Luanda - Mais de cem manifestantes foram detidos em Angola, no fim de semana. Onda de protestos contra a subida do preço da gasolina e da cesta básica abrangeu várias cidades. À DW, manifestante diz que poderá ser só "o começo".

Fonte: DW

Cerca de cem manifestantes foram detidos durante os protestos em várias cidades angolanas contra a subida do preço da gasolina e da cesta básica, no sábado passado (17.06). A polícia repeliu as marchas com recurso a gás lacrimogéneo, acusando os manifestantes de "arruaça".

 

À DW África, Dito Dali, um dos organizadores da manifestação, nega as acusações e diz que "arruaceira é a polícia". O manifestante sublinha ainda que os protestos vão continuar caso o preço do combustível não baixe e a inflação continue a aumentar.

 

DW África: O que achou da moldura humana que aderiu às marchas?

Dito Dali (DD): A população percebeu que nós mesmos somos a solução face às últimas medidas tomadas pelo Executivo angolano, que geram consequências negativas para os cidadãos. Ninguém poderia estar de braços cruzados diante deste factos.

Mais de cem pessoas foram detidas em todo o país. Uma boa parte já se encontra em liberdade, outros foram hoje julgados na cidade de Benguela. É um ambiente hostil. As autoridades não podem desrespeitar constantemente as leis ou cercear os direitos dos cidadãos, porque todos eles estão a trabalhar para construir um país melhor.

DW África: A polícia diz que recorreu à força porque houve confrontos entre manifestantes e as forças de segurança. Não foi bem assim?


DD: Isso é falso. Infelizmente, há uma crise de confiança nas instituições. Os cidadãos não acreditam nas instituições públicas, porque elas estão revestidas de manipulações, mentiras e inverdades. Foi a polícia que entendeu reprimir as manifestações.

 

DW África: Então, quem provocou a "arruaça" foi a polícia?

DD: A polícia foi a verdadeira "arruaceira", nós estávamos numa marcha pacífica.

 

DW África: Na mesma comunicação, a polícia afirmou que a manifestação teve patrocínio da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, o maior partido da oposição). Os organizadores da manifestação receberam, ou não, "patrocínio" de algum partido político?

DD: Não recebemos patrocínio nenhum da oposição, nem do Movimento Popular de Libertação de Angola [MPLA, partido no poder]. Isso é claro. O que tem acontecido no nosso país é que o MPLA identificou o seu "bode expiatório", que é a UNITA. Aconteça o que acontecer, atribui a culpa à UNITA. [Mas] não foi a UNITA que subiu o preço do combustível…

 

DW África: E qual será o próximo passo?

DD: Já não nos concentraremos mais no Cemitério de Santana. As concentrações serão feitas nos vários bairros e todo o mundo sairá destes bairros até ao destino proposto. Queremos é pressionar o Governo para recuar nas medidas que tomou.