Cunene - JORNAL “O PAÍS” - Senhor Presidente, temos estado a vê-lo a percorrer o país todo, num exercício que muitos consideram patriótico, a inaugurar grandes infra-estruturas hospitalares, sobretudo de nível…


PR - Hospitalares e não só…

JORNAL “O PAÍS” - Pois… Neste momento, sim, refiro-me a infra-estruturas hospitalares, que o Senhor Presidente inaugura num exercício que muitos consideram patriótico… Se por um lado, há inaugurações destes grandes hospitais, de nível terciário, por outro lado, temos ainda, a nível das comunidades, os centros médicos de nível básico, primário, - acho que é assim que se considera- que precisam e carecem de mais atenção. A esse nível, a esse respeito, há uma medida da vossa parte para a melhoria das unidades hospitalares de nível primário, de nível básico?


⏹️PR- Já me tem vindo a ser feita esta pergunta e, obviamente, que tenho respondido e vou fazê-lo agora exactamente nos mesmos moldes em que o tenho feito. Às vezes, fica-se com a sensação de que o Executivo só constrói unidades hospitalares desta dimensão, ou seja, hospitais de nível terciário. Fica-se com esta ideia, que é errada, repito, é errada.


Nós não estamos a construir apenas hospitais de 200 camas, com todo este equipamento de ponta que acabámos de ver nesta unidade e noutras. Nós estamos a construir desde centros médicos até hospitais de nível terciário. Estamos a fazê-lo não apenas no quadro do Programa Integrado de Intervenção nos Municipais, vulgo PIIM, mas com outros programas que o Executivo tem, virados para o desenvolvimento comunitário.

Portanto, nós já temos vindo a fazer. Quando me fazem a pergunta: “O que é que o Senhor pensa fazer?”. Não, eu não penso fazer. Nós já estamos a fazer. Agora, é evidente que tudo quanto está feito em termos de unidades hospitalares, não importa de que categoria seja, não podemos nos dar ainda por satisfeitos. Não podemos dizer que a obra está feita, vamos cruzar os braços, amanhã já não temos mais nada a fazer…


Isto é um trabalho que é contínuo, até porque a população está a crescer todos os dias. Há uns anos tínhamos uma população e hoje temos a que conhecemos, daqui a uns anos, vamos ter muito mais. Portanto, em termos de infra-estruturas, a atenção, o investimento, que deve ser feito, é contínuo.


Quer estejamos a falar de hospitais, como de escolas, de institutos, de, enfim, estabelecimentos de ensino de todos os níveis também, primário, secundário, universitário, produção e distribuição de água, produção e distribuição de energia, habitação, tudo o que seja infra-estruturas, o céu é o limite, como se costuma dizer. Ou seja, nós não podemos dizer que vamos fazer 200 e “stop”, parou. Não! É para se ir fazendo isso. Isto é um processo que é contínuo.


ANGOP - A província do Cunene acabou de ganhar uma grande infra-estrutura do ramo da saúde, com equipamentos de ponta. Gostaria de saber, qual o sentimento?
⏹️PR- Bom, eu penso que esta pergunta é dirigida mais aos beneficiários desta unidade; às populações da província do Cunene, de uma forma geral, aqui do sul de Angola, que vão acabar por acorrer a esta unidade hospitalar. Em princípio, essas populações, sim, é que deveriam ser ouvidas para dizerem como é que se sentem. Porque a minha missão foi colocar ao serviço delas, ao serviço das populações, e eu não devo falar em nome delas, embora conheça qual é a opinião.
Desde há uns dias que a comunicação social vem colhendo o depoimento das populações desta província, que já se tem vindo a pronunciar sobre a alegria que sentem, mesmo antes de ela ser inaugurada.


Portanto, numa palavra, se me permitem falar em nome dos utilizadores, o sentimento é de alegria. Não diria que é de agradecimento, mas de alegria, porque poupamos o sacrifício a muita gente que tinha de se deslocar quilómetros à procura de serviços de saúde noutras províncias, ou mesmo aqui no nosso país vizinho e irmão, a República da Namíbia.

