Luanda - O soberano povo senegalês, uma vez mais, mostra ao mundo e às nações africanas o que é o senso democrático e de alternância política. Esta alternância, temida em Angola e em vários países africanos. No Senegal, acabamos de ver que o poder realmente reside no povo.

Fonte: Club-k.net

Em junho do ano passado, a juventude senegalesa, impulsionada pelos universitários da Universidade de Dakar, saiu às ruas para protestar contra a condenação a dois anos de cadeia de Ousmane Sonko, jovem candidato às eleições presidenciais daquele país. O governo do Presidente Macky Sall passou por cima da decisão do poder judicial, que já havia declarado inocente Ousmane Sonko, e o aprisionou como forma de impedir sua candidatura.

Essa ação, considerada injusta e rasteira, foi reprovada sem demora por toda a juventude senegalesa, que realizou uma série de protestos paralisando as ruas de Dakar, exigindo a libertação desses ativistas. Mesmo assim, Macky Sall, em sua tentativa de permanecer no poder, quis usar a velha tática de vários dirigentes africanos de alterar o que está estabelecido na constituição daquele país e ampliar o número de mandatos políticos do presidente para poder se candidatar à presidência pela terceira vez, quando a constituição do país limita os mandatos a dois. Todas essas tentativas foram frustradas porque a juventude, o ativismo senegalês, apoiado amplamente pela diáspora deste país, venceu.

O governo de Macky Sall não hesitou em cortar os sinais de internet, as transmissões de rádio e televisão contrárias a este governo, para evitar que a comunidade internacional pudesse ter acesso às informações do país. Mesmo assim, a união do povo senegalês, a força da diáspora e a coragem dos estudantes universitários falaram mais alto e hoje o Senegal é um exemplo no continente em questões de democracia e alternância de poder.

Ousmane Sonko e Bassirou Diomaye Faye, dois jovens que até uma semana antes das eleições estavam presos pelo governo de Macky Sall, hoje são os máximos mandatários daquele país, representando a voz e o desejo do povo.

O novo governo senegalês, com um dos presidentes mais jovens do continente, tem muito trabalho pela frente nesta era de fortes mudanças políticas, econômicas e sociais na região da África Ocidental. A luta contra a corrupção e a redistribuição das riquezas é indicada como prioridade na agenda deste novo governo. Surgem também questões como:

A mudança do Franco CFA (moeda controlada pelo Banco Central de França) e que afeta a autonomia financeira dos países da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental).


A gestão da saída massiva de imigrantes jovens senegaleses do país para outras partes do mundo, por falta de oportunidades de emprego, o que implica a perda de mão de obra local.


O fortalecimento das relações internacionais e regionais, incluindo as relações com Angola, a SADC e os governos da CEDEAO.


O enfrentamento dos inúmeros problemas sociais, econômicos e de desigualdade de gênero que este país enfrenta, entre muitos outros desafios.


Pelo bem do Senegal e pelo crescimento da região, esperamos que este novo governo saiba responder com trabalho, foco e responsabilidade à confiança depositada nele pelo povo.

O povo senegalês está de parabéns pelo seu exemplo democrático! O povo angolano esteve atento e continuará a lutar pela alternância.

“Assimilar sem ser assimilado.” — Léopold Sédar Senghor.