sido aquele 27 de maio se tivesse o azar em ter caído para as mãos de um Carlos Jorge por exemplo ?”, questiona.

PARTICIPAÇÃO NA EXECUÇÃO DE NITO ALVES

No  livro, Purga em Angola, a historiadora Dalila faz a reconstituição da execução de Nito Alves que contou com a presença de Carlos Jorge “Cajó”.

 

“A indicação para o seu fuzilamento [Nito Alves] terá sido do presidente da República, embora na Fortaleza, onde estava, a ordem tenha sido dada por Iko Carreira, Henrique Santos (Onambwé) e Carlos Jorge. Nito não quis que lhe tapassem os olhos, pois queria ver os que o iam matar. O corpo foi varado por umas três dezenas de balas. E um dos chefes ainda lhe foi dar o tiro de misericórdia. O seu corpo foi atirado ao mar, com um peso”, lê-se na publicação.

 

“Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteia-no [a Costa Martins], batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Uma das vezes puseram-no numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Ainda cheirava a carne queimada”, conforme descreve Dalila na sua obra.

 

José Reis, um outro sobrevivente, deu a DW, há alguns anos o seu testemunho envolvendo o sujeito da historia: “Divagava eu pela noite, o quanto me era permitido, quando a redação foi bruscamente interrompida. O comando foi invadido por um dos mais temidos carrascos, Carlos Jorge, seguido de uma outra não menos sinistra personagem, figura escanzelada e algo corcovada, de cognome “Cansado”.

 

“Ficamos no “corredor da morte”. Aí, sob o tenebroso olhar de Carlos Jorge, fui ameaçado de morte por um agente pidesco da DISA chamado Inácio. Éramos 44 e sobramos 22”, conta José Fuso, sobrevivente, a DW.

 

“No dia seguinte (de 27 de Maio de 1977), as 19.00h, o responsável do cemitério da Mulemba (cemitério 14) esta a jantar com a família quando aparece um telefonema estranho”.

 

“O seu chefe de repartição Ordena-lhe que volte ao cemitério e aguarde. O cacimbo ensopa-lhe a roupa quando, de madrugada, param no portão dez carrinhas celulares. Carlos Jorge e Nelson Pinheiro (Pitoco), elementos da DISA, chefiam a expedição que estaciona junto a uma vala comum de 200 metros. Mal os prisioneiros se apeiam, soam rajadas das Kalachinov.”

 

“Alguns ainda têm tempo de gritar: Salvem-me que eu não fiz nada. Pitoco, chefe do pelotão de fuzilamento, atende rápido ao apelo das vítimas: Esse é perigoso, fica para mim. Um dos coveiros aplana a terra da vala com um tractor. Ainda se ouvem gemidos. O chefe do cemitério está aterrorizado e Pitoco avisa-o: Em Angola não pode haver uma contra-revolução, por isso, se falares, vais fazer companhia a estes”, lê-se no livro “Holocausto em Angola”, de Américo Cardoso Botelho, um engenheiro de profissão falecido em 2010, e que viveu três anos nas prisões da DISA, em Angola.