REDE GIRASSOL - Depois de colocar à disposição esta unidade hospitalar de nível terciário, pergunto-lhe se há algum plano para a construção de um hospital de especialidade para esta região sul ou até mesmo para a província do Cunene.
⏹️PR - Bom, especialidades há muitas. Está a referir-se a quê? A um hospital de queimados, um hospital oncológico, um hospital virado para a cardiologia? Não sei. Há “n” especialidades…
REDE GIRASSOL - A exemplo do que acontece na província de Luanda, um hospital especializado para crianças. Estou a referir-me ao “Azancot de Menezes”. Há também hospital especializado de serviço oncológico. Pergunto ao Senhor Presidente se na província do Cunene há a possibilidade de existir um Azancot de Menezes, por exemplo?

⏹️PR- Vocês gostam muito de perguntar se vai haver a réplica do que a gente fez aqui ou ali. O país tem 18 províncias. Tentar replicar tudo o que Luanda tem em cada uma das 18 províncias, não existe essa capacidade. Portanto, pelo menos prometer, eu não prometo.
Daí o facto de alguns serviços nós concentrarmos na mesma unidade. Por exemplo, se reparar, nesta unidade tem o serviço de oftalmologia. Não vamos construir um hospital oftalmológico. Tem o serviço de hemodiálise, não vamos construir um centro, por exemplo, como temos em Luanda, que é só de hemodiálise. Não o faremos.
Portanto, vamos aproveitar as capacidades que esses grandes hospitais têm e colocar em dimensão menor um pouco das diferentes especialidades. É uma forma de se racionalizar recursos, e não apenas financeiros.


Quando falamos em recursos, as pessoas pensam só em dinheiro. Mas o recurso humano é o recurso mais importante. Não haveria capacidade para nós conseguirmos tanto recurso humano e dispersá-lo pelo país.

TPA - Senhor Presidente inaugurou o novo Hospital Geral do Cunene. Depois da visita guiada, com que impressão ficou, até porque o hospital, por si só, não vai resolver os problemas sociais que o Cunene ainda enfrenta.

A população desta província reclama sobretudo da falta de infra-estruturas integradas. É só fazer uma visita, muito breve, aos vários bairros que existem aqui na província do Cunene. Há falta do básico, de infra-infraestruturas viárias, falo concretamente de estradas asfaltadas.


Existe um plano concreto para a melhoria da imagem da província do Cunene, sobretudo da cidade de Ondjiva?

⏹️PR - Nós temos feito muito pelo Cunene. Não é favor nenhum que se faz, mas não podemos fazer tudo de uma só vez. Essa capacidade não existe.
A governadora referiu-se ao facto de eu ter vindo já à província cinco vezes num período de cerca de seis anos, desde o início do meu primeiro mandato. Isso significa que nós prestamos uma atenção particular a esta província, por tudo quanto ela representa.


Há dias, o ministro da Construção anunciou que o Projecto de Infra-estruturas Integradas da Cidade de Ondjiva vai arrancar, que as obras de conclusão da estrada Ondjiva -Omala vão retomar, depois de muito tempo paralisadas.

Portanto, pouco a pouco, estamos a prestar atenção em diferentes infra-estruturas. Eu vim neste momento para inaugurar uma infra-estrutura do sector da Saúde, mas não nos esqueçamos de outros investimentos que são necessários fazer aqui na província do Cunene.

Se estamos todos recordados da histórica visita que eu fiz à chamada zona das Cacimbas, onde eu vi a população do Cunene a beber quase que barro, eu vi com os meus olhos jovens, meninas de 12-14 anos, a entrarem para a cacimba, na esperança de subirem com o balde com água. E em vez de subirem com água, subiam com lama. Não havia água e as pessoas estavam a morrer de sede.

Nós não cruzámos os braços. A partir dessa altura, gizámos um programa que vem sendo executado com algum sucesso. Concluímos, em tempo record, o projecto do Canal do Cafu.

