Luanda - Na tradição da cultura bantu, da minha Terra, a Mulemba (árvore majestosa de família moráceas) representa o símbolo da realeza e do poder. Ela encarna a tradição, o costume, a justiça restaurativa, o direito consuetudinário, a união, a harmonia, a convivência, o altruísmo, o consenso, o dialogo, os compromissos e a coexistência pacífica entre os povos e as nações.
Fonte: Club-k.net
A Mulemba é o símbolo ancestral que estabelece a comunicação entre os vivos e os mortos, entre a ancestralidade e o presente e entre a comunidade e a soberania. Acima de tudo, a Mulemba é a fonte da sabedoria, do amor, da santidade, da fertilidade, da prosperidade e do progresso.
Por outro lado, a Mulemba é um Santuário espiritual, é um Njango, é um Tribunal, é uma Casa das Leis e é uma Escola. Os valores familiares, o respeito aos mais velhos, o equilíbrio social, a coletividade e a dignidade humana encontram o seu espaço amplo e harmonioso na sombra da Mulemba, cujo esplendor acalenta a nossa alma, desperta a nossa consciência, encanta o nosso espiríto e inspira a nossa força anímica.
Logo, a Mulemba é tudo que nos dizem respeito em termos da cultura, como um conjunto de conhecimentos, de costumes, de instituições e de obras de um povo. Sendo isso, no seu conjunto, um esteio de uma Nação, que constitui a herança cultural de uma comunidade ou de um grupo de comunidades dentro de um Estado.
Portanto, a soberania não é uma coisa oca ou abstrata; mas sim, é um conjunto de instrumentos, de aparelhos e de mecanismos do poder, assentem num ideário concreto e substantivo, inspirando por um conjunto de valores, de princípios e de métodos. Noutras palavras, os conhecimentos e o saber são frutos da«identidade cultural»,que se constrói e se transforma por mudanças sociais, e transmitida de geração em geração.
Isso para dizer que, estamos diante um mundo em constantes transformações muito profundas. Por isso, este contexto exige de nós inteligência, sabedoria, coragem e discernimento mais apurado para perceber e adaptar-se aos fenómenos complexos e sofisticados do Universo em que nos encontramos. Como disse atrás, o mundo não está estático, ele muda e transforma-se constantemente, alterando os contextos, as circunstâncias, os equilíbrios e as doutrinas.
O dogma, como doutrina, não tem lugar na ciência política, que desafia o contraste entre o poder político e o poder económico, no âmbito da transformação tecnológica, que sustenta o poder global e a supremacia mundial. Nesta referência, o expansionismo territorial faz parte da doutrina do poder, não obstante a existência do Direito Internacional, que consagra a soberania do Estado e a integridade territorial.
No passado, a diferença entre o Capitalismo Ocidental e o Capitalismo do Estado Socialista baseava-se no modo da produção, da propriedade, da acumulação do capital e da distribuição do poder e da riqueza. Hoje, no mundo da globalização, existe a aproximação entre a oligarquia capitalista da extrema direita e a oligarquia totalitária do partido-estado. Ambos coincidem no princípio da centralização dos poderes político, económico, financeiro e judiciário, tidos como sendo instrumentos eficazes para a produção em grande escala, para acumulação da riqueza, para a conquista do poder, para o exercício do poder e para a manutenção do poder.
Como tal, o autoritarismo e o totalitarismo estão a afirmar-se como doutrinas do imperialismo mundial, em detrimento da democracia plural, que assenta na separação dos poderes. Esta corrente ideológica encontra terrenos férteis em África Subsaariana onde estão concentrados uma boa parte dos mineiros preciosos e raros que sustentam a transição energética. Esta conjuntura mundial constitui um grande desafio às democracias africanas asfixiadas pelos regimes corruptos e autocráticos, que manipulam as instituições públicas e oprimem a população através da fome e da pobreza extrema das comunidades locais.
