Luanda – Um exame genético realizado em 2013 pela DNA Worldwide Group, na Inglaterra, confirmou uma alta probabilidade de que Mihaela Radkova Marinova, cidadã búlgara, seja filha biológica do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto. O teste comparou o perfil genético de Mihaela com o de Gilberto Mariano Agostinho Neto Cardoso, filho de Irene Neto, irmã de Agostinho Neto, revelando uma probabilidade de 95,04% de que ambos sejam primos em primeiro grau. Segundo os especialistas, esta conclusão indica que o pai de Mihaela e a mãe de Gilberto são irmãos de sangue.

Fonte: Club-k.net

O exame, certificado pelo laboratório Eurofins Forensik e acreditado pelo DAKKS Deutsche, baseou-se em rigorosos padrões científicos e forenses. A análise considerou duas hipóteses: a relação de primos em primeiro grau (Hipótese A) ou a ausência de qualquer parentesco entre os dois (Hipótese B). Com uma probabilidade de apenas 4,96% para a segunda hipótese, os peritos determinaram que é “muito provável” que Mihaela seja descendente de Agostinho Neto.

 

Debate sobre Reconhecimento e Pedido de Novo Teste

Desde que tornou pública a sua reivindicação, Mihaela Marinova tem solicitado a realização de um novo teste de ADN com familiares diretos de Agostinho Neto, na esperança de confirmar definitivamente a sua filiação. A divulgação dos resultados deste possível novo exame pode reacender o debate sobre o reconhecimento oficial da cidadã búlgara como filha do histórico líder angolano, tema que permanece sem resolução até à data.


História de Mihaela Marinova

Mihaela Radkova Marinova nasceu em fevereiro de 1974, fruto de uma breve relação entre Agostinho Neto e Radka Marinova, durante a visita do líder angolano à Bulgária, em julho de 1973. Na época, Neto esteve hospedado no Hotel Rila, em Sófia, onde se envolveu com Radka. Contudo, devido à discriminação racial vigente no regime comunista búlgaro, Radka optou por entregar a filha a um orfanato, permitindo que fosse adotada. Após a independência de Angola, a mãe soube que Neto havia se tornado Presidente e, numa visita oficial do chefe de estado à Bulgária, informou-lhe da existência da filha.

 

Durante os anos em que viveu, Neto enviou recursos financeiros para apoiar a filha. No entanto, Radka desconhecia o paradeiro de Mihaela até conseguir localizá-la, em 1989, com a ajuda das autoridades policiais. Mihaela, então com 15 anos, foi informada sobre o seu pai e aconselhada pela mãe a procurar a família paterna, mas pediu que o nome dela não fosse envolvido, devido ao impacto que isso teria no seu casamento. Apesar das tentativas de contacto com familiares de Neto, a aceitação da alegada filha do líder angolano foi limitada, dividindo opiniões entre os membros da família.

 

Em 1999, Ruth Neto, irmã de Agostinho Neto, deslocou-se ao Zimbabwe para conhecer Mihaela e teria identificado semelhanças físicas com membros da família Neto. Ruth tentou impulsionar o reconhecimento de Mihaela, mas enfrentou resistência dentro do círculo familiar. Mihaela, atualmente residente em Londres, trabalha no setor hoteleiro e mantém viva a sua luta por reconhecimento legal.

 

A Busca por Justiça em Luanda

Mihaela Marinova iniciou em 2022 uma ação especial no Tribunal da Comarca de Luanda, solicitando o reconhecimento oficial de paternidade. Apesar das provas genéticas disponíveis, o processo tem enfrentado atrasos significativos, atribuídos à morosidade judicial e à ausência de juízes responsáveis pelo caso. Os representantes legais de Mihaela alegam que todos os atos realizados até o momento foram exclusivamente de sua autoria, sem que a parte requerida tenha sido formalmente citada. A cidadã búlgara continua a lutar pelo reconhecimento de suas origens, enquanto o caso expõe fragilidades do sistema judicial angolano.