Luanda - Hoje, uma amiga contou-me que foi chamada de woke, com um tom pejorativo. Não sabia se se devia sentir ofendida, porque, na verdade, não compreendia bem o que essa palavra significava. Então, expliquei-lhe.
Fonte: Club-k.net
A expressão woke tem origem nas lutas políticas das comunidades negras nos Estados Unidos, particularmente no contexto da resistência ao racismo, à violência policial e à exclusão sistémica. Surgiu como parte da linguagem popular afro-americana, onde a frase stay woke “mantém-te desperta” ou “alerta” era um apelo à vigilância constante face à injustiça. Ser woke significava estar consciente, atenta e recusar a normalização da opressão.
Com o tempo, a palavra ultrapassou o seu uso original e passou a ser adoptada por outros movimentos sociais comprometidos com a justiça. Woke passou a designar uma consciência crítica perante o racismo, o sexismo, a homofobia, a desigualdade económica, entre outras formas de opressão. Ser woke tornou-se sinónimo de uma postura activa e informada na defesa da dignidade humana.
Nos últimos anos, no entanto, o termo foi distorcido. Certos discursos políticos e mediáticos esvaziaram o seu conteúdo transformador e passaram a usá-lo como insulto. E sim, de forma intencional. Ridicularizam-se, assim, propostas de equidade e justiça, associando-as a exagero ou a uma suposta radicalização ideológica.
Ao ridicularizar woke, pretende-se não apenas desacreditar quem luta, mas também desmotivar quem poderia juntar-se à luta. Hoje, muitas pessoas hesitam em defender causas justas com receio de parecer “demasiado woke”. Este ambiente de caricatura constante acaba por silenciar consciências, enfraquecer alianças e gerar um medo difuso de se posicionar. E é precisamente esse o objectivo: desmobilizar.
Neste vazio criado pelo medo do ridículo e pelo desgaste do compromisso político, ganharam espaço discursos individualistas e narrativas de extrema-direita, muitas vezes mascaradas de “liberdade de expressão” ou “pensamento crítico”. A rejeição cínica de tudo o que se relaciona com justiça social tornou-se, para alguns, uma forma de afirmação pessoal especialmente entre alguns jovens. Mas esse caminho não é emancipador, é uma armadilha ideológica que transforma frustração em apatia e medo em ressentimento.
A justiça social não pode ser travada pelo escárnio e é precisamente por isso que importa afirmar, sem hesitação, o valor do compromisso com a dignidade de todas as pessoas.
Woke tornou-se muito mais do que uma palavra. O ataque ao termo é também o ataque a tudo o que ele representa: um corpo insurgente, uma voz que recusa o silenciamento, uma vida que exige ser vivida com dignidade.
Por isso, é fundamental resgatar o sentido político de woke. Não é uma moda, nem um excesso. É um compromisso com os direitos humanos, com a igualdade, com o respeito pela diversidade e com a construção de uma sociedade mais justa.
Porque, quando a linguagem é manipulada para dividir, silenciar e ridicularizar, é precisamente aí que devemos stay woke!