Nesta minha visita aqui ao Cunene, para fazer esta inauguração, tenho programada a visita às obras do projecto da Barragem do Ndue. Portanto, o Cunene vai ficar, digamos, com o Cafu multiplicado por quatro.

No próximo ano, vamos ter o Ndue (que vamos visitar domingo), que fica concluído no fim deste ano. E, no próximo ano, vamos receber a Barragem do Calucuve e da Cova do Leão.

São quatro grandes infra-estruturas para minimizar o sofrimento das populações do Cunene, em termos de minimização dos efeitos da seca, nesta parcela do nosso território.

Portanto, era para dizer, resumindo, que nós estamos com os olhos atentos a todas as necessidades das populações desta província. Desta e do restante do país, como é óbvio. Mas não é possível fazer isso tudo num dia.

RNA - Está inaugurado o maior hospital terciário da região sul do país. Quanto à colocação de médicos da vizinha República da Namíbia, quais são os moldes da referida cooperação? Outrossim, este hospital vai precisar do auxílio de outros. Temos muitos hospitais missionários, é o caso da Missão Católica do Chiulo, e de muitos espalhados pelo país que muito já contribuíram e contribuem para a melhoria da saúde das populações.
O que está a ser feito para a reabilitação deste hospital a que fiz menção e também do antigo Hospital Geral de Ondjiva?
⏹️PR - Daqui a pouco perco-me…Tanta pergunta de uma só vez…
Bom, a cooperação com empresas ou profissionais de saúde da vizinha República da Namíbia vai ser feita com base em contratos. E, que eu saiba, esses contratos não foram ainda negociados.


Portanto, em que moldes é que isso vai acontecer, eu creio que nem a ministra da Saúde ainda sabe. Existe a intenção, o desejo de ambos os lados. Angola está interessada, a Namíbia também está interessada. Tudo quanto podemos dizer, neste momento, é que vão ser negociados os moldes dos contratos. E como é que eles serão, só mesmo na fase da negociação, que vai culminar com a assinatura dos mesmos, é que ficaremos a saber as condições da mesma cooperação e como é que será feita.

Não será o primeiro caso. Nós já temos tido ao longo dos anos a cooperação neste sector da Saúde, com profissionais de outros países, de Portugal, do Brasil, de Cuba.
Com a Namíbia será a primeira vez. Mas com expatriados, de uma forma geral, o país já tem contado com os mesmos.


E no mundo globalizado de hoje, ninguém trabalha com especialistas, quer na área da medicina, quer noutras áreas, só com aquilo a que se chama “prata da casa”, só com nacionais. Isso não existe.

Os países mais desenvolvidos, os países industrializados - em todas as áreas, não apenas na área da saúde - contam com profissionais de praticamente todo o mundo. Contratam, formam e trabalham todos juntos, nacionais e expatriados, no sector da saúde e não só.


Em relação às unidades hospitalares das chamadas missões -as evangélicas, sobretudo, e não só - missões de uma forma geral, de igrejas cristãs que existem no país, algumas delas são históricas, vêm do passado ainda anterior à nossa Independência, nós temos, na medida do possível, procurado cooperar com elas e ajudar a recuperar as mesmas.

Basta dizer que, há relativamente pouco tempo, nós entregámos, após intervenção nossa, o Hospital de Caluquembe às autoridades proprietárias do hospital. Aquele hospital missionário não é do Estado. Portanto, o Estado ajudou a recuperar.


O Hospital do Vouga, no Bié, também é um hospital missionário que teve intervenção do Estado. E vamos continuar com esta ajuda, porque se nós auxiliarmos estas igrejas na reabilitação dessas unidades hospitalares, elas vão servir exactamente o mesmo povo que o Executivo deve servir.


Os nossos doentes, os angolanos, não devem ser assistidos apenas por hospitais públicos. Todos os que podem contribuir para minimizar a carência de unidades hospitalares e de assistência médica às nossas populações, são bem-vindos.


Portanto, temos de conviver e coabitar todos, o sector público, o sector privado, o sector cooperativo, as igrejas, quer no sector da Saúde, quer no sector da Educação.