Lisboa - Novos ventos estão a soprar nos países africanos. Os jovens, outrora pacíficos e condescendentes com regimes autoritários e cleptocráticos, estão agora a dizer basta. A juventude angolana está a acompanhar de perto a queda de regimes corruptos, absolutistas e fraudulentos um pouco por toda a África. Os regimes estão a ser expulsos do poder pelo detentor da soberania: o povo.
Fonte: Club-k.net
Os dias de todos os governos ditatoriais em África estão contados. No Gabão, a dinastia Bongo caiu pela força popular depois de ter permanecido no poder 56 anos. As imagens das malas de dinheiro roubado ao povo que saíram das casas de altos funcionários públicos, como o Presidente da Assembleia Nacional daquele país, foram uma vergonha para todo um continente. Na Burkina Faso, o jovem Ibrahim Traoré devolveu a liberdade ao povo. Na Guiné-Conacri, o Presidente deposto Alpha Condé queria alterar a Constituição do país para se poder manter no poder. No Senegal, aconteceu o mesmo: o Presidente deposto Macky Sall também tentou alterar a Constituição do país para se manter no poder. A força dos jovens Sounko e Bassirou Diomaye Faye, agora Presidente e Primeiro-Ministro do país, apoiados pela juventude da Universidade de Dakar e pelo povo, conseguiu impedir a desvirtualização da vontade popular e a maculação de uma das democracias mais fortes de África até à data. E no Botswana, após 60 anos no poder, o BDP (Partido Democrático do Botswana) perdeu as eleições devido à luta dos movimentos sociais. Neste país, assistimos a uma lição de transição democrática. O candidato derrotado felicitou o candidato da oposição pela sua vitória e garantiu que envidaria todos os esforços para que a transição seja transparente e pacífica.
Moçambique realizou eleições legislativas e presidenciais a 9 de outubro e o povo compareceu em massa para votar pela mudança. A oposição, liderada por Venâncio Mondlane e pelo partido PODEMOS, conhecedor dos velhos truques fraudulentos da FRELIMO, organizou um Centro de Escrutínio paralelo, onde computaram os editais originais das assembleias de voto de todo o país. O resultado desta contagem deu uma vitória clara e inequívoca a Venâncio Mondlane e ao partido PODEMOS. Com base nos resultados, Venâncio declarou-se vencedor e disponibilizou-se para trabalhar na transição com a FRELIMO. Entretanto, como é habitual, a CNE, enquanto a contagem decorria, ia publicando resultados que não correspondiam aos relatórios das mesas de voto. O povo, convicto na vitória da Oposição, esperava com ansiedade. A CNE e a Televisão de Moçambique projetavam uma vitória esmagadora da FRELIMO. Entretanto, poucos dias antes da CNE apresentar os resultados finais das eleições, o mandatário do candidato presidencial Venâncio Mondlane, Dr. Elvino Dias, e o mandatário do partido PODEMOS, Dr. Paulo Guambe, foram barbaramente assassinados com 25 tiros no centro de Maputo. A população moçambicana rejeita unanimemente os resultados apresentados pela CNE. A morte dos dois políticos veio intensificar a tensão no país. Os observadores nacionais e internacionais, mormente os da União Europeia, denunciaram a fraude e exigem que a CNE apresente os editais originais que sustentam a vitória de Daniel Chapo. Como a FRELIMO não consegue comprovar a sua vitória, insiste em declarar o seu candidato Daniel Chapo como vencedor das eleições. O povo moçambicano, soberanamente, está a levar a cabo todos os dias manifestações pacíficas por todo o país, exigindo respeito à sua decisão mostrada nas urnas. Enquanto isso, o MPLA, parceiro em tudo, apressou-se em felicitar Daniel Chapo e a sua FRELIMO (partido perdedor das eleições).
No nosso país, o assunto não vai fugir à regra do que se está a viver um pouco por todos os países africanos. Temos um país com um governo completamente antidemocrático, que reiteradamente realiza fraudes eleitorais. Em Angola, os jovens que se expressam em liberdade acabam na cadeia. Há vários jovens presos políticos, assassinatos de queima de arquivo, jovens e crianças abusadas sexualmente pela polícia nas esquadras, com total impunidade, famílias inteiras a comer do lixo, com a população humilhada a dormir nas ruas da Europa, a terceira idade abandonada... O cansaço da má governação é tal que o povo não aceitará nenhum pedido de serenidade caso sinta que se lhe roubem mais uma vez as eleições em 2027. A Angola também chega aos ventos da mudança, já patentes em vários países africanos. Neste momento, todas as ditaduras africanas estão na corda bamba e têm os dias contados. Os jovens estão a gritar alto e em bom som: queremos liberdade, queremos oportunidades e não queremos continuar a ser humilhados na Europa. Uma África livre e justa para todos os seus filhos e filhas. Abaixo as ditaduras e os ditadores. 50 anos é uma eternidade.