Luanda - A UNITA considera “inconcebível” o facto de não existir dinheiro para atacar as causas estruturais do surto da cólera e das endemias da malária e da febre tifóide, “mas há dinheiro para um dispendioso e multimilionário programa de festas e comemorações no país”.
Fonte: Club-K.net
Na sua declaração política na sessão plenária desta quarta-feira, 22, o Grupo Parlamentar da UNITA ressaltou que o Governo alega a falta de dinheiro para pagar os salários dos angolanos, para tratar e distribuir água potável e energia eléctrica para todas as famílias, “mas há dinheiro para pagar os salários milionários da selecção de futebol da Argentina – só para festejar e dinheiro para construir mais um satélite fantasma, o ANGOSAT-3”.
Na constatação da UNITA a pobreza extrema aumentou 82% em oito anos e afecta 11,6 milhões de angolanos, e lamenta que “não há dinheiro para combater a pobreza extrema, mas há dinheiro para a propaganda institucional, que não mata a fome, e há muito dinheiro para a consultoria externa que retira oportunidades para os quadros angolanos”.
No documento lido pelo líder da bancada parlamentar, Liberty Chiyaka, a UNITA, que rendeu a homenagem aos líderes dos três movimentos de libertação nacional, que lutaram pela conquista da liberdade e soberania do povo angolano, refere que o 11 de Novembro é uma data que deve orgulhar cada angolano e fortalecer o seu espírito patriótico.
“Uma data que deve renovar a nossa capacidade de reflectir sobre os caminhos que ainda nos faltam trilhar para realizar o sonho da Independência”, lê-se.
Para o partido do “galo negro”, “o dia 11 de Novembro não é propriedade de nenhum líder, não é património de nenhum movimento de libertação, não é monopólio de ninguém”, sublinha, reforçando que “o 11 de Novembro é conquista do Povo angolano”.
A formação política fundada por Jonas Savimbi sustenta que, “hoje, a luta pela Independência é a luta contra a fome, contra a exclusão e contra a corrupção, pelo respeito escrupuloso dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos”, disse Liberty Chiyaka, acrescentando que “a luta deve ser pela democracia, pelas autarquias, pela reestruturação da economia e pela boa governação. A luta pela Independência hoje é a luta pela supremacia da Constituição e pela alternância no poder”.
Conforme se pode ler na declaração política, comemorar a Independência de Angola é aceitar a crítica pública para melhorar a governação e a prestação de serviços com qualidade. “Não apenas a crítica que nos convém, mas as críticas profundas, que descobrem os vícios das elites e denunciam os erros dos governantes e da superestrutura do Estado”.
“Ao celebrarmos os 50 anos da Independência Nacional, temos de ter a coragem de nos olharmos olhos nos olhos e reconhecer, aqui e agora, o nosso passivo como Povo e Nação e potenciar as forças e as sinergias do presente para construirmos juntos um futuro seguro e próspero para as gerações vindouras. Esta construção deve começar agora”, frisa.
Segundo a UNITA, o primeiro passo “é reconhecer aqui, nesta sala, que a raiz de todos os males que enfermam a nossa colectividade política e social é a existência real de um Partido-Estado numa República que se quer democrática”, para quem “não se trata de um partido-Estado qualquer”, pois “estamos em presença de um Regime que capturou o Estado, para deter o controlo da economia e dos recursos do país”.
Na visão da UNITA, o MPLA é um “partido-Estado que utiliza a Constituição, não como fundamento do poder democrático, mas como um instrumento para se eternizar no exercício do poder autocrático, porque a sua motivação, a sua atitude perante o país e a sua governação contrariam os valores e os objectivos que nortearam as lutas dos milhares de heróis pela Independência de Angola”.
A declaração política considera ainda que “o regime, ao promover o desinvestimento na educação das maiorias – que gera o desemprego e as desigualdades entre pessoas, regiões e grupos sociais – age contra a paz, contra a democracia e contra a justiça e o progresso social”.
Para o Grupo Parlamentar da UNITA, ao persistir numa política de endividamento sem limites e sem sustentabilidade, o Governo do MPLA “atrofia o desenvolvimento sustentável e compromete o futuro do país”.
“Ao bloquear sem sentido a participação dos cidadãos na governação dos assuntos públicos locais através das Autarquias, o regime promove a pobreza e facilita o surto da cólera nas comunidades pobres, porque bloqueia também o saneamento básico, a educação para todos e o bem-estar social”, avança.
Segundo ainda os “maninhos”, ao festejar os 50 anos de Independência, “enquanto a maioria do povo vive na extrema pobreza, passa fome e a grande maioria da juventude está desempregada, o regime está a festejar os seus próprios feitos: a autocracia que conseguiu implantar no lugar da democracia”.
Para a UNITA, o regime do MPLA, no actual contexto, vai festejar igualmente “a acumulação primitiva do capital por via do peculato, da corrupção e da impunidade e os monopólios que conseguiu estabelecer para sufocar a liberdade económica dos cidadãos durante os 50 anos de governação”, cuja maioria do povo, de acordo com a declaração política, “passa fome, tem muito que reflectir, mas pouco ou nada para festeja”.