Luanda - Um ano e meio depois da construção do Canal do Cafu, no Cunene, a população continua a dizer que "não sente os efeitos" da obra, porque continua a ter falta de água. Era uma das soluções do Governo angolano para a seca.

Fonte: DW

O Canal do Cafu foi inaugurado, no ano passado, com pompa e circunstância pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço. O grande objetivo da construção do canal era combater a seca cíclica na província, transferindo água do rio Cunene.

Mas a população diz que não tem sentido mudanças desde a inauguração do canal. A água continua a faltar, lamenta a dona de casa Laurinda Samuel.

A população recorre a poços com água não tratada. Laurinda Samuel sabe que é um risco, mas diz não ter outra escolha: "Não temos como fazer, é a única alternativa que temos".

O Canal do Cafu foi inaugurado a 4 de abril de 2022, poucos meses antes das eleições gerais. Menos de um ano depois da inauguração, circularam notícias de que o canal estava danificado.

O Governo reconheceu a "falha" na obra, mas prometeu que responsabilizaria a empreiteira e o canal cumpriria o objetivo para que foi desenhado.


Correria por motivos eleitoralistas?

O professor e jurista António Garripete diz que continua à espera desse dia. "Passado um ano desde que foi inaugurado, não estamos a ver os frutos deste canal. Isso significa que é um investimento em vão, porque quando se investe tanto dinheiro, tem de dar resultados. Se não está a dar resultados, alguma coisa falhou."

O professor acredita que foi a correria para inaugurar o canal antes das eleições de agosto de 2022 que provocou os problemas. A obra custou mais de 130 milhões de dólares.

"As pessoas têm de aprender a não fazer grandes investimentos com somas avultadas de dinheiro [público] e depois não há resultados. Tem de haver resultados", cobra Garripete.

O Rei do Curoca e da Cahama também lamenta que a sua localidade não sinta ainda os efeitos da construção do Canal do Cafu. Isaías Tchipandjeny lembra que os munícipes da sua circunscrição ainda enfrentam grandes dificuldades para obter água potável, não só para consumo próprio como também para o gado.

"Ainda não temos acesso a canalização. Temos algumas captações que o Estado tem feito nas comunidades, mas mesmo estas pequenas captações não chegam para toda a população. […] Deve-se aumentar o número de captações para poder sustentar as comunidades", exige.


População exige satisfação

Os cidadãos dizem que continuam à espera de uma explicação das autoridades sobre as razões da demora na implementação do projeto do Cafu. Até porque, além de melhorar a vida da população, é do interesse do Governo diversificar a economia e estimular a pecuária e a agricultura no Cunene, lembra o jurista António Garripete.

"Se o canal do Cafu se colocou lá, não é só para superar a questão da falta de água, mas também para produzir. O canal - naquilo que temos vistos em outras geografias - é para fazer regadios, porque na margem da orla do próprio canal dá para fazer grandes plantações de hortaliças e estes hortícolas vão [ser usados na] dieta alimentar dos cidadãos, o que não está a acontecer", diz.

Por isso, Garripete exige: "Alguma coisa falhou e, se alguma coisa falhou, ou o Presidente que fez a inauguração deste canal ou o ministro das Obras Públicas ou a governadora provincial têm de nos dizer o que falhou, para nós percebermos."

A DW África contactou o governo do Cunene, mas não foi possível obter uma reação sobre o assunto.

Em entrevista à Rádio Nacional de Angola, em maio de 2023, a governadora provincial disse, no entanto, que estava satisfeita com os primeiros resultados da construção do Canal do Cafu. Gerdina Didalelwa explicou que a prática da agricultura em redor do canal já estava a transformar a vida de muitas famílias. E mostrou-se esperançosa que, com o canal, o povo da região possa "livrar-se da pobreza".