Voltando ao assunto da Mulemba, durante a minha recente visita ao Leste de Angola, na localidade de Lukusse, ao chegar em baixo da Mulemba, onde os restos mortais do Doutor Jonas Malheiro Savimbi foram exibidos (22/02/2002) barbaramente ao Mundo, eu fiquei com calafrio, a minha consciência ficou perturbada e o peso da história caiu sobre os meus ombros. Era horrível!!
Porém, o contexto de 2002, caracterizado por desequilíbrio absoluto e extremo, não é o mesmo contexto de 2025. Pois, a consciência da Mulemba e do seu redor está absolutamente transformada em todo o país. O grau da consciência democrática atingiu os níveis muito elevados, caracterizado por uma Revolução Democrática ascendente contra o autoritarismo selvagem, corrupto e feroz.
Digo que, em baixo da Mulemba estavam muitos jovens e muitas crianças de pé e sentados – bem animados. Conscientes daquilo que estava de facto acontecer. O Presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, e sua Comitiva, estavam em peso, e a Vila do Lukusse estava bem movimentada. Toda a atenção estava virada à «Mulemba Centenária», situada numa posição única e privilegiada da Vila do Lukusse, ao longo da via principal entre a Cidade do Luena e as Vilas do Lumbala Nguimbo e de Kangamba.
Creio que, no contexto do Património Natural, se há Bens de valores históricos, que a UNESCO deve proteger no Leste de Angola, é aquela Mulemba imponente, que emergiu do tempo colonial e que testemunhou o tráfico negreiro, a colonização, a evangelização, a exploração, a opressão, a luta de libertação, a descolonização, o partido único, a guerra fria, a guerra civil angolana, o calar das armas e o multipartidarismo.
De facto, naquela Mulemba, do extremo Leste de Angola, é o Monte Calvário onde Jesus Cristo foi humilhado, desprezado, blasfemado, torturado e crucificado. Por vontade de Deus, no terceiro dia, Jesus Cristo ressuscitou. Halleluyah!
Na realidade, é naquela Mulemba do Lukusse onde reside o grande desafio do amor ao próximo, da humanidade, do patriotismo, do nacionalismo, da angolanidade, da reconciliação nacional, da paz duradoira, da conservação da natureza, e sobretudo, da preservação da História e da valorização da Humanidade.
Em síntese, a localidade do Lukusse fica na linha reta do Muangai (Oeste) e de onde se realizou a XVI Conferência Anual do Partido, na margem direita do rio Lungué-bungo. Na localidade de Kunguene, Presidente Fundador, Jonas Savimbi, no seu Discurso magistral, do dia 8 de Abril de 2001, procedeu a um Balanço de 35 anos.
Neste Informe, apontou em detalhes os passivos; enalteceu as grandes conquistas; indicou os caminhos prováveis; e perspectivou o futuro, num contexto distinto da Nova Ordem Mundial. Importa salientar que, tudo isso aconteceu na mesma área do Muangai e de Kassamba onde a UNITA foi fundada no dia 13 de Março de 1966 e onde Jonas Malheiro Savimbi assaltou em cheio o Quartel de Kassamba.
Curiosamente, lendo bem o Discurso a cima referido e olhando para o contexto actual do país, da África e do Mundo, verás que, a visão do Doutor Jonas Malheiro Savimbi apontou com precisão aos factos concretos do presente, que se desenvolvem, na mesma senda estratégica, sem cometer nenhum erro de cálculo. Como foi exposto acima, o dogma, como doutrina, não tem lugar na ciência política, sobretudo no mundo actual da globalização.
Por isso, os Angolanos devem buscar novas formas, novos conceitos, novos métodos e novas estratégias de luta democrática para fazer face aos grandes desafios do autoritarismo e do totalitarismo, quer da extrema-direita quer da extrema-esquerda.
Luanda, 22 de Março de 2025.