Luanda - Muitos de nós cristãos possuímos uma curiosidade inata, procurando compreender as mensagens fundamentais da nossa fé. É essa curiosidade que nos leva a valorizar pastores formados em seminários teológicos. São anos dedicados ao estudo das Escrituras, à defesa da fé, à exegese bíblica, ao aprofundamento da história do Cristianismo e ao seu papel no mundo. Tenho pessoalmente uma grande admiração por esse tipo de pastores – talvez fruto da minha própria formação académica.

Fonte: Club-k.net

Nos últimos tempos, tem sido frequente entre nós, na comunidade da igreja, refletirmos sobre o capítulo 24 de Mateus, onde Jesus Cristo fala dos sinais dos tempos do fim, incluindo guerras e rumores de guerra – algo que nos faz pensar no Médio Oriente. Parece-nos que estamos perto, se não já no limiar da consumação dos tempos. O Irão com o seu potencial nuclear e Israel e os seus aliados com os seus formidáveis arsenais – a região é um barril de pólvora.

Porventura, enquanto nos preparamos espiritualmente para todas as eventualidades, deveríamos também pugnar pela paz. As desavenças no Médio Oriente, as amarguras entre israelitas e palestinianos, têm solução. A História provou-nos, vide a África do Sul , que até poderes aparentemente inabaláveis podem mudar. Sociedades em guerra podem chegar à liberdade e procurar construir o futuro.

No que respeita a Israel e à Palestina, mentes criativas e melhor posicionadas poderão encontrar uma solução aceitável para ambas as partes. A continuação da guerra é intolerável, apenas serve para acumular mortos, retaliações, e sofrimento. O conflito israelo-palestiniano afeta não só aquela região, mas toda a comunidade global, fazendo-nos pensar nas profecias bíblicas sobre o fim dos tempos.

Se há quem preveja datas concretas para o fim do mundo, ou quem fale de desgraças iminentes, é crucial, de qualquer modo, focarmo-nos no trabalho pela paz e na superação das divergências que fragmentam a humanidade. A questão israelo-palestiniana é uma questão de direitos, mas a comunicação e a busca de compreensão mútua são o caminho.

O objetivo deveria ser evitar mais sofrimento e encontrar vias de resolução do conflito que respeitem todas as partes.
Quando mergulhamos nos anais da história do Médio Oriente, encontramos uma sucessão de poderes e influências que marcaram a região. Estamos a falar dos antigos egípcios, do Império Sírio, o Império Babilônico, o Império Persa, os governantes Helenísticos, o Império Romano, o Império Bizantino, os califas Muçulmanos, os Cruzados, o Império Otomano, o mandato Britânico.

A diáspora espalhou os Judeus pela Europa do Leste e por partes de Península Ibérica onde enfrentaram perseguições. Apesar desse passado acidentado, as reivindicações pela Palestina mantêm-se acesas, muitas vezes com justificações históricas e bíblicas. Não obstante, devemos lembrar que essas terras acolheram ao longo dos séculos povos diversos. Será então inconcebível a diversidade nos tempos que correm?

Num mundo onde muitas nações acolhem múltiplas etnias, sensibilidades, e religiões, por que deveria a coexistência entre Judeus e Árabes ser fonte de tensão e opressão?
Judeus e Árabes partilham raízes semitas. As suas religiões, o Judaísmo e o Islão, têm muito em comum, incluindo a reverência pelo Torá, o primeiro livro dos Judeus. No Islão, os Judeus são reconhecidos como ‘Povo do Livro’, uma designação respeitosa para quem segue as religiões abraâmicas.

Se pusermos de lado as ameaças nucleares e a arrogância que alimenta o conflito, e procurarmos o diálogo, perceberemos que os povos desta região partilham muito. Essa herança comum poderia ser a base da coexistência pacífica.

Cristianismo, Islão, e Judaísmo, três das maiores religiões do mundo, remontam as suas raízes a esta parte do mundo. Jerusalém, uma cidade tão importante para as três religiões, poderia ser um símbolo da mútua reverência e respeito.


Então, por que razão é tão difícil encontrar um modelo de coexistência que não conduza à violência? Por que deverá esta região, tão rica em símbolos e história, ser fonte de ansiedade global sobre o fim do mundo? Não poderia ela ser antes um motivo de orgulho, um reflexo das positivas contribuições que daí podem emanar?

Pensemos nos habitantes do Médio Oriente, propensos a refletir sobre o seu significado histórico e sobre a terra sagrada que habitam. Deveriam igualmente respeitar o olhar de quem espalhados pelo mundo, os contempla sem grandes recursos ou armamento. A grandeza do Médio Oriente medir-se-á não só pela sua pompa mas também no coração de africanos, asiáticos, e latino-americanos nas suas igrejas humildes. São estes, muitas vezes com poucos meios, e espalhados pelos cantos do mundo, que praticam a fé cristã e Muçulmana que anseiam pela paz, cujas preocupações merecem ser ouvidas.

É também uma questão de equidade, probidade, e dignidade. Algumas das brutalidades a que assistimos em várias partes do mundo têm, ironicamente, raízes em credos dessa região. É um imperativo promover os valores que as contrariem e criem condições para a concórdia.

Enquanto cristãos, devemos recordar-nos que também nós somos imperfeitos e propensos à violência. Se queremos que a paz prevaleça, cabe-nos dar o exemplo e fomentar a harmonia dentro das nossas próprias comunidades. Um verdadeiro cristão não prega apenas o amor – ele personifica-o. Isso inclui promover a reconciliação, perdoar as ofensas, e rejeitar a retaliação!

A Bíblia, ao mesmo tempo que nos lembra dos sinais dos tempos, enfatiza igualmente a importância do amor, da tolerância, e da paz. E é esse o espírito que precisamos trazer à discussão sobre o Médio Oriente. Devemos repudiar tanto o fanatismo religioso como o fervor nacionalista que impedem que a moderação e o sentido comum vençam.

Certamente, existem desafios – interesses entrincheirados, líderes políticos inflamados, e radicais dos dois lados. Ainda assim, esses obstáculos não são intransponíveis. A comunidade internacional deve redobrar seus esforços para encontrar uma solução duradoura para o conflito israelo-palestiniano. E nós, enquanto cristãos, devemos orar pela paz e apoiar os esforços diplomáticos.

Vale a pena lembrar o exemplo da África do Sul. Apesar de anos marcados pela violência e amargura racial, foi através de um compromisso com o diálogo e reconciliação que o país encontrou um caminho a seguir. Se tal foi possível na África do Sul, por que não poderá o mesmo acontecer no Médio Oriente?

Claro que cada situação é única, mas o princípio da negociação e da coexistência é universal. Aqueles que vivem em países com democracia e estabilidade possuem um papel especial. Devem defender a justiça e ser uma voz para aqueles em cujas terras as bombas caem. A Bíblia chama-nos a "orar sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17). Então, vamos orar pela paz no Médio Oriente, enquanto trabalhamos por ela. O destino da região repercute-se, de alguma forma, entre todos nós. Afinal, todos somos, em última análise, filhos do mesmo Deus.