Luanda - O presidente do Partido Cidadania, Julio Bessa, criticou as disparidades nas exigências legais para o reconhecimento das igrejas em Angola, apontando que, enquanto os partidos políticos precisam reunir 7.500 assinaturas, as igrejas cristãs enfrentam um número consideravelmente maior de 20 a 40 mil assinaturas e uma representação em todas as províncias. Em discurso recente, Bessa afirmou que essas barreiras são uma afronta à liberdade religiosa e à identidade sociocultural do país, sugerindo uma abordagem mais inclusiva e justa, semelhante à de países como o Brasil, o Quénia e o Gana.

Fonte: Club-k.net

Bessa apontou para exemplos de países como o Brasil, o Quénia e o Gana, que, segundo ele, têm uma abordagem mais equilibrada e inclusiva em relação ao reconhecimento das igrejas, sem criar tensões inter-religiosas. O líder do Cidadania fez um apelo ao governo angolano, sugerindo que fosse permitida uma expansão mais livre da matriz religiosa cristã no país, a qual, segundo ele, é parte fundamental da identidade do povo angolano. Para Bessa, é essencial que as igrejas sejam reconhecidas de forma mais justa, sem imposições desnecessárias que dificultem a sua atuação.

 

A Necessidade de Reconciliar o Passado e Construir um Futuro de Paz

Julio Bessa também abordou a delicada questão do reconhecimento dos três heróis da Luta de Libertação Nacional – Agostinho Neto, Holden Roberto e Jonas Savimbi. Para o líder do Cidadania, a honra a estas figuras pode causar divisões profundas, especialmente entre as famílias angolanas que sofreram as consequências das ações e decisões tomadas por estas figuras durante o conflito. Bessa levantou a questão sobre como lidar com os crimes cometidos sob a sua liderança, muitos dos quais, segundo ele, foram cruéis e hediondos.

Como proposta para a pacificação do país, Bessa defendeu a criação de uma “Comissão da Verdade” liderada por líderes espirituais, com o objetivo de proporcionar um ambiente de isenção e imparcialidade, onde as vítimas e os responsáveis possam, finalmente, encontrar o perdão e a reconciliação. “Precisamos de uma amnistia à mwangolé, onde todos perdoam todos”, afirmou Bessa, citando o exemplo de Madiba (Nelson Mandela) e a experiência de pacificação da África do Sul.

Bessa argumentou que, para que a reconciliação seja genuína, deve haver um processo transparente e inclusivo, onde todos, sem exceção, possam deixar para trás os traumas do passado. Ele sublinhou que os movimentos de libertação, transformados atualmente em partidos políticos, não têm a moralidade necessária para liderar esse processo, uma vez que, em grande parte, foram responsáveis por muitas das atrocidades cometidas durante o conflito. "Não se pode ser juiz em causa própria", afirmou, com veemência.

 

O Papel das Igrejas na Reconfiguração Social

Em relação à colaboração entre o Estado e as Igrejas, Bessa destacou o papel vital que as instituições religiosas desempenham no bem-estar da população, especialmente nas áreas mais carenciadas. Para ele, as Igrejas não só têm uma função espiritual, mas também social, ao oferecerem apoio emocional e material às famílias mais vulneráveis. Bessa sugeriu que o Estado, em vez de se ver como um competidor, deveria colaborar com as Igrejas, fortalecendo-as através de parcerias que permitissem aumentar a sua capacidade de intervenção nas comunidades.

“A maioria de nós foi educada segundo uma matriz cristã, e as Igrejas são as principais responsáveis por cuidar daqueles que mais precisam nas nossas comunidades”, sublinhou Bessa, defendendo que uma parceria mais dinâmica entre o Estado e as Igrejas contribuiria para a resolução de vários problemas sociais.

 

Preservação da Identidade Cultural e Religiosa Angolana

Ao abordar a questão da preservação dos valores culturais e religiosos de Angola, Julio Bessa fez um alerta contra a crescente presença de ideologias que não condizem com a matriz religiosa e cultural angolana. Segundo Bessa, Angola é uma nação fundamentalmente cristã, e é essencial que a sociedade proteja e preserve esse legado. Ele frisou que qualquer pessoa que deseje viver em Angola deve respeitar os valores e os hábitos da população angolana, e não o contrário.

“Quem escolher viver em Angola tem de se adaptar aos nossos valores e hábitos, e não o contrário”, afirmou Bessa, apelando a um pacto social que respeite a identidade cultural do país. Para ele, o governo deve ser resoluto na defesa dos valores que definem a nação angolana, e agir sempre com base nos princípios consagrados na Constituição.