Luanda - O 57ºaniversario da UNITA voltou a passar praticamente sem referência na imprensa pública, o que representa a continuação de um erro estratégico das lideranças editoriais dos principais órgãos do país, que em última instância, beneficia o líder da UNITA.

Fonte: JA

Como se sabe, no período eleitoral a imprensa foi a principal promotora da imagem de Adalberto Costa Junior, (ACJ) já que, ao silenciar as notícias e entrevistas sobre ele acabou por promove-lo à condição de "mártir do regime” e por dar credibilidade ao seu discurso de vitimização.

 

Se nem mesmo no aniversário da UNITA, ele é entrevistado e o seu discurso amplamente divulgado, a imprensa continua a não permitir que o cidadão comum tenha uma opinião formada sobre o desempenho do líder da oposição e, ao mesmo tempo, não alcança a dimensão das mudanças que se estão a operar na abertura editorial da imprensa pública.

 

É graças a essa estranha "cooperação” da midia que o cidadão não tem como verificar que, apesar dos últimos resultados eleitorais, a postura política e modo de estar da UNITA e seu líder não mudaram muito. Adalberto Costa Júnior, sobretudo ele, continua numa lógica de bota abaixo, com um discurso pessimista que critica tudo, como se estivesse em permanente campanha eleitoral. Nas suas entrevistas e discursos, o líder da oposição angolana nada mais faz do que repetir as mesmas críticas ao Governo sobre a saúde, educação, economia e toda a situação no país. É uma linha narrativa que acentua, e muito, a tendência da UNITA para um oposicionismo destrutivo, e também do posicionamento (não ideológico, mas de cariz pessoal e moral) do "nós contra eles" a qualquer preço. Estamos a caminho do primeiro aniversário da realização das últimas eleições e é preocupante que o maior partido da oposição continue exactamente com o mesmo discurso fracturante e polarizante da disputa eleitoral. Mesmo que nem tudo seja assim nos bastidores, sobretudo pelo modo cooperante como alguns deputados da oposição actuam nas comissões parlamentares, o discurso público da UNITA não é de um partido que pretende um dia assumir responsabilidades governativas e terá também de ter forças policiais e de segurança, enfrentar greves e conviver com problemas sociais de diverso tipo. A estratégia de desconsideração pessoal e moral dos adversários e a permanente listagem dos problemas do país acaba por actuar contra a própria UNITA, na medida em que os cidadãos se mostram cansados desse diagnóstico e querem soluções, saídas e alternativas. Pior do que isso, essa estratégia acentua o desânimo dos cidadãos e cria na vida política angolana um permanente clima de irritação e agressividade no debate político, onde facilmente os actores, eles próprios ou por terceiras pessoas, se envolvem no insulto pessoal.

 

A polarização e o insulto nas redes sociais em relação aos adversários políticos, sobretudo da UNITA para o MPLA e vice-versa, é no fundo consequência dessa estratégia de permanente desconsideração dos outros e crítica de tudo e de todos que estejam na acçao governativa.

 

A julgar pelos discursos de ACJ, existem poucos patriotas no partido no poder e na governação e todas as medidas, projectos e propostas são meros expedientes para protagonizarem mais corrupção, menos reconciliação e menos democraticidade do país. Foi essa, curiosamente, a estratégia narcisista que tem conduzido às sucessivas reduções do número de votantes no MPLA, que se arrogava ao direito de ser o único representante da vontade do povo e, por isso desvalorizava a contribuição dos restantes angolanos que não fossem seus militantes. A ideia maniqueísta da sociedade entre o "nós ou eles” não abre, na verdade, uma perspectiva moderna e plural para o país, já que corremos o risco de uma eventual mudança representar apenas uma alteração de factores para a continuação das mesmas práticas de marginalização do outro, desta feita com gestão da UNITA.

 

Ora, se um dia a UNITA quiser realmente ganhar eleições, tem de abandonar a sua ideia pessimista sobre o país e dar mostras de esperança e optimismo, quanto mais não seja no seu próprio projecto político. Como oposição, não se espera obviamente que saia por aí a elogiar o que está errado na governação, mas também não é admissível que um partido com as suas responsabilidades se transforme num catalisador do negativismo- e de um movimento desmobilizador do crescimento do país.

 

Uma oposição séria e responsável não pode viver na tentativa de agradar a grande multidão de cidadãos que acredita que uma verdadeira oposição deve ser feita à base do grito em comícios, do insulto pessoal na midia e da rejeição de tudo o que venha do Governo. Uma oposição construtiva tem de ter capacidade para liderar as críticas que devem ser feitas para melhorar a qualidade da governação, mas também de criar novas iniciativas, ideias alternativas para que o país (sem "más ideias” do MPLA) tenha capacidade para discutir matérias realmente importantes para o presente e sobretudo para o futuro. Com 90 deputados, a UNITA tem responsabilidade política suficiente para desenvolver uma agenda própria, sem andar a reboque do governo ou do MPLA e criar uma relação com a sociedade que não passe pelo que MPLA faz ou deixa de fazer. Infelizmente, as repetidas críticas ao estado geral do país, impedem os cidadãos de ver a grande incógnita que é a nossa oposição que, em sector nenhum consegue apresentar iniciativas próprias, alternativas e uma atitude positiva de construção do país.

 

Apesar de ter aumentado a sua importância no sistema político nacional, a UNITA ainda não conseguiu assumir-se como uma oposição construtiva, nem conseguiu ainda libertar-se da visão eleitoralista para a tomada do poder, apesar de ter quase cinco anos pela frente. Uma oposição construtiva define projectos de médio e longo prazo em benefício do país, mesmo que isso possa aparentar favorecer o governo. É exactamente nisso que se consolida a ideia de partido com visão de Estado, sério e responsável, que é, contas feitas, o que os eleitores escolhem quando vão a votos entregar a governação do país.

 

Se a UNITA quiser realmente chegar ao poder em 2027 terá de se afastar do fanatismo e da irresponsabilidade de muitos que falam em seu nome, assim como deixar de induzir aos cidadãos à falsa ideia de que os graves problemas sociais e económicos do país são de fácil solução ou apenas dependentes da alternância na governação.