Luanda - Quando as eleições na Namíbia tiveram início a 27 de novembro e se prolongaram até sábado, 30 de novembro, tornou-se evidente que a oposição, em particular o IPC, enfrentou reveses significativos. Apesar das expectativas elevadas e de uma campanha agressiva, o desempenho do IPC levantou questões sobre os factores que contribuíram para as suas aparentes dificuldades eleitorais. Vamos analisar as principais questões que parecem ter feito descarrilar as suas ambições.
Fonte: Club-k.net
1. ALEGAÇÕES DE INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA E LIGAÇÕES AO REINO UNIDO
Uma das narrativas mais prejudiciais em torno da CIP tem sido as suas alegadas ligações a entidades estrangeiras, particularmente ao Reino Unido. O Dr. Panduleni Itula, líder do partido, há muito que se considera um patriota, mas os críticos apontam a sua residência de décadas no Reino Unido e os seus laços estreitos com organizações ocidentais como uma contradição.
- Ligações pessoais e partidárias: A mulher de Itula é cidadã britânica e, segundo consta, desloca-se frequentemente à Europa para se encontrar com investidores internacionais. Além disso, o IPC tem sido acusado de utilizar fundos provenientes de subsídios concedidos à International University of Management (IUM), uma instituição namibiana ligada a fundos ocidentais, para financiar as suas campanhas.
- Controvérsia diplomática: A presença do Alto Comissário britânico Charles Moore numa gala organizada por funcionários ligados ao IPC, incluindo o presidente da Câmara de Walvis Bay, Trevino Forbes, alimentou a especulação sobre uma influência estrangeira indevida. Este facto deu origem a um escrutínio público e pôs ainda mais em evidência a alegada dependência do IPC em relação aos apoiantes ocidentais.
Estas percepções lançaram dúvidas sobre as credenciais nacionalistas do IPC, alienando os eleitores cépticos quanto à interferência externa na política namibiana.
2. FRACTURAS INTERNAS NA COLIGAÇÃO DA OPOSIÇÃO
A incapacidade do IPC para manter a harmonia no seio da coligação da oposição também contribuiu para os seus desafios. A coligação, que inicialmente procurou apresentar uma frente unida, caiu em lutas internas devido a falhas de governação em municípios importantes como Windhoek.
- Discussões públicas: O porta-voz do IPC, Imms Nashinge, culpou publicamente os outros partidos da oposição pelo fraco desempenho da coligação, o que provocou reacções dos parceiros da coligação, como o Movimento Democrático Popular (PDM). A discórdia culminou com manifestações de apoiantes do PDM, que instaram o seu líder, McHenry Venaani, a cortar os laços com o IPC.
- Danos à reputação: Estas lutas internas não só prejudicaram a credibilidade do IPC enquanto parceiro político fiável, como também enfraqueceram o apelo da oposição em geral junto dos eleitores que procuram estabilidade e uma governação eficaz.
3. ACUSAÇÕES DE REPRESSÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A alegada intolerância do IPC em relação às críticas também prejudicou a sua imagem democrática. Em 22 de novembro, surgiram relatos de que apoiantes do IPC estavam a ameaçar indivíduos que expressavam críticas ao partido, alegadamente sob ordens diretas do Dr. Itula.
- Visar os dissidentes: Influenciadores e críticos, como o bloguista Ou Xam Tangeni, relataram ter recebido ameaças. Tangeni, um crítico acérrimo dos laços do IPC com o Reino Unido, terá desaparecido, o que suscita preocupações quanto a intimidações políticas.
- Acusações de denúncia: Josua Mwetupunga, um antigo colaborador próximo de Itula, acusou-o de comportamento autoritário, alimentando ainda mais as narrativas de práticas antidemocráticas no seio do IPC.
Estas alegações afastaram os eleitores que valorizam a liberdade de expressão e a responsabilização.
4. CAMPANHAS DE DESINFORMAÇÃO E DE APOIO FALSO
A estratégia online do IPC também foi alvo de críticas. Uma investigação efectuada pelo IOL revelou que o partido recorreu a comentadores pagos para criar a ilusão de um apoio generalizado das bases. Esta campanha de desinformação foi objeto de fortes críticas por parte de observadores locais e internacionais.
- Tácticas de manipulação: A investigação revelou como estes comentadores foram instruídos para inundar as redes sociais com narrativas pró-IPC, minando as alegações de popularidade orgânica do partido.
- Crise de credibilidade: Estas revelações mancharam a reputação do IPC e alimentaram o ceticismo entre os eleitores que dão prioridade à transparência.
5. RETÓRICA VIOLENTA E PROIBIÇÃO DA PÁGINA DO FACEBOOK
A imagem pública da IPC sofreu outro golpe quando a sua página oficial no Facebook foi banida por incitar à violência. As publicações que encorajavam a agitação e os rumores de actividades militantes no Zimbabué destinadas a tomar o poder pela força afastaram ainda mais os eleitores moderados.
- Reação nas redes sociais: A eliminação da página do IPC seguiu-se a críticas generalizadas à alegada promoção da desordem por parte do partido. O incidente veio reforçar as preocupações quanto ao empenhamento do partido em processos democráticos pacíficos.
6. INCIDENTES REPETIDOS DE DESINFORMAÇÃO
O Dr. Itula foi apanhado em vários casos a espalhar desinformação, prejudicando ainda mais a credibilidade do IPC. Dois exemplos notáveis incluem:
- Afirmar que a Constituição da Namíbia foi “escrita por países ocidentais”, uma afirmação desmentida pelo Namibia Fact Check.
- Fornecer relatos contraditórios sobre a sua anterior filiação na SWAPO, levantando questões sobre a sua consistência e fiabilidade como líder político.
O QUE É QUE ISTO SIGNIFICA PARA AS ELEIÇÕES NA NAMÍBIA?
À medida que os resultados vão chegando, os dados preliminares e as reacções do público sugerem que a SWAPO está preparada para manter a sua maioria na Assembleia Nacional. Além disso, parece provável que Netumbo Nandi-Ndaitwah se torne a primeira mulher presidente da Namíbia, o que constitui um marco significativo na história política do país.
Apesar de os partidos da oposição, como o IPC, terem dinamizado segmentos do eleitorado, a sua incapacidade de resolver questões fundamentais como as alegações de influência estrangeira, a discórdia interna, a supressão da dissidência e as lacunas de credibilidade prejudicaram o seu apelo mais alargado. Estes desafios realçam a complexidade da paisagem política da Namíbia e a influência duradoura da SWAPO como força política dominante.
À medida que a poeira assenta nesta época eleitoral, as lições para todos os partidos são claras: os eleitores namibianos exigem transparência, unidade e um compromisso genuíno com os valores democráticos. Para o IPC, estas eleições poderão constituir um momento crucial de introspeção e recalibração, caso pretenda continuar a ser um ator importante no futuro.
João Mário de Azevedo