Luanda - José Ezequiel foi um dos ativistas detidos no sábado no Huambo. O jovem angolano viu a sua casa invadida por mais de 20 agentes, que dispararam tiros e o ameaçaram de morte. Valeu-lhe a intervenção do diretor do SIC.

Fonte: DW

"A família viveu momentos de terror"

Vários ativistas foram detidos na madrugada do último sábado (17.06), na cidade do Huambo, em Angola, em dia de manifestações em várias cidades do país, contra a subida dos preços dos combustíveis e o fim da venda ambulante.

José Espragel Ezequiel foi um dos detidos. O jovem viu a sua casa invadida por mais de 20 agentes dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE) e mais de uma dezena do Serviço de Investigação Criminal (SIC), que dispararam vários tiros contra a sua residência.

Em entrevista à DW África, conta que entre os agentes havia quem exigisse a sua morte, mas graças ao diretor do SIC no Huambo não foi morto. Foi mais tarde detido acusado de ter organizado a manifestação dos taxistas e mototaxistas, que culminou com a morte de alguns manifestantes a 5 de junho, no Huambo.

DW África: Em que momento foi detido e onde é que estava?

José Ezequiel (JE): No sábado, quando eram 04h00, foi quando eles começaram a invadir a minha casa, destruíram praticamente a minha casa. Entraram, dispararam tiros com o propósito mesmo de me atingir. A sorte é que eles dispararam um tiro na porta do meu quarto, julgando que eu estivesse lá, enquanto eu estava na sala.


DW África: Está a dizer que houve disparos de balas reais contra a sua casa?

JE: Dentro de casa. Balas reais dentro da minha casa. E fizeram disparos na porta do meu quarto, julgando que eu estivesse lá para me atingir mortalmente. A sorte é que eu estava na sala.

 

DW África: E quantos tiros foram disparados?

JE: Eles fizeram um disparo na porta e outro disparo que fizeram foi contra a chapa. Pegaram na minha filha de cinco anos e colocaram-lhe uma arma para mostrar onde está o papá. Fizeram ameaças de morte à minha esposa. A minha família toda de casa viveu um momento de terror. Estavam em minha casa mais de 20 homens do SIC e mais de dez homens do Serviço de Segurança do Estado. Só mesmo para virem à minha busca, outros diziam vamos lhe matar, outros não, não faça isso.

 

DW África: Quem são essas pessoas que diziam que era para lhe matar?

JE: Na verdade, são elementos do SIC. Todos eles estão identificados, estavam com tanta vontade de ver sangue. Queriam me matar mesmo. Eles estavam a dizer: vamos lhe matar, vamos tirá-lo daqui machucado.

 

DW África: Mas porque queriam matá-lo?

JE: Por ser ativista e eles acharam que nós, os ativistas, fomos quem organizou a rebelião do dia 5 de junho, que vitimou gente. Foi mesmo graças à intervenção do diretor, que esteve também presente, porque todos eles entraram na minha casa, entraram pelo teto depois de destruírem a cobertura da minha casa toda.

 

DW África: De que forma, então, o diretor do SIC conseguiu salvar a sua vida?

JE: O diretor conseguiu salvar a minha vida, porque quando eles começaram a fazer disparos, o diretor disse não façam isso. E depois de me pegarem, havia um que disse não, vamos lhe apagar. O diretor disse não vão fazer isso aqui, mantenham a calma. Mas ainda assim havia um que queria golpear-me e estava um outro senhor que também impediu, até porque me conhece. Levaram-me até ao carro algemado. Fui passando de carro em carro. Todo o mundo queria conversar comigo, uns a fazerem ameaças, outros a dizerem que estavam arrependidos porque não tinha de ser assim. E assim fiquei detido, porque acharam que nós é que estávamos a incitar a rebelião, até porque fomos obrigados a fazer fotos com placas a dizer rebelião. Não tem nada a ver, nós não somos os ativistas que têm criado arruaças porque todas as manifestações que organizamos tem sido de forma legal.

DW África: E de onde é que saíram essas placas nas quais estava escrito "rebelião"?

JE: Junto do Serviço de Investigação Criminal do Huambo. Lá meteram-nos numa sala, fomos obrigados a pegar nos panfletos com os nossos nomes, as datas, escreveram lá crime de rebelião, fizeram fotos, tudo no sentido mesmo de poderem prender-nos e acusar-nos de crimes que nós nunca praticamos.

 

DW África: E como eram as condições do local de reclusão onde esteve?

JE: As condições mais péssimas possíveis. Nós fomos submetidos a dormir no chão. Lá não há condições. É tudo contra os direitos humanos.