Luanda - O escândalo dos reembolsos fraudulentos na Administração Geral Tributária de Angola, que terá causado um prejuízo superior a sete mil milhões de kwanzas, expõe fragilidades no sistema de fiscalização e gestão pública.

*Manuel Luamba
Fonte: DW

Como terá sido possível o alegado esquema de reembolsos fraudulentos do Imposto sobre o Valor Acrescentado, que terá lesado o Estado angolano em mais de sete mil milhões de kwanzas (o equivalente a mais de 7 milhões de euros)?

São questões que continuam a agitar a sociedade angolana. O Ministério das Finanças anunciou uma auditoria aos "sistemas, processos e procedimentos em uso" na AGT, depois da detenção de vários funcionários, incluindo o chefe de arrecadação de receitas.

Para o jornalista José Gama, o problema da AGT começa no topo: "Nomearam-se muitos jovens para esta instituição para ocupar altos cargos de chefia e, quando ocuparam essas posições, terão interpretado os cargos de outra forma no sentido de privilegiarem a si próprios em detrimento do Estado."

José Gama acredita mesmo na "constituição de cartéis dentro da instituição".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a investigar o caso. Segundo o Novo Jornal, que cita fontes da PGR, vários administradores da Administração Geral Tributária estarão a ser interrogados e "investigados por supostos atos criminosos".

A ministra das Finanças, Vera Daves, ainda não se pronunciou sobre o escândalo do momento em Angola. Mas, na última sexta-feira (31.01), exonerou Tiago Cordeiro do cargo de administrador da AGT. Nas redes sociais e nas ruas em Luanda, muitos cidadãos exigem também o afastamento da ministra.

A DW contactou o Ministério das Finanças, mas não foi possível obter uma reação.


O jurista angolano Agostinho Canando considera que faltou fiscalização preventiva e sucessiva na Administração Geral Tributária. Segundo Canando, a Inspeção Geral da Administração do Estado (IGAE), o Tribunal de Contas e a Assembleia Nacional deviam ter feito melhor o seu trabalho.

"Atuando de forma preventiva para não ter o erário danificado e depois ter que se correr atrás das pessoas, o que muitas vezes não será possível - resgatar todos os valores retirados do erário”, frisou.

Este caso é também uma prova de fogo para o Presidente da República, João Lourenço, que fez do combate à corrupção o seu cavalo de batalha, explica o jornalista José Gama.

"Para provar que, de facto, o combate à corrupção ainda é válido e é uma bandeira do legado do chefe do Executivo”, referiu.

Desde que foi nomeada ministra das Finanças, Vera Daves sempre frisou o papel crucial do Estado no combate a todos aqueles que desviam dinheiro do erário público.

"Temos a legitimidade de ser implacáveis para fazer sentir na pele de todos aqueles que não estão alinhados às regras as consequências dos seus atos de privar Angola e os angolanos daquilo que precisam e merecem", disse numa das ocasiões em que falou sobre o tema.