Luanda - NOTAS DO EDITOR: Aninhas Sachiambo encontra-se neste momento na África do Sul, para exames médicos. Os últimos dias têm sido de consultas, dai as várias  dificuldades que tivemos de enfrentar para localizá-la. Está acamada, depois da cirurgia a que se submeteu. Familiares e amigos puseram hoje à disposição, fotografias captadas do hospitalizar onde se encontra, que esbatem a ligeireza com  que o assunto da  saúde vinha sendo tratado.


* A. Neto
Fonte: A Capital


Pergunta: Quais as razões que estiveram por detrás da sua decisão?

Resposta: Agradeço a persistência... na realidade foi uma decisão que eu tomei, depois de ponderar, de reflectir todas as posições sobre o que haveria de tomar.  Claro que a minha família, a minha mãe, os meus irmãos, que seguem de perto a minha condição física e as exigências que o  próprio trabalho, faz de mim, ajudaram-me e apoiaram-me. Foi um bocadinho extrema, eu percebo, mas foi mesmo para responder a um imperativo.  Portanto, a  minha condição física, faz com que eu não consiga responder, prontamente, as exigências da minha função, de presidente  parlamentar, e de deputada. Porque é aquilo que se diz na gíria: é bom apostar num cavalo que corre. As exigências são cada vez maiores! O momento vai progredindo para altas competições e eu de uma maneira muito modesta e honesta  comigo própria também,  achei que... enfim, devia de momento  ainda, cuidar mesmo da minha situação, da minha saúde. Preciso mesmo de parar, o termo é este, para acatar aquilo que são as recomendações médicas. E é mesmo a razão que faz com que eu esteja aqui na África do Sul, em tratamento médico. Vai na realidade exigir de mim uma paragem... Uma paragem para me recompor. Aqueles que conhecem a minha situação, sabem do que estou a falar.

 

 Tinha uma ideia do impacto que esta decisão iria provocar, pelas simpatias que conquistou, até na própria sociedade?

Bom... É sempre difícil nós próprios nos avaliarmos, não é!?  Eh...eu acredito que ... pode haver extremos! Há quem gostasse de mim, há quem não me suportasse eventualmente! Aliás a própria dinâmica da vida, dita isso, não é? Mas ... pronto, eu tive de fazer uma opção. Eu tive de olhar para mim própria. Talvez alguém considere isso um orgulho demasiado, talvez um ego demasiado ao sacrificar isto ou aquilo... Mas é um imperativo que se põe. Claro que sem saúde, não se pode fazer nada.

 

 Colheu de surpresa a muita gente!


 Bom, é provável!... Talvez eu própria não consiga... enfim reflectir sobre as palavras que me está a dizer!

Também... digamos, foi, digamos um processo que teve de se fazer com alguma celeridade, porque eu tinha prazos ultrapassados, prazos caducados, para ... enfim, poder vir até aqui cuidar-me. E na realidade estou um pouco confrontada com as consequências desses atrasos. E pronto ...tudo fez-se um bocadinho de forma enfim... não digo bem, talvez precipitada? O termo é este,... não é?  Tive de fazer tudo a correr... Mas pronto, é uma decisão que eu tive de tomar... E tudo quanto eu procuro é recompor  completamente a  minha saúde. Porque eu acho que em consciência, enquanto patriota tenho muito a dar ao meu país.

 

 “Como patriota tem muito a dar ao país”... são palavras suas! Vai fazê-lo dentro ou fora da UNITA? Tem ponderado sobre isso?

 Risos... Eu acho que não é preciso especular tanto. A carta que eu enderecei ao partido, vai mesmo no sentido de ... eu parar, por algum tempo... Preciso mesmo de parar. Eu preciso mesmo de me reencontrar... Eu preciso de reencontrar a minha saúde... preciso de estabilizar a minha saúde. Porque só depois disso,  só com saúde mesmo, é que estarei eh... digamos,  em condições de eh... de realizar outras coisas... de fazer outras coisas.  Portanto, eh... eu gostaria de esbater, (risos) esta onda de especulações... esta onda de ... enfim... Esta... prontos, são especulações, não passa disso, não é?! Faz um bocadinho a nossa maneira de ser. Mas, ... gostaria que me compreendessem. Que me dessem esse tempo!

 

 Por quanto tempo mais ou menos gostaria de ficar a descansar? Ou isto dependerá do que prescreverem os médicos ...

