Todos os angolanos colocaram pedras nos alicerces deste país, pelo que todos os angolanos merecem o seu pedaço de pão. Mas o pedaço de pão só chegará a todos se o país se desenvolver. Sem desenvolvimento, por mais generosas que sejam as intenções, o pão não chegará a todos. Portanto, a questão do “pão” é, sobretudo, uma questão de desenvolvimento.
Enumerar as dificuldades que Angola vive hoje, reclamar do muito que falta, é fácil. Qualquer angolano fará com facilidade uma lista de dezenas de carências que o país deveria ultrapassar. Mas definir as estratégias adequadas que Angola deve seguir para desatar os inúmeros nós que criam enormes dificuldades aos angolanos no seu dia-a- -dia e que lhes retiram felicidade, isto não é fácil. E mais difícil ainda será envolver todos no esforço colossal para a transição da situação actual para o futuro feliz que se deseja – e que se merece.
Para construir um futuro feliz, Angola precisa de desenhar soluções para o seu desenvolvimento, baseadas numa abordagem científica integral, Angola precisa de lideranças servidoras e autênticas e, por fim, mas não menos importante, Angola precisa da ajuda de Deus – Deus tal como cada um O concebe.
A situação que Angola vive hoje é extremamente complexa. Tudo está ligado com tudo numa rede global. Daí que, esforços avultados e bem- -intencionados podem ser anulados por efeitos laterais indesejáveis, resultantes da dinâmica da rede.
Basta pensar, por exemplo, na cidade de Luanda. Vistas as coisas de forma linear, o que se reclama são investimentos colossais em Luanda, no sentido de acomodar com boa qualidade de vida os cinco milhões de pessoas que se diz viverem actualmente na cidade. Mas quanto mais se investir em Luanda, mais pessoas serão atraídas para Luanda, mais investimento se tornará necessário para acomodar essas pessoas... mais caótica se tornará Luanda.
Com uma população de cerca de 15 milhões de habitantes, Angola não deve ter uma cidade com cinco milhões de habitantes, albergando um terço da população. Só se essa concentração se pagar com desordenamento do território e baixíssima qualidade de vida. A solução de futuro para Luanda passa pela redução da população, talvez para próximo de metade.
A solução para Luanda está fora de Luanda.
Se Angola não basear o seu desenvolvimento em soluções que tenham em conta a complexidade, estará a colocar um motor numa bicicleta.
E, como se sabe, nessas situações, tarde ou cedo a bicicleta parte. Falta-lhe estrutura.
Quanto às lideranças, elas têm de perceber que liderar é servir. Liderar não é uma questão de carisma, mas sim de carácter.
As instituições desenvolvem-se até ao nível do carácter de quem as lidera. Não haverá desenvolvimento harmonioso em Angola sem que os angolanos, mas principalmente os seus líderes, nas famílias, nas empresas, nas comunidades, e nas instituições cresçam na consciência. É preciso liderar as organizações, públicas e privadas, deslocando o interesse do eu (ego-cêntrico) ou do nosso grupo (grupo-cêntrico) para o todo (kosmo-cêntrico).
E isto exige também desenvolvimento no domínio espiritual. A espiritualidade é o sentimento de estar ligado com o Eu profundo, com os outros e com o universo inteiro. Como disse Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai a não ser através de mim”.
Na minha interpretação, o Eu é o amor infinito e o Pai a felicidade total.
Ter Angola no coração é ter o coração cheio de amor. Amor por todos os angolanos – mas mesmo todos. Amor por toda Angola, em toda a sua beleza.
Não basta saber para onde se quer ir. É preciso saber como lá chegar. O conhecimento, o carácter e o amor devem iluminar os caminhos de uma Angola feliz.
(*) Texto da Introdução do suplemento que será publicado amanhã no “Jornal de Angola”
Fonte: JA