Luanda – Em um discurso intenso e carregado de emoção, Julio Bessa, recém-eleito presidente do Partido Cidadania, abordou questões cruciais para o futuro de Angola, destacando a necessidade urgente de uma verdadeira reconciliação nacional, da preservação da matriz religiosa do país e da colaboração entre o Estado e as Igrejas no processo de pacificação. O líder do Cidadania enfatizou a importância de unificar a nação, superando as divisões históricas e promovendo uma sociedade mais justa e equilibrada.
Fonte: Club-k.net
A reconciliação e o perdão: um caminho difícil, mas necessário
No seu discurso, Bessa abordou de forma directa a questão do reconhecimento dos três heróis da Luta de Libertação Nacional – Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi. Apesar do significado simbólico e histórico dessas figuras, Bessa reconheceu que o processo pode ser doloroso para muitas famílias angolanas, vítimas diretas ou indiretas das ações e decisões dessas lideranças durante a guerra. “É necessário lidar com os erros do passado, mas é igualmente importante dar espaço ao perdão”, afirmou, referindo-se ao desafio de tratar o sofrimento gerado por ações de líderes políticos que, em nome da liberdade, tomaram decisões que causaram danos irreparáveis a inúmeras famílias.
Em uma referência clara à necessidade de um processo de pacificação autêntico, Bessa apelou à criação de uma "Comissão da Verdade", uma iniciativa que inspiraria a experiência bem-sucedida de Nelson Mandela na África do Sul. Para Bessa, os líderes espirituais, com a sua imparcialidade e isenção, têm a capacidade de desempenhar um papel fundamental na reconciliação, ajudando a curar as feridas abertas pela guerra. “Precisamos de uma amnistia à mwangolé, onde todos perdoam todos”, afirmou, defendendo um gesto coletivo de perdão que permita ao país superar as cicatrizes do passado e avançar para um futuro de paz duradoura.
A importância das Igrejas na construção da paz e do bem-estar social
Bessa também fez questão de destacar o papel essencial das Igrejas na sociedade angolana, nomeadamente na resposta às necessidades mais urgentes da população. O líder do Cidadania lembrou que a esmagadora maioria dos angolanos ainda se identifica com a matriz religiosa cristã, e que esta base espiritual deve ser preservada como um elemento fundamental da cultura do país. "É a matriz religiosa do nosso povo. Temos de preservá-la e defendê-la a todo o custo", afirmou.
Para Bessa, as Igrejas desempenham um papel central na resolução dos problemas sociais, apoiando as comunidades, apaziguando os casais em conflito, ajudando as famílias desestruturadas e prestando assistência a jovens e adultos em situações de vulnerabilidade. Ao falar sobre o apoio espiritual e material fornecido pelas instituições religiosas, Bessa frisou a necessidade de o Estado cooperar mais estreitamente com as Igrejas. “Quem, senão os líderes religiosos, cuida das famílias que enfrentam dificuldades, dos jovens frustrados, dos dependentes e dos que sofrem? São as nossas Igrejas que, frequentemente, tomam nas mãos os problemas sociais que o Estado não consegue alcançar de forma eficaz”, afirmou.
Julio Bessa defendeu uma parceria mais eficaz entre o Estado e as Igrejas, sem que isso comprometa a laicidade do Estado, mas reconhecendo o papel vital dessas instituições na promoção do bem-estar social. O líder do Cidadania sugeriu que o Estado poderia apoiar as Igrejas, fornecendo-lhe os meios logísticos e metodológicos para ampliar a sua intervenção nas comunidades, principalmente nas zonas mais carenciadas.
A regulamentação das Igrejas e as barreiras ao seu reconhecimento
Outro ponto relevante do discurso de Bessa foi a crítica ao processo de regulamentação das Igrejas em Angola. O líder do Cidadania questionou as barreiras impostas pelo Estado, observando que, enquanto os partidos políticos exigem 7.500 assinaturas para o seu reconhecimento, as Igrejas cristãs necessitam de um número excessivo de assinaturas para a sua legalização – até 60.000 no passado, e entre 20.000 e 40.000 atualmente, com representação em todas as províncias.
Bessa sugeriu que Angola poderia aprender com a experiência de outros países, como o Brasil, Quénia e Gana, onde o reconhecimento das Igrejas não resultou em conflitos inter-religiosos, mas, pelo contrário, contribuiu para a paz social. O líder do Cidadania apelou à revisão das políticas que limitam a liberdade religiosa, considerando-as desnecessárias em um contexto em que se observam tentativas de expansão de movimentos religiosos radicais no país.
“Não podemos permitir que os direitos inalienáveis das mulheres angolanas sejam violados, especialmente depois de todas as lutas pela independência e pela emancipação. A nossa cultura, a nossa matriz religiosa e os direitos das mulheres não podem ser pisoteados”, declarou, alertando para os riscos que a imposição de outras religiões, alheias à tradição cristã angolana, pode representar.
Conclusão: A unidade como chave para o futuro de Angola
Para Julio Bessa, o futuro de Angola depende da capacidade do país em se reconciliar consigo mesmo, superando as divisões do passado e unindo todos os angolanos, independentemente da sua origem política ou religiosa. O líder do Cidadania reafirmou o compromisso do partido com a construção de uma Angola mais inclusiva, pacífica e próspera, onde todos possam viver em harmonia, sem exceções.
“Este é o momento de abrir os corações para o perdão e a reconciliação. É o momento de deixar para trás o peso do passado e construir uma Angola em que todos se sintam verdadeiramente pertencentes. Somente assim poderemos garantir que as gerações futuras desfrutem de uma paz duradoura e de um futuro mais justo”, concluiu Bessa, apelando a todos os angolanos para que se unam em torno da paz e do bem-estar coletivo.