Luanda - Analista Carlos Rosado afirma que apesar do volume das dívidas com a China não se consegue ver aonde é que o dinheiro foi aplicado, e que é preciso encontrar outras fontes de financiamento.

Fonte: DW África

Angola é o país africano que mais recebeuempréstimos da China nos últimos 20 anos, de acordo com os dados da Chatham House – Instituto Real dos Assuntos Internacionais do Reino Unido.

Em entrevista á DW África o economista Carlos Rosado afirma que Angola sempre dependeu e vai depender da China, e diz que apesar do volume das dívidas, não se consegue ver aonde é que o dinheiro foi aplicado. O Analista alerta ainda que o Governo angolano precisa encontrar outras fontes de financiamento e outras garantias de pagamento que não seja o petróleo.


DW África: Porquê que o estado angolano não acautelou a acumulação dedívidas durante todos esses anos?

Carlos Rosado (CR): Sabe se que desde há muito Angola depende da China para financiamentos. O primeiro empréstimo foi em 2004, Angola recorreu-se á China porque não aceitou as condições que eram impostas por outros financiadores, nomeadamente do Clube de Paris. A China tendo uma política de não ingerência nos assuntos internos dos outros países, tem concedido empréstimos sem fazer muitas exigências. No caso de Angola, foi um casamento perfeito porque de um lado tinha um país que precisava de dinheiro a título de empréstimo e tinha petróleo como garantia, e do outro a China que tinha dinheiro para emprestar e precisava de petróleo.


DW África: Mas neste casamento Angola terminou solteira. Endivida, chegando a dever mais à China do que a Etiópia, Zâmbia e Quénia juntos. Até que ponto essas dívidas são sustentáveis?

CR: As dívidas não devem ser diabolizadas, o problema é que não se vê aonde é que o dinheiro foi aplicado. Esta é a grande questão, naturalmente que todos os países contraem dívidas para investimentosem infraestruturas e projetos de desenvolvimento, mas no final tem resultado. Em Angola apesar do volume dos empréstimos, que ronda os 50 mil milhões de dólares em vinte anos, fica ainda em questão como foi aproveitado esses valores. Alias sabe-se que boa parte do dinheiro proveniente desses empréstimos foi desviado. Uma das grandes apreensões feita no âmbito do combate á corrupção tem justamente a ver com negócios com a China, onde o é Angola quem pede o dinheiro emprestado, mas os benefícios acabam por parar nas mãos de privados. Angola ficou prejudicada porque não aproveitou bem o dinheiro, ficou apenas com dívidas. Estamos numa fase em que é preciso o estado angolano diversificar as suas fontes de financiamento e ser menos dependente da China.


DW África: Um dos propósitos do segundo mandato de João Lourenço, é tentar o pagamento ou alíviodas dívidas, acha que é possível o estado não se endividar ainda mais?

CR: Presumo que Angola vai continuar a endividar-se junto à China. Vai continuar a precisar de financiamento, e uma das alternativas é a China. Muito embora penso que deve mudar de estratégia e tentar não contrair dívidas em troca de petróleo. Resta saber se a China vai continuar a conceder empréstimos mesmo não tendo o ouro negro como garantia. Mas acho que também é chegada a hora de Angola diversificar os seus financiadores.