Luanda - Começamos um novo ciclo governativo e com ele novas esperanças, espectativas sobre quais devem ser as prioridades do governo. Alguns especialistas dizem que deverá ser a luta contra a corrupção, outros apostam na saúde, outros ainda na educação e agricultura. Sem discordar, eu gostaria de acrescer o meu ponto de vista sobre o que acredito ser a prioridade neste momento.

Fonte: Club-k.net

Somos um país com uma população maioritariamente jovem, de acordo ao site Statista 67,46% dos angolanos vivem maioritariamente nas cidades. As espectativas desta maioria diferentemente da minoria que vive nos campos é conseguir realizar os seus sonhos de formação, emprego, casa própria ou seja qualidade de vida.


Estudos publicados também pelo site statísta e baseados no índice de viveabilidade que determina e compara variáveis sobre a qualidade de vida nas cidades e elaborados pelo “The Economist” refere-se a cinco elementos essenciais para analisar a qualidade de vida nas cidades: infra-estruturas, cuidados de saúde, cultura e ambiente, educação e estabilidade.


A maior parte das nossas cidades infelizmente tiveram um crescimento desordenado, resultante de alguma falta de autoridade das administrações locais e, por este motivo o povo construiu as “suas cidades”e, a garantia de uma melhor distribuição de serviços de saúde, cultura, educação e ambiente e estabilidade depende da qualidade urbanística das cidades onde estes serviços devem ser edificados.


De acordo ao PDGML, em 2015 Luanda tinha cerca de 49% do espaço urbano constituído por musseques. Os bairros cresceram carentes de todo o tipo de serviços e infra-estruturas. Tomar banho de chuveiro, andar na rua no período nocturno de forma segura, sair de casa em períodos chuvosos e em segurança para muitos cidadãos em Angola ainda é uma Quimera.


Especialistas angolanos em saúde pública dizem que 80% das doenças e 60% das mortes em Angola são devido a deficiência de saneamento básico. Os registos de índices urbanos apontam que 25% a 50% das pessoas em Angola não tem acesso aos serviços básicos de saneamento. Dados do ministério da saúde- MINSA de 2015 a 2016 informam que a prevalência da malária, uma das maiores causas de morte foi de 22% nas zonas rurais e 8% em zonas urbanas.

Por aqui é possível ver que maior aposta para um país maioritariamente jovem deveria ser a causa e não o efeito da taxa de mortalidades. Deveria ser a melhoria das condições de infra-estruturas urbanas e não o aumento de hospitais por exemplo como “maior” prioridade do governo.

Em países com baixo índices de saneamento básico: sem água potável, recolha de lixo ineficiente e sem drenagem de águas negras, só é possível mudar o paradigma da redução das doenças, desigualdades sociais, dificuldades mobilidade urbana, escassez de empregos e serviços com a requalificação dos espaços urbanos.

A indignação de muitos jovens angolanos conectados a um mundo cada vez mais globalizado, vivendo a utopia dos bairros com escolas, hospitais, água canalisada, esgotos públicos, energia eléctrica, espaços de lazer, desporto e segurança pública nos musseques, faz com que procurem refugiar-se cada vez mais no exterior do país, fugindo do inexistente sonho Angolano.

A carência de infra-estruturas (estradas, água, energia, drenagem, telecomunicações) nas nossas cidades condicionam a missão do estado de garantir a melhor distribuição e construção dos equipamentos necessários.

O caos urbano aumenta consideravelmente ano após ano e o pequeno esforço do governo de dotar os musseques de infra-estruturas têm sido exíguos, não conseguem acompanhar o crescimento vertiginoso destes espaços assim como a insatisfação dos que aí vivem a cada período de chuvas, a cada assalto, a cada dificuldade de chegar a casa após um dia de trabalho.

Só será possível melhorar a qualidade de vida da maior parte dos cidadãos nas cidades se os musseques onde habitam a maior parte dos Angolanos tiverem as mesmas condições de infra-estruturais e serviços dos habitantes de Talatona, cidade do Kilamba ou Luanda, para exemplificar.

A melhoria das infra-estruturas permitirá ao estado a melhor controlo dos cidadãos, melhor ambiente de negócio e surgimento de novas empresas e serviços. Permitirá ainda uma melhor cobrança dos serviços do estado aos cidadãos tais como água, energia, impostos e segurança pela polícia, ou seja, e teremos melhor ordenamento do território.

É reconhecido em África que Angola deu um grande salto do ponto de vista urbanístico com a construção das “centralidades”, mas esta fórmula que serviu num determinado período do nosso país, não beneficiou nem resolveu o problema de milhares de cidadãos que vivem nos musseques do país.


O desafio do governo que agora inicia nos próximos 5 anos, deverá ser uma revolução urbanística. Encontrar soluções arrojadas para a requalificação dos musseques que continuam a crescer desorganizados, dotando-os de infra-estruturas e permitindo assim maior esperança de uma vida melhor aos que aí vivem.

Para isso, os líderes precisam descer do alto dos seus condomínios e voltar-se para os musseques e o povo pois, só assim é possível resolver os problemas do povo e tornar possível o sonho adiado de viver Angola e o orgulho de ser angolano.

By Luís Cunha