Luanda - A Marcha que este sábado decorreu ao longo da Rua Ngola Kiluanje, em Luanda, rua que homenageia um herói angolano, mais do que números, representa para nós, as promotoras deste evento, um simbolismo com um alcance que atravessa o solo pátrio.

Fonte: Observem

É a partir de um significado multifacético na sua epistemologia que, nós promotoras do evento, o realizamos com o propósito de saudar as efemérides dos meses de maio e junho (Dia de África, Aniversário dos Acordos de Bicesse, Dia Internacional da Criança e Dia da Criança Africana, em simbologia do futuro) trazendo à reflexão a questão da paz e a responsabilidade de acção em África.


Esta África, nossa, é quantas vezes sentida com júbilo e com desencanto pelos seus filhos, qual paradoxo de um vector à liberdade, o côncavo e convexo de todas as lutas de consciência que se elevou a monumento da dignidade dos povos, mas incapaz de se debruçar sobre si mesma, num exercício gratificante para uma cidadania protectora dos direitos de todos e de cada um.


Há todo um caminho por percorrer pelos Estados africanos que se mostra cada vez mais actual e necessário fazê-lo para bem dos povos africanos, contexto em que nós mulheres, a maioria da população, devemos reafirmar os nossos sonhos humanos e responsabilidade social, porque pretendemos a afirmação da nossa identidade e mudança do estado de coisas que nos parece impossível de sustentação.


A riqueza do continente africano, em geral, e de Angola, em particular, precisa de ser profunda; Deve poder afirmar a dimensão cultural do desenvolvimento. Um desenvolvimento tributário da igualdade em dignidade e em oportunidade, por conseguinte catapultar homens e mulheres à mesma categoria de sujeitos da mesma universalidade, porque titulares dos mesmos direitos e deveres.


É assim que pensamos África, comprometida com o Ser Humano e com o seu bem-estar, uma categoria ameaçada de extinção entre os ideais da república e da democracia política que, aliás, segue a mesma sorte. Por isso, falamos de paradoxo e trazemos à colação o pensamento sobre a simbologia do futuro na criança, porque, efectivamente, ela é a recompensa da vida e, assim sendo, também é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança porque, a criança é uma escola que ainda precisa de ser estudada.


Perguntamos aos Partidos Políticos de Angola, num momento em que a pátria se prepara para as eleições gerais, como é que as crianças aparecem nos vossos programas. O que dizem os vossos programas sobre as crianças e sobre as mulheres?


Nós cá escutamos o canto da mulher, com a voz sufocada pelo grito na garganta querendo dizer: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”. Nós ouvimos o seu choro, “ quando o mundo inteiro está em silêncio” e aí “até uma voz se torna poderosa” e é grande a nitidez com que percebemos seus passos vagando pelos corredores do abismo batendo a porta:

-Vocês ouvem esta mãe bater a porta?
Ouvem esta mãe suplicar que quer ver seu filho
encarcerado nas masmorras da nossa utopia?
Vêm esta mulher lutar contra o medo para ser livre?
Vocês vêm a violência contra a mulher?
Ouvem esta mulher suplicando por paz?
Esta mulher carrega uma dor legítima e legítima é também a sua luta pela verdade e pela justiça, virtudes indispensáveis à soberania de um povo e à democracia, ó conceito tão escorregadio entre nós!


Defendemos que o futuro necessita de uma refundação do paradigma para nos comprometermos com a gestão da coisa pública; Com o interesse público com relação à nossa representatividade, é certo, mas também requer uma aliança profunda com todas as dimensões da paz.


Uma paz sustentável que não seja apenas ausência de guerra, mas pronúncio da génese e protecção de todos no âmbito das nossas conquistas, para o caso de Angola, baluarte de uma identidade que nos remeta para os propósitos da reconciliação nacional; Para a integração social almejada para que ao invocarmos a memória dos nossos antepassados possamos apelar “à sabedoria das lições da nossa história comum, das raízes seculares e das culturas que enriquecem a nossa unidade”.


Esta Marcha, companheiras e compatriotas, é internamente um marco para a divulgação da nossa existência e actividade, como um grupo que se dedica à observação dos direitos políticos da mulher. Daí a especificação da matéria eleitoral como um tema que lhe é propício para se fortalecer, uma vez que situado no âmbito dos direitos fundamentais permite vislumbrar o seu papel como sujeito eleitoral activo e passivo, ou seja, eleger e ser eleita.


O Observatório Eleitoral da Mulher, que usa o acrónimo OBSERVEM, é um órgão autónomo criado pelo Clube de Mulheres Angolanas de Carreiras Jurídicas, abreviadamente Clube das Juristas, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 3.º, alínea g), 5.º, nº2/d e 15.º dos seus Estatutos.


Nós existimos desde 2017 e pouco a pouco temos crescido em ambição, cientes da nossa responsabilidade social. Tal como a exortação épica da nossa Constituição, “Nós, Povo de Angola”, dizemos que também somos parte deste povo e nos sentimos responsáveis por uma participação activa e actuante como mulheres, para nos tornamos transmissoras de valores como a solidariedade, a fraternidade, a democracia pluralista, os ideais da república e do Estado de Direito Social, enfim!... Cidadãs deste lugar e do nosso tempo.


Luanda, 18 de junho de 2022

 

AS PROMOTORAS