Luanda - Foi Albert Heinstein que definiu a loucura como, parafraseando, a persistência nos mesmos comportamentos com a expectativa de obter resultados diferentes.

Fonte: Club-k.net

Em Angola, é recorrente vermos o desfile de inaugurações, que se avolumam de forma evidente antes (e até mesmo durante) o período eleitoral, assim como o lançamento mediático de “primeiras pedras” de obras cujos cronogramas são incógnitos. É habitual também o avolumar de denúncias sobre a corrupção eleitoral, patrocinada pela promiscuidade partidária e governamental, que de tão flagrante até passa desapercebida pelos perpetradores. Como mencionou Daniel Oliveira no seu artigo do Jornal Expresso, “Um dos sinais do privilégio absoluto é a total ignorância desse privilégio”.



São persistentes as contestações sobre a figura que lidera a CNE, sobre as entidades por si contratadas, particularmente no fornecimento de soluções informáticas e logísticas, assim como sobre alguns dos processos escolhidos na preparação e apuramento do processo de votação.


Estes são alguns dos vários exemplos possíveis (dos quais, ao menos alguns de nós, estamos sinceramente fartos e honestamente cansados de ouvir) da persistência de comportamento que verificamos, particularmente durante o período pré e eleitoral no nosso país. Uma persistência que talvez seja a base da crença da manutenção dos resultados obtidos até agora; a base de uma certeza inabalável na continuidade do estado das coisas.

Mas a realidade é que, como já alguém disse, a única constante na vida é a mudança, e a própria realidade muda. Por mais que insistamos na nossas elucubrações sobre a nossa realidade e a realidade circundante, mais cedo ou mais tarde, a realidade de facto cobra a factura, e geralmente com juros (como já temos estado a sentir).

Hoje, pela primeira vez, temos uma juventude que não está necessariamente (ao menos, directamente) traumatizada pelo flagelo da guerra. Temos pela primeira vez uma frente única a congregar a “oposição credível”, a sociedade civil e todas as partes ávidas pela alternância política. Também hoje, talvez pela primeira vez, temos uma liderança governamental e partidária notoriamente inábil a encontrar soluções, tendo como marca registrada a truculência nas respostas às questões internas (partido e governo) e externas (oposição, igreja e sociedade civil). Temos pela primeira vez um presidente do partido no poder sem trunfos como o alcance da independência nacional ou a conquista e manutenção da paz, e cuja mascote da sua eleição perdeu fôlego logo ao arranque, tendo sucumbido à exaustão e transvertida numa vendeta “daqueles que podem”, seguindo o exemplo do próprio chefe.

Estes são também apenas algumas das muitas novidades que temos estado a verificar na nossa realidade. Novidades que alimentam a esperança de uns, e despertam receios em outros. Novidades que certamente desafiam o “status quo” e que se vão digladiar com as constantes em que estamos mergulhados (apresentadas acima e todas as outras).

Neste cenário onde, não obstante as atipicidades habituais do nosso país, é normal haver alguma polarização em torno das forças políticas concorrentes, vemos o avolumar do discurso agressivo durante os pronunciamentos oficias daqueles que se propõem representar o povo. No mesmo embalo mas em direcção contrária, vemos também manifestações inéditas do descontentamento de várias franjas deste mesmo povo, saindo da rendição usual às condições de subsistência cada vez mais degradadas, decidindo dar cada vez mais voz às suas frustrações impostas. Por esta altura, é imperioso o encontro destas duas realidades opostas, para que se evite um descalabro desastroso da já não tão sólida estabilidade social. No caso, a responsabilidade de assegurar este encontro recai sobre os que pretendem renovar a liderança ou assumir os destinos do país, e para tal, recomenda-se que, ao invés de continuarem a tentar determinar e impor os termos do hipotético encontro, os mesmos tenham a humildade para perceber que na realidade, nessa negociação, o povo é que está em posição de poder. A recomendação final é de se reconhecer inequivocamente esse poder, e legitima-lo durante as eleições que se avizinham, por intermédio de um processo justo e transparente, absolutamente conforme e, acima de tudo, que garanta de facto que seja feita a vontade do soberano!

Feliciano Amado