Luanda - A analista da consultora Control Risks que segue a economia de Angola disse esta sexta-feira à Lusa considerar que a ida para bolsa do Banco Angolano de Investimento (BAI) foi um sucesso, demonstrando o bom momento económico do país.

Fonte: Lusa

"A operação do BAI foi um sucesso, e reflete não apenas os esforços do Presidente da República, João Lourenço, em reformar o setor bancário, que até agora tem sido um sucesso, mas também o ambiente macroeconómico, que é francamente melhor", disse Marisa Lourenço, em declarações à Lusa, no seguimento da operação bolsista de quinta-feira.

 

"Há dois anos, previa-se que Angola ia seguir o caminho da Zâmbia, o primeiro 'default' [incumprimento financeiro] devido à covid em África, mas conseguiu não só evitar o pior, como até suplantar o parceiro regional Gana este ano, o que é também um feito imprevisto", apontou a analista.

 

O BAI foi a primeira entidade a inaugurar a bolsa de Luanda, juntando a negociação de ações às transações em dívida pública, e pode abrir a porta para os bancos Caixa Geral Angola e Millennium, antes de empresas públicas maiores, como a Sonangol ou a Endiama, seguirem o mesmo caminho, provavelmente mais perto de 2025, disse o presidente da bolsa, Walter Pacheco, na sessão oficial de inauguração das transações, na quinta-feira.

 

A ida para a bolsa do BAI explica-se por duas razões, disse Marisa Lourenço à Lusa, vincando que, "por um lado, é um momento oportuno depois do novo ciclo económico que o país conseguiu imprimir e, por outro lado, é um reflexo das reformas no setor financeiro".

 

Questionada sobre se será razoável esperar várias ofertas públicas de vendas de empresas privadas ou de outras privatizadas recentemente, Marisa Lourenço respondeu que isso depende do setor, mas não é uma inevitabilidade.

 

O interesse dos investidores estrangeiros, ainda assim, é real: "O apetite dos investidores é muito positivo, o que foi evidente não só nesta operação, mas também já tinha sido demonstrado pela venda de títulos de dívida pública no mercado internacional [Eurobond], que também teve mais procura que oferta", disse a analista.

 

Angola, salientou, "de alguma maneira é vista como uma aposta segura durante um tempo de turbulência na região; é de alto risco, mas não demasiado, e a recompensa é demasiado grande para ser ignorada".

 

Questionada sobre a possibilidade de privatização da Sonangol, a 'joia da coroa' do programa de privatizações, que prevê a privatização de 30% da petrolífera, Marisa Lourenço respondeu que o processo é complexo.

 

"Os ativos no setor petrolífero são atrativos de uma maneira geral, já que o setor é o sustentáculo da economia angolana, mas a Sonangol é afetada por preocupações sobre a limitada transparência, um legado da era de dos Santos, e dúvidas sobre o próprio empenho de João Lourenço na reforma da empresa, mas o interesse dos investidores em ativos financeiros deverá continuar forte caso haja outra ida para bolsa neste setor", concluiu.