Luanda - Parece inacreditável e surreal levantando entre nós um coro de contestação e de incredulidade nas redes sociais e em diferentes círculos, pois tal ocorre dentro duma esquadra, portanto, num espaço onde era suposto qualquer cidadão encontrar a maior segurança do mundo, mas não foi esse o caso.

Fonte: JA

O que ouvimos da vítima é estarrecedor e faz-nos reavaliar o nosso discurso e a nossa matéria de protecção dos direitos das mulheres. O nosso discurso não se pode limitar ao empoderamento e à mera emancipação na liderança política. Precisamos que isso se reflicta no nosso quotidiano pessoal, familiar, comunitário e institucional. E fica então evidente a larga estrada que há a percorrer.

 

É claro também que um assunto dessa natureza merece uma maior condenação pública e responsabilização das instâncias da corporação policial, que não podendo ser posta em causa não deve tolerar essa postura no seu seio. Disso infiro que não pode ser imputado apenas ao agente infrator, ou melhor, ao delinquente estuprador fardado de polícia. A responsabilidade maior deve ser inculcada às lideranças no sentido de reverem um conjunto de procedimentos da prática policial, até aos critérios do recrutamento. Mais do que isso, é importante revisitar a estrutura e procedimentos para que os cidadãos consigam encontrar segurança nas esquadras e estes indivíduos sejam facilmente identificados, evitando-se assim males maiores.

 

De nada nos vale pregarmos aos quatro ventos que temos a situação sob controlo. Não nos bastam os discursos. É importante que essa percepção de segurança seja do cidadão e infelizmente não é assim que se passa pois temos frequentemente crimes e incidentes graves que nos colocam muitas pulgas atrás da orelha. E essa preocupação é tanto maior por causa do custo que estes efectivos representam para o Estado. Dir-me-ão alguns que poderiam ser mais elevados, mas esquecemo-nos, muitas vezes, que a magia dos bons gestores vê-se na forma como gerem o pouco. E nessa matéria, infelizmente, não temos lições para ensinar, o que resulta então nas limitações humanas e materiais que se vêem, não obstante os largos investimentos que são feitos.

 

A sensação de violência e da criminalidade é preocupante quando ouvimos notícias de recolher obrigatório em alguns bairros, quando vemos as senhoras em pânico, no trânsito, quando se cruzam com motoqueiros ou ainda a preocupação que algumas pessoas evidenciam das caminhadas na Marginal de Luanda em certas horas.

 

Mas o que me parece inaceitável é que estejamos a ver essa violência a entrar também para os recintos escolares. Foi assim com as meninas de Benguela; de lá também veio o caso dos rapazes que agrediram o segurança da escola; agora, somos confrontados com as cenas de pancadaria no IMEL. Não podemos ficar impávidos. Em primeiro lugar, temos de perceber as causas porque estes casos mediatizados podem ser apenas a ponta do icebergue; por outro lado, será importante percebemos o que se passa para dosearmos as soluções. O que passa sempre pela família pois estas querem passar para a escola a responsabilidade de educar os seus / nossos filhos.

 

Por outro lado, a "pegado tecnológica” levanta, sem sombras de dúvidas, novos desafios em vários quadrantes da nossa vida social, econômica e até política.

 

A face mais visível está relacionada à criminalidade informática que têm vindo a assumir contornos preocupantes face aos elevados números de casos que têm vindo a ocorrer, movidos por múltiplas e diversas razões.

 

Para além dos casos de adulteração de identidade para fins de extorsão que ocorrem despudoradamente nas redes sociais, são muito preocupantes os ataques que diversas instituições têm vindo a sofrer, incluindo-se um pouco de tudo, de bancos as petrolíferas, de ministérios às provedoras de serviços de telecomunicações.

 

Para além da abordagem criminal e social, faz sentido reflectir sobre os mecanismos institucionais e tecnológicos que possam servir de armadura contra os tais ataques cujas consequências são muitas vezes ocultadas mas preocupantes, desde logo com impacto ao nível da qualidade dos serviços, dos custos financeiros e outros.Já não é, portanto, estranho para nós o grau de penetração da internet no nosso seio.