LUANDA — A companhia estatal angolana de petróleo Sonangol considera estar a viver novos tempos longe dos atos de corrupção que assombroaram a empresa no passado.

Fonte: VOA

O diretor de Comunicação afirmou recentemente que a empresa está mais protegida contra a corrupção por força de vários programas levados a cabo internamente desde 2018.

"A Sonangol é, hoje, uma empresa ligada a associações que defendem a transparência e a ética empresariais”, garantiu Dionísio Rocha Júnior, citado pela imprensa pública.

Especialistas e analistas políticos não se reveem nessa leitura e defendem outras formas de controlo e transparência da maior empresa do país.


Como exemplo desse maior controlo, a Sonangol diz ter hoje um canal de alerta hotline, gerida por uma entidade externa e independente.

O professor da Universidade de Oxford e colaborador do portal Maka Angola Rui Verde considera que estes mecanismos levados a cabo pela Sonangol não são suficientes, para aferir os níveis de corrupção.

"O que a Sonangol devia ter era uma estrutura de compliance de deteção e prevenção da corrupção, mas com elementos externos à companhia, não vou duvidar deste trabalho interno que fazem, mas vou dizer que isto só não chega para se saber se a corrupção está ou não a ser combatida", aponta aquele acdémico, acrescentando que "isto não se faz com declarações internas, mas sim em deixar entrar pessoas de fora, uma espécie de polícias independentes que garantam que não há corrupção".


O investigador do Instituto de Democracia e Desenvolvimento Aleixo Sobrinho diz não ser possível combater a corrupção numa empresa como a Sonangol e questiona a razão de não permitir uma auditoria às contas da empresa.

"Por que não deixam os grupos parlamentares avançarem com uma comissão de inquérito às contas públicas, para se saber como é que estão a funcionar, penso que transparência é isso, a Sonangol é das piores que nós temos, é a fonte do saque, do roubo que este país vive", acrescenta Sobrinho.

 

Quem também diz não acreditar no que a Sonangol diz sobre os índices de corrupção é o jornalista Ilídio Manuel.

"A Sonangol sempre funcionou como uma espécie de caixa dois, onde geralmente é gerida, segundo consta pelo PR e o PCA da Sonangol, e é nesta conta onde são depositados determinados valores que escapam ao controlo do OGE, se eles acham que estão a gerir

com transparência estariam à vontade em que auditores externos lá fossem para aferir se os índices de corrupção diminuíram ou não", sustenta Manuel, par quem "quando se trata de ver a inspecção, verificar as contas fogem como o Diabo foge da água benta".


Aquele analista político lembra que o maior partido na oposição tem pedido inquérito às contas públicas, mas nunca o permitiram e lembra que "gato escaldado até de água fria tem medo".

Entretanto, Rui Verde não defende um inquérito parlamentar porque é melhor não politizar muito a questão, "para não transformar isso numa guerra entre a UNITA e MPLA, sabemos que daí nada se resolve".

A empresa informou que as práticas de transparência foram adoptadas com a aplicação do Programa de Regeneração, entre 2018 e 2021.