Luanda - Correram nas redes sociais, esta semana, imagens feitas no Cazenga, onde um grupo de jovens, vestidos com as cores da bandeira da UNITA, circularam como se estivessem já em campanha eleitoral. Um deles é o jovem Nascente Sapalo Santos, popularmente chamado por Savimbi, que imita o modo de vestir do líder da UNITA na sua “farda” militar das FALA, boina vermelha e pistola à cintura.

Fonte: Jornal de Angola

Outra imagem que também parecia uma campanha eleitoral foi do general Pakas Mendes de Carvalho a dar, durante um comício da UNITA, o seu apoio político ao partido liderado por Adalberto Costa Júnior e a Frente Patriótica. Como se já estivéssemos em tempo de eleições a contar "espingardas”, (ainda que o general Pakas não possa ser visto como dirigente do MPLA ou que as suas críticas sejam novidades), círculos da UNITA reclamam com toda a justiça que esse apoio deveria ser apresentado como uma transferência de peso do MPLA para a UNITA.

 

Aparentemente, só os estrategas do MPLA é que ainda não repararam que a UNITA está, com todo o mérito, em grande movimento ascendente, a tomar iniciativa política e gerar gradualmente uma agenda mediática alternativa ao excesso de governamentalização dos media tradicionais.

 

A máquina propagandística da UNITA parece oleada e disponível para promover as suas próprias iniciativas como os casos acima citados, e reagir rapidamente contra quem ouse criticar as suas estratégias. Prova disso foi a reacção destemperada de algumas vozes da UNITA ao nosso artigo sobre o branqueamento da imagem de Savimbi, saído na edição de segunda-feira da semana passada.

 

A minha geração habituou-se a admirar os estrategas do MPLA que personificam uma espécie de sábios da política com rasgos em antecipação, iniciativas de acção política ou pela sua rápida capacidade de reacção à adversidade. Houve sempre que, mesmo tardando, às vezes, teriam a capacidade de dar a volta por cima.

 

No estado actual, exceptuando as acções junto dos militantes (logo, zonas de conforto) os estrategas do MPLA estão longe de demonstrar iniciativa da acção política e muito menos capacidade de reacção em caso de jogada inteligente e impactante do adversário. Sucedem-se iniciativas do seu principal adversário, sem que o MPLA seja capaz de reagir.

 

Esta a instalar-se uma preocupação com essa apatia e já não há tanta segurança de que tudo faça parte de uma estratégia.

 

Hoje, aconteça o que acontecer, seja um artigo de jornal com impacto na sociedade, um estudo de opinião ou mesmo uma "mudança de camisola” de alguém das suas hostes, o MPLA mantém-se calado e mudo, como se o assunto não lhe dissesse nenhum respeito. Mesmo quando se está perante erros do seu Governo, verifica-se o mesmo silêncio.

 

Podemos admitir que intencionalmente o MPLA tenha decidido abdicar do combate político diário, mas, a ser assim, trata-se de uma decisão que dificilmente deixa de antever bons resultados. Com o desgaste da governação, a popularidade em baixa e a economia a não crescer como deveria, o silêncio não é, nestes casos, boa conselheira. Não saber isso é mais um sinal de que os estrategas já não são os mesmos.

 

O silêncio impede que o MPLA assuma o ónus da governação, não só para assumir os erros e dar sentido às medidas que são tomadas, mas também para rentabilizar ao máximo as coisas boas que se fazem. Assumir o ónus político da governação é representar o cidadão que deu o seu voto ao programa de Governo do MPLA e assim merece que, mais do que apoiar as medidas do Governo, o partido no poder seja o primeiro a exigir o cumprimento dos compromissos eleitorais e a defender a necessidade de melhores serviços aos cidadãos.

 

O silêncio do MPLA em quase todos os assuntos, salvo nos comunicados de morte e efemérides, tem provocado inúmeros receios sobre a eventualidade de uma estratégia concreta para o momento actual. Será que existe uma estratégia?

 

Outro factor preocupante é a apatia e o silêncio em relação à democracia interna. Perante o legítimo direito de alguns militantes de concorrerem à liderança do seu partido, o MPLA remete-se ao silêncio, abrindo a porta a rumores, incertezas e um mar de especulações.

 

Certamente, há uma estratégia, mas parece evidente que as pré-campanhas estão já em curso. Mesmo que não sejam bastantes para chegar à liderança podem criar estados de opinião e apoios internos surpreendentes.

 

Os tempos são outros. As novas tecnologias de comunicação estão a operar uma transformação do modo de fazer política tanto na disputa entre partidos como na democracia interna. Tanto a UNITA como os pré-candidatos da disputa interna têm dado mostras de um bom uso das redes sociais com emoções, crenças e argumentos para a criação de uma opinião pública favorável aos seus propósitos.

 

É preciso não querer ver as mudanças de comportamento a nível individual e colectivo que se baseiam na informação das redes sociais, mesmo que sejam falsas notícias. E não ver isso, é por si só, muito preocupante.