Luanda - O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, anunciou, esta quarta-feira (25.01), que Angola e Rússia realizarão, em abril, em Luanda, uma reunião da comissão intergovernamental mista para o reforço e alargamento da cooperação nos domínios das telecomunicações, minas, energias, indústria espacial e agroindústria.

Fonte: DW

Lavrov, que falava aos jornalistas no final das conversações entre as delegações angolana e russa, sinalizou as relações históricas e de amizade com Angola e recordou a cooperação já existente no domínio económico, técnico militar e humanitário. Na mesma ocasião, o ministro russo anunciou que o seu país vai acolher em finais de julho próximo uma cimeira Rússia/África e destacou o papel do Presidente angolano para a paz no continente africano. A Rússia "apoia os esforços da União Africana, da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) e o esforço de Angola, inclusive o esforço pessoal do Presidente João Lourenço, no sentido da pacificação de África".

"E o Presidente Lourenço está a desempenhar um papel de particular importância na presidência da Conferência Internacional sobre Região dos Grandes Lagos", frisou. Serguei Lavrov deu conta que a próxima cimeira Rússia/África vai decorrer em São Petersburgo, realçando que a Rússia nas Nações Unidas vai "continuar a apoiar" as posições defendidas pelos próprios africanos no sentido de se encontrar soluções aos conflitos.

"As nossas posições desde o princípio sobre a cooperação no domínio internacional coincidem, nós defendemos os grandes princípios da ONU, nomeadamente o princípio da não-ingerência nos assuntos internos de cada Estado e da igualdade soberana dos Estados", disse.

Em declarações à imprensa, Serguei Lavrov fez uma comparação entre o conflito na Ucrânia e a guerra em Angola. Em causa, explicou o ministro russo num encontro com o seu homólogo angolano, Téte António, está o facto de Kiev estar a prejudicar os russófonos do país, levando Moscovo a ter de intervir para proteger essa parte da população.

"O mesmo conflito baseado na vontade da população de defender os seus direitos deflagrou na Ucrânia depois do golpe inconstitucional, depois do golpe de Estado militar e sangrento chegaram ao poder os nazis, neonazis declarados inclusive que apelavam a matar os russos, os judeus, os polacos", disse Serguei Lavrov, numa referência à deposição, em 2014, do Presidente eleito, Viktor Yanukovytch.

Na ocasião, a Rússia ocupou a península da Crimeia e o leste da Ucrânia, um conflito que continuou em fevereiro 2022 com uma invasão russa do resto do país, classificada por Moscovo como uma operação especial.

Lavrov disse que Rússia tentou por vários meios acabar com esse conflito, mas apesar disso o regime de Kiev optou pela deflagração deste conflito, proibindo a língua e cultura russas e convidando os que associam a ela a abandonar o país."

"O Ocidente não reagiu as essas declarações racistas e colonialistas. Mais ainda, os EUA e seus aliados fizeram tudo para cultivar esse ódio e transformar a Ucrânia numa praça de armas tendo objetivo de colocar lá bases militares e criar ameaça a toda a região", disse Lavrov.

O "objetivo declarado" dessa estratégia era "envolver e atrair a Ucrânia para a NATO", afirmou, recordando o apoio da então União Soviética ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) na sua guerra contra Portugal e depois na guerra civil, contra a União para a Independência Total de Angola (UNITA), apoiada pelos Estados Unidos e pelo regime do 'apartheid' da África do Sul.

"O povo angolano sabe bem qual é o preço da independência, qual o preço do livre exercício dos direitos tradicionais dos direitos de cada angolano e, da mesma maneira, Angola participa (agora) ativamente no esforço do estabelecimento da paz noutros países para segurança, paz e prosperidade nesses países", vincou, fazendo uma comparação entre os dois conflitos.

As relações entre Moscovo e o partido no poder em Angola têm as relações que "remontam a longos anos atrás, ao período da guerra da libertação", realçando o objetivo de chegar a uma parceria estratégica entre os dois países.