Lisboa - O eurodeputado Rui Tavares acusou hoje o Governo português de “excesso de timidez” em relação ao poder em Angola, lamentando que “interesses práticos” inibam Portugal de condenar actos como a repressão ocorrida na manifestação de sábado em Luanda.


Fonte: O Publico


images/stories/politica/jes%20cavaco%20silva%20brinde%20angola%20portugal.jpgRui Tavares criticou o Governo português por ainda não se ter pronunciado sobre a violência de que foram alvo cidadãos angolanos e jornalistas portugueses em Luanda, onde no sábado a polícia reprimiu uma manifestação pacífica contra o presidente José Eduardo dos Santos.

 

“Creio que Portugal tem um excesso de timidez em relação ao poder angolano. No caso de alguns portugueses isso vem de interesses muito práticos, sejamos sinceros”, vincou Tavares em declarações à Agência Lusa.

 

O eurodeputado português apontou como exemplo desses “interesses” as ligações que existem entre os governos de Lisboa e Luanda, mas também as empresas privadas, os interesses portugueses em Angola e os investidores angolanos em Portugal. “Há laços de interesse próprio que fazem com que algumas pessoas se descubram silenciosas”, criticou.

 

E depois “há um lado de uma certa timidez como se os angolanos alguma vez fossem agradecer aos portugueses por não se pronunciarem acerca daquilo que (...) qualquer povo do mundo preza: a possibilidade de ser livre e de dizer aquilo que quer”, acrescentou Rui Tavares.

 


O eurodeputado lembrou que tratando-se de Angola o Governo português “não pode ficar calado” e fingir que nada se passou, sobretudo quando a posição de Portugal também tem uma “importância muito grande” naquilo que pode ser a posição da União Europeia.

 

“Quando se trