Lisboa - Uma delegação da Comissão angolana para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop) deslocou-se a Jamba, antigo quartel-general da UNITA, na província do Cuando Cubango, com o propósito de recuperar as possíveis ossadas de Tito Chingunji, Wilson dos Santos, George Sangumba e outros altos dirigentes executados na época da rebelião armada do "Galo Negro".

Fonte: Club-k.net

Esta é a segunda vez que a delegação vai a Jamba depois de ter identificado a área onde, em 1984, terão ocorrido queimas das chamadas bruxas, neste território à época controlado pela guerrilha da UNITA.

 

De acordo com apurações, a delegação deverá apresentar resultados nas próximas semanas sobre ossadas que se presume serem de antigos altos dirigentes da UNITA, vítimas de conflitos internos.

 

Recentemente, através de uma reportagem da TPA, a CIVICOP apresentou ossadas de um grupo de generais da guerrilha da UNITA executados, por terem falhado no assalto militar à cidade de Kuito em outubro de 1998. A localização (na zona de Tchanji, ao sul do Bie) contou com o apoio de um antigo segurança da UNITA, José Mateus, que participou nas execuções.

 

José Mateus é conhecido do regime desde 2001, altura em que foi exibido numa reportagem da TPA, quando se rendeu às Forças Armadas Angolanas (FAA) no Moxico. Mateus confessou as autoridades que foi um dos carrascos que matou os dois generais da UNITA (Sapalalo Bock e Antero Vieira) por ordem de Jonas Savimbi, o líder do movimento rebelde.


Tito Chingunji, ex-representante da UNITA em Washington, e Wilson dos Santos, então responsável pela informação, terão morrido em agosto de 1991, meses depois da assinatura dos Acordos de Bicesse entre o governo angolano e o movimento de Jonas Savimbi.


A CIVICOP estaria a enfrentar dificuldades por se tratar de um assunto que foi tratado na altura pela UNITA com o maior dos secretismos, sendo que muitos quadros deste partido apenas tomaram conhecimento destas mortes a partir de Luanda pela voz de Miguel Nzau Puna, que acabava de desertar deste partido em 1992.


Terão participado nas execuções um oficial identificado como Teodoro Kalala, hoje ao serviço das FAA, e Roque Samakuva, que se encontra a viver na província do Bie. Kalala é referenciado como o oficial que teria levado as crianças de Wilson dos Santos para um destino incerto. Outros que participaram na operação já faleceram. Os sobreviventes mostram resistência a colaborar com as autoridades com receio de que os "outcomes" sejam usados posteriormente para denegrir a imagem da UNITA e do seu fundador, Jonas Savimbi.


A CIVICOP é uma comissão criada pelo Decreto Presidencial 209/20, de 4 de Agosto, com o objectivo de implementar o Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos ocorridos em Angola desde 1975 até 2002. A CIVICOP funciona como uma plataforma através da qual o país lida com os episódios de violência física ou espiritual e os mecanismos que proporcionam o diálogo convergente e evita factores que possam enfraquecer as bases para a construção da paz e reconciliação nacional.

 

Entre as actividades da CIVICOP, destaca-se a localização, exumação, identificação e entrega das ossadas das vítimas dos conflitos às suas famílias, bem como a realização de actos públicos de pedido de desculpas e homenagem às vítimas. A CIVICOP conta com o apoio de um Grupo Técnico Científico (GTC) que realiza os exames de ADN das ossadas e recolhe os dados genéticos dos familiares sobrevivos².

 

Até ao momento, a CIVICOP já entregou duas ossadas atribuídas aos antigos dirigentes da UNITA, Salupeto Pena e Alicerces Mango, que pereceram em 1992, e encontrou outras dez ossadas que estão em processo de identificação.


A CIVICOP também tem realizado actos públicos de pedido de desculpas e homenagem às vítimas do 27 de Maio de 1977 e outros eventos chocantes que ocorreram no período pós-independência. A CIVICOP tem ainda a intenção de recolher material genético fora do país a familiares residentes no exterior, especialmente em Portugal, onde há angolanos que perderam parentes nos conflitos no país².