Luanda - Há coisas que não se dizem, mesmo a brincar, pois, não se deve brincar com coisas sérias. Quem diz, de boca cheia e sem pestanejar, que o Sulano é confusionista está a brincar com coisas muito sérias.

Fonte: Club-k.net

Esta banalização de tudo e todos deveria ter um limite. É sabido que, no nosso país, os valores foram invertidos: - o rótulo vale mais do que o conteúdo; - os extravagantes, os preconceituosos – aqueles que usam cremes para clarear a pele, porque acham que a pele negra é inferior à branca - black Not - são os que alcançam à fama e ao dinheiro fácil. Tanto que, a futilidade é promovida com muita facilidade, em detrimento da ciência e da educação.


Como, para nós, a prioridade nos mídias é o entretenimento; imitar programas brasileiros que não ajudam em nada na formação da nossa juventude; copiar novelas que não são a realidade da maioria da nossa população - vemos a tal inversão de valores, em que a corrida à fama é premiada pela televisão e pela rádio, oferecendo aos famosos tempo de antena quando eles bem entendem; são convidados para espetáculos e contratados para publicidade - e recebem “bom cachê”. Por isso, acham que podem fazer e desfazer. Falar e insultar. Têm o descaramento de abusar a cara de um povo humilde e inteligente. Se bem que, para mim, esta boca de que os sulanos são CONFUSIONISTAS não é nova. Apenas mudou de articulista. Já ouvimos isso, dito da pior maneira - no Parlamento angolano. Até hoje, ninguém ouviu alguma reprovação pública. Daí achar ser perda de tempo tentar condenar essa nova boca tribalista contra um povo que representa mais de 40 por cento da população angolana. Por outra, verdade seja dita: quando eles dizem sulanos, querem dizer bailundos, e quando dizem bailundos, querem associar a uma força política. Essa é a verdade. A outra verdade é a de que apenas pessoas desaculturadas e com pouca-educação( coitados dos pais que ensinam, mas os filhos não acatam) - acham que o local de nascimento serve de diferencial... E isto, quando vindo da boca de “pessoas-públicas” tem de ser duramente reprovado, antes que achem que isto é normal.

Infelizmente, os nossos famosos não usam as suas influências para promover a cultura nacional, nomeadamente, as línguas nativas. Coitados! Olhemos para os músicos moçambicanos – eles cantam, sem preconceitos, nas suas línguas locais: Emakhuwa, Xitsonga, Cishona, Cinyanja, Xironga, Shimaconde, Cinyungue, Bitonga, Kiswahili, etc.


Os cabo-verdianos fazem a mesma coisa, cantam em crioulo. E nós, os desaculturados, sentimo-nos vaidosos a cantar na língua colonial. Os poucos que vão cantando em umbundu, cokwe, ibinda, kikongo, kimbundu - dificilmente, são tidos em conta. Quem não se lembra de músicas como: dos Tunjila twa jokota, Sassa-cokwe, Socorro, Jacinto Tchipa, entre outros! Quase todos eles pairaram na desgraça. Por quê?


Ora bem, como o que está na moda é a desaculturação, é a globalização, muitos perderam a vergonha e procuram, de forma rasteira, atirar areia aos olhos dos povos que ainda vão mantendo a sua identidade cultural.

Esse episódio de C4 Pedro deve parar mesmo por aí, ou melhor, é preferível concluir que tudo não passou de um deslize. E se assim for, ele merece algum desconto, porque tem uma grande Mãe.

Luanda, 25 de Janeiro de 2023

Gerson Prata