Luanda - A nossa sociedade começa a emitir sinais claros de afronta a valores morais importantes (seja onde for), numa luta para a construção de um país equilibrado do ponto de vista comportamental. Invertemos conceitos e prioridades, levantando bandeiras para defender o errado, geralmente por mero capricho e em nome de uma  estranha solidariedade, ainda que em causa esteja um crime hediondo, acabando a vítima por ser marginalizada. Um exemplo prático é o caso do jornalista David Diogo, condenado recentemente, na primeira instância, a cinco anos de prisão e ao pagamento de uma indemnização de seis milhões de kwanzas pelo crime de estupro.

Fonte: O Crime

A vítima deste crime, ocorrido em 2020, é uma menor de 17 anos. O jornalista da Zimbo (só) foi julgado três anos depois, provavelmente pela sua influência, depois de, como se sabe, muito “jogo de cintura” para se abafar o caso. Por estar em causa um jornalista, a maioria dos órgãos de comunicação social do país não reportou o caso, negando voz àquela jovem que clamava por justiça. A própria TV Zimbo, que até tem um dos programas com maior audiência do país, seguramente por abordar matérias de crimes e injustiça social, optou pelo silêncio. Sem surpresa,  diga-se de passagem.


Pior é que nem sequer suspendeu o seu colaborador, acusado de ter cometido um dos crimes mais condenáveis no mundo.


Deu o rosto no principal serviço noticioso, num sinal de pouca vergonha, que manchou a
imagem daquela estação. Verificou-se também um “silêncio ensurdecedor” entre os órgãos que dizem ser reguladores do exercício do jornalismo, arrastando-se até à condenação na primeira instância. Após a denúncia, o pai da menina e o advogado de assistência, como retrata a matéria que trazemos nesta edição, foram inicialmente aliciados e, mais tarde, ameaçados no sentido de desistirem do processo.

 

No Serviço de Investigação Criminal, houve quem tentasse arquivar o processo, querendo beneficiar um criminoso.


Os mesmos hipócritas e moralistas sem moral são os que surgiram a criticar a solidariedade existente, na polícia, com o caso de tráfico de droga em que está envolvido Fernando Receado, antigo director do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda, acusado pelo marginal Eugénio Quintas ‘Man Gena’ de ser o protector dos traficantes em Angola. A Fernando Receado, nada aconteceu, ou melhor, foi promovido a segundo director-geral do SIC.


Quando se podia apelar para solidariedade, ninguém ou quase ninguém se manifestou no caso da cidadã de 42 anos de idade que morreu, no Hospital Geral de Luanda, por falta de assistência médica.

Num país sério, solidário no verdadeiro sentido, até a ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, perderia o lugar. Mas, infelizmente, estamos em Angola, onde as coisas banais têm mais importância do que a vida de um ser humano ou a honra de uma menina.


Quando marginalizamos as causas dos jovens Luther Campos e Tanaice, banalizamos casos como a cidadã que morreu por falta de assistência médica, ignoramos denúncias de envolvimento de altas figuras do MININT no tráfico de drogas, mas simplesmente nos solidarizamos com um marmanjo de 53 anos que estuprou uma menor de 17 anos. É, claramente, vergonhoso e urge a necessidade de revermos os nossos valores.


Este jornal sofreu e sofre várias críticas por abordar o caso de forma imparcial e desapaixonada que envolve um ‘colega’.


Aqui, temos dito, não olhamos a estatutos, temos em conta o direito à informação, lutamos contra as injustiças sociais. Neste órgão de comunicação social, nenhum assassino, violador, estuprador ou corrupto terá a nossa solidariedade. Seja ele quem for.