Num encontro restrito com jornalistas lusos, Samakuva disse que o MPLA limita a liberdade de imprensa e controla a Justiça. E usou mais uma vez o estafado argumento da corrupção afirmando que Angola se tornou “num Estado patrimonialista e clientelista” e que o país está classificado “como dos mais corruptos do mundo”, expressões caras ao clã soarista. Dizer estas coisas a uma corte de jornalistas escolhidos a dedo é muito grave, porque o líder da UNITA mostra que continua em guerra contra o seu próprio país e a tratar Angola e os angolanos como inimigos a abater.
É pouco digno e até imprudente usar os argumentos habitualmente usados por João Soares. Indigno, porque o antigo presidente da Câmara de Lisboa está permanentemente a denegrir o nosso país. E é imprudente porque seguir o seu pensamento ou usar os seus argumentos pode redundar em desastre eleitoral. Samakuva não deve esquecer que João Soares foi corrido da Câmara Municipal de Lisboa e quando mais tarde tentou ser presidente da Câmara da Vila de Sintra foi estrondosamente derrotado. É um político gasto, sem chama, sem apoio popular, sem credibilidade e unanimemente detestado em Angola. Samakuva vai mal se segue tão desastrado exemplo.
Mário Soares, o chefe do clã de apoio a Samakuva, é um desastre mais grave. Tentou cavalgar a maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições presidenciais e nem um terço dos votos conseguiu, ficando num humilhante e cruel terceiro lugar. Já nem os seus correligionários lhe dão confiança. Por isso não se percebe o que Samakuva ganha ao prestar vassalagem a dois cadáveres políticos. Com milhares de esqueletos no armário e de braço dado com dois políticos em acelerada decomposição, Samakuva parece correr para o desastre total. Mas isso fica por conta e risco dos militantes e apoiantes da UNITA.
O pior é que se comporte como um escriba irresponsável de um qualquer pasquim, que anda sempre a ulular acusações de corrupção sem provas. Samakuva nesta sua visita a Portugal cometeu vários erros graves, indignos de alguém que se apresenta aos eleitores como alternativa de governo.
Em primeiro lugar, ao ir a Portugal abrir uma campanha política e falar de corrupção, escolheu mal o sítio. É o próprio Presidente da República Portuguesa a reconhecer que a corrupção é hoje um dos mais graves problemas que Portugal enfrenta.
Em segundo lugar, nem se dignou informar o nosso jornal, único diário generalista do país, da sua viagem, dando preferência a alguns jornalistas portugueses. Como temos um delegado em Portugal, era de nosso interesse e da UNITA fazermos a cobertura da sua viagem para os leitores angolanos. Mas Samakuva ainda nos trata como se tivesse um pé na Jamba. Portou-se como no tempo da guerra e só soubemos da sua viagem pelas declarações graves que fez contra Angola.
Outro erro grave para a conta pessoal do líder da UNITA foi ir a Lisboa dizer a um grupo de jornalistas amigos o que devia ir dizer ao Procurador-Geral da República, em Luanda. Se Samakuva tem provas ou mesmo indícios de que o seu país “é dos mais corruptos do mundo”, tem de levar esses indícios ou essas provas a quem de direito. Nunca o fez. E chegou a Lisboa e sob a asa protectora dos companheiros de sempre, lançou mais calúnias contra Angola, dando um péssimo exemplo de falta de sentido de Estado. Os retornados de extrema direita e os beneficiários dos diamantes de sangue devem ter ficado felizes com o discurso de Samakuva, mas os angolanos que se prezam, que amam o seu país e que lutam pela sua grandeza, ficaram seguramente muito zangados com o líder da UNITA.
Se Samakuva tem um projecto para Angola, que revele aos eleitores angolanos os contornos desse projecto. Se tem conhecimento de actos de corrupção, que os denuncie publicamente e entregue as provas de que dispõe à Procuradoria-Geral da República. Mas Samakuva não pode continuar a portar-se como um embaixador desactualizado, com a missão de destruir a imagem do seu país no Ocidente.
O líder da UNITA disse em Lisboa que o seu partido está à esquerda do MPLA. Se assim fosse, o seu líder não estaria a usar hoje os mesmos métodos que a PIDE usava para denegrir e aniquilar os dirigentes nacionalistas que lutavam pela libertação da pátria, sob a bandeira do MPLA, lançando campanhas caluniosas e difamatórias.
Samakuva sabe que Angola conquistou a paz e fez a reconciliação, por isso ninguém compreende que o líder da UNITA continue agarrado aos destroços do passado, fazendo a política errada no sítio errado.
Fonte: Jornal de Angola