Luanda - O enigma à volta da figura que, tarde ou cedo, irá suceder José Eduardo dos Santos dentro do maior partido político angolano voltou novamente à ribalta, com a realização de mais um congresso extraordinário do MPLA, ainda que o assunto tenha ficado por discutir oficialmente durante o encontro magno. Um conclave que, como acabou depois por se saber da boca do seu secretário para a Informação, Rui Falcão, não trará grandes novidades, já que o eterno problema da sucessão será, uma vez mais, adiado. Ele disse que o assunto da sucessão seria abordado apenas em ulterior reunião do seu Comité Central, que não se sabe ainda quando se realizará.


Fonte: SA


Um assunto que, aliás, parece constituir-se em tabu para os «camaradas», embora façam pensar o contrário. Evitando abordar abertamente este assunto, o MPLA, que tem sobre os ombros inúmeras responsabilidades que podem determinar o rumo deste país e de milhões de angolanos, abre flancos para as mais distintas conjecturas e especulações, acabando por deixar o país refém das suas hesitações. Aparentemente, o assunto pode dizer apenas respeito ao próprio MPLA, mas, na verdade, a questão da sucessão no seio dessa formação política transcende a esfera desse partido, uma vez que pode determinar, nos termos do sistema eleitoral adoptado – por listas partidárias - a própria sucessão na chefia do Estado.


A não abordagem de um tema de tamanha envergadura, num espaço tão amplo que é o congresso, se comparado com outros fóruns menos representativos, como os encontros do Comité Central (CC) ou do seu Bureau Político (BP), poderá convergir para uma série de leituras que descambariam, inevitavelmente, no grau de democraticidade e de abertura no seio do próprio MPLA. Aliás, são cada vez mais questionáveis as razões que fazem com que o MPLA, um partido tido por maduro e experiente, e com um líder de personalidade marcante como José Eduardo dos Santos, não esteja a promover uma verdadeira democracia interna, com o desejado surgimento de mais candidaturas ao seu cadeirão máximo.

 


 É dado adquirido que, embora não tenha sido sujeito à verdade das urnas, o actual presidente do MPLA continua a gozar ainda de uma confortável popularidade no seio do seu partido, e não só. Concorrendo com outros candidatos à presidência do partido, Eduardo dos Santos não teria, é claro, 99,9% dos votos a seu favor, mas ganharia, certamente, com uma margem suficiente para se manter à frente do seu «M».

 

Com a vitória na mão, ele teria maior legitimidade e granjearia mais admiração e respeito, não só junto dos seus camaradas, como também dos seus adversá-los de outras formações polípticas. Não o fazendo, somos força-os a admitir que o MPLA pareci ainda um partido arreigado às práticas do passado, em que todos os angolanos eram mobilizado em torno de «uma só ideia» e de uma «só pessoa», com as consequências pouco catódicas em que o modelo monolítico resultou para o país. O MPLA não devia, portanto, temer o seu passivo. Devia, isto sim, abrir «o jogo» de uma vez por todas, ao invés de deixar o país num suspense de bom tamanho. Os ganhos seriam indubitavelmente maiores.