Luanda - O porta-voz do partido no poder em Angola disse hoje que não se pode confundir «direito de manifestação com arruaça», num comentário ao protesto de sábado contra o Presidente, que terminou com a detenção de vários manifestantes.


Fonte: Diário Digital / Lusa


«Não se pode confundir o direito cívico de exercício da manifestação (...) com arruaça. Em Angola, como em qualquer Estado de direito, as pessoas são livres de se manifestarem, mas essa manifestação não pode pôr em causa o direito de terceiros. Se puser em causa direitos de terceiros, compete às forças de segurança o retorno à legalidade», disse o porta-voz do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Rui Falcão.

 

Centenas de jovens pediram sábado em Luanda a destituição do Presidente José Eduardo dos Santos, no poder há 32 anos em Angola, manifestação que terminou com a detenção de 24 pessoas, segundo a polícia, enquanto fontes próximas dos manifestantes falam em 50 detidos.
 


Famílias querem saber dos detidos

 

Também as famílias desses 24 detidos, de acordo com o número admitido pelas autoridades policiais, exigim que lhes seja comunicada a sua localização: "Existem pelo menos 24 pessoas levadas pela polícia e que as famílias não sabem deles, e a polícia não diz onde estão", afirmou Joel Júnior, irmão do rapper Dionísio "Carbono" Casimiro, um dos organizadores, num contacto telefónico para Lisboa com a Agência Lusa.

 

Falando em informações contraditórias, o irmão de “Carbono” sublinhou que as famílias "querem saber onde estão presos, e as autoridades não dizem nada. Têm esse direito e é o mínimo que a polícia deve fazer".

 

Joel Júnior acusa o regime angolano de "fazer desaparecer as pessoas que estão contra o Presidente. Podem ter sido transportados para cadeias fora da província".

 

Ontem, o rapper foi autorizado a entrar em contacto com a mãe a partir da esquadra do bairro do Prenda, no antigo município da Mayanga, arredores de Luanda, a quem disse que tudo estava bem: "Foi ele que me ligou. Disse-me que estava bem... mas ele tem que dizer isso, não é? Outras informações não pode dar. Mesmo que esteja mal, não pode dizer".


Na mesma esquadra em que está detido o rapper “Carbono” encontra-se também Adolfo Miguel André, outro líder do movimento contestatário. De acordo com o advogado Luís Fernandes Nascimento, este último terá dado entrada na esquadra apenas depois de receber cuidados médicos no hospital. Um caso que, segundo o advogado, não foi único: teriam sido pelo menos três os manifestantes a ser levados inanimados para o hospital.