Luanda - Um dos homens-fortes da Sonangol no tempo em que a petrolífera estatal angolana era controlada por Manuel Vicente encomendou uma estrutura offshore nas Ilhas Caimão para esconder vários milhões de euros captados por uma dezena de contas bancárias em meia dúzia de países, incluindo Portugal e Macau.


Fonte: Expresso

O esquema foi montado em 2018, já depois de Vicente deixar o serviço de vice-presidente de Angola, de acordo com um conjunto de documentos obtidos pelo Expresso. Orlando José Afonso foi presidente da SONIP, a empresa de investimentos imobiliários da Sonangol, até 2016, quando Isabel dos Santos tomou posse como CEO da petrolífera estatal angolana.

Atualmente com 66 anos, este gestor estava na Sonangol desde 1994 e foi um colaborador próximo de Vicente, o histórico CEO da petrolífera que se tornou o número dois do Presidente José Eduardo dos Santos em 2012.

Documentos internos de uma empresa que fornece serviços de incorporação e gestão de estruturas offshore nas Ilhas Caimão, a Genesis Trust & Corporate Services, provam que o esquema de ocultação foi recomendado em fevereiro de 2018 por um escritório de advogados em Dubai.

Referido a maioria das vezes na correspondência apenas pelas iniciais do seu nome, OJV, Orlando José Veloso foi identificado como um cliente PEP, isto é, uma pessoa politicamente exposta. A Genesis criou para o ex-gestor da Sonangol um trust nas Ilhas Caimão, o Purple Rose Star Trust.

Esta estrutura passou a controlar um conjunto  de sete companhias offshore espalhadas por diversas jurisdições que, por sua vez, eram titulares de contas bancárias e investimentos imobiliários em vários pontos do mundo. Na lista de ativos está uma conta no Deutsche Bank em Portugal, detida através de uma companhia chamada Allian- ce Resources and Parkman, e duas contas em Macau: uma conta no Millennium BCP e outra no ICBC (Industrial and Commercial Bank of China).

Há também contas bancárias no NBD no Dubai, no Bank of Cyprus, no Zarattini Bank na Suíça e no Bank of China. Em 2019, dois artigos do jornalista Rafael Marques publicados no site de investigação “Maka Angola” expuseram o modo como Orlando Veloso se tornou sócio de Manuel Vicente e de Francisco de Lemos José Maria (o sucessor de Vicente na Sonangol) numa empresa privada criada em 2004, a Rivers- tone Oaks Corporation (ROC), que beneficiou de centenas de milhões de euros atribuídos pela petrolífera estatal em con- tratos imobiliários. Além de ser beneficiário da empresa, Orlando Veloso acabou por se tornar o seu CEO em 2016.

Entre os negócios atribuídos pela Sonangol à ROC esteve um contrato assinado em 2007 para a construção de um condomínio residencial no bairro da Talatona, em Luanda, em que a estatal petrolífera pagou mais de 260 milhões de dólares por um conjunto de 109 casas com uma piscina e um centro comunitário. Segundo o “Maka Angola”, entre 2006 e 2010 a Sonangol também pagou 170 milhões de dólares à ROC para construir uma escola, o Instituto Superior de Tecnologias e Ciências. E em 2009, entregou a uma subordinada patroa empresa privada a exploração de um hotel de cinco estrelas, o Hotel de Convenções Talatona.