Não tenho a menor ideia. Tudo vai depender da forma como eu conseguir ultrapassar as sequelas que eu arrasto comigo. E tão logo eu me sinta em condições, com certeza que não sou daquelas pessoas de ficar parada!

 


Há por cá um sentimento de traição pela decisão que tomou! Pareceu muito radical. Será que não poderia renunciar ao cargo de presidente, mantendo embora a condição de deputada?


...Bom ... esta foi mesmo uma decisão pessoal. Porque, nós temos uma lista grande de deputados, outras valias. E... era preciso. Este grupo ... éramos dezasseis deputados, o número é este. E é preciso mesmo emprestar outro dinamismo a equipe(!) em vez de estar-se ali, sentada ...  Precisamos de alguém que trabalhe sem qualquer dificuldade! É aquilo que eu disse:  na gíria diz-se, que é preciso apostar num cavalo que corre! E eu quis ser mesmo honesta comigo própria... Eu conheço a minha saúde...


Ok... Como figura pública, a vossa vida privada é sempre motivo de conversa. É inevitável. O que se tem dito é que a vossa decisão,  a de deixar o parlamento teria sido influenciada pela vontade de seguir outro caminho na relação afectiva.
A pergunta que coloco, tem alguma relação com o ministro Chicoty?


Risos... Risos ...
 
Olha, eu fui baptizada pelos  pais dele. A minha mãe, baptizou a ele. Nós temos uma relação muito próxima. Não tem nada haver com política. Eh... somos da mesma família... Eh... e claro, nós cultivamos uma certa amizade, uma certa cumplicidade  que não data de agora! É por isso que não... não vejo como é que se pode fazer  tanta confusão a volta de uma decisão política, com uma questão puramente pessoal, né!? Este linkage que se faz, a mim me deixa bastante interrogada. Como é possível misturar alhos com bugalhos!...

 

Mana Aninhas não respondeu a minha pergunta! Há alguma relação com o Dr. Chicoty... para além dos laços familiares... Ou pelo menos há um casamento á vista (?) Fala-se disso entre vós?

Risos... Eu não digo nem sim, nem não!

 

Mas pode acontecer a qualquer altura? O casamento...não é...?

Epa... quem sabe, não é? Eu acho também que sou livre, não é (?) de decidir sobre a minha vida,  sobre o meu futuro... Eh ... e também não vejo se, ele, tal, como é que pode ser letal, numa condição destas! Eu acho muito natural!

 

 Não terá sido ele a influenciar determinantemente a decisão da mana Aninhas... Não foi?

Não. Não tem nada haver uma coisa com a outra! Não tem nada haver uma coisa com a outra. Eu, é por isso que eu digo talvez tenha aguçado demasiado o meu ego. Mas eu... eu sei, eu sinto, eu conheço a minha própria convicção política. E preciso de parar, de repousar, preciso de reparar algumas sequelas, algumas mazelas que me persseguem...

 

Esta questão da saúde foi sendo colocada, fazia tempo. Pediram-lhe da direcção do seu partido, que protelasse. Não foi isto?

 Aliás, quando mesmo eu fui nomeada para a minha função, houve colegas que em jeito de solidariedade de facto me questionaram, não é? Como é que seria possível  na minha condição física, assumir uma função exigente que eu assumi! E sacrifiquei-me enormemente, e hoje tenho as consequências. Eh... não há ninguém que desconhece o sacrifício que eu fiz.  Mas prontos, esse ónus é meu, não quero responsabilizar ninguém. Eh... o que é certo é que a prevalecer, com certeza que  posso ter outras dificuldades. Então quero protelar isso...! Quero cuidar um bocadinho de mim.

 

 A finalizar, quer deixar alguma mensagem para as pessoas que se sentiram incomodadas com a sua retirada?

 Eh... confesso que eh... não imaginava, que houvesse ... Que esta situação criasse uma intranquilidade!  Pelo contrário, eu estou a contar, estou espera de solidariedade. As pessoas que me conhecem muito bem, conhecem a minha situação, conhecem as minhas dificuldades... Eh... esperei solidariedade (do partido). É por isso mesmo que eu agradeço esta oportunidade, para de viva voz, transmitir aquilo que estou a dizer ... Eu sou a mana Aninhas que toda gente conhece. Então peço compreensão... Peço, dêem-me tempo, para que eu me recompor completamente, e poder ficar a altura dos desafios, para a sociedade, para o país, porque achamos que somos todos poucos, para o grande esforço que nós, eh... gostaríamos de, enfim  dar, para vivermos uma situação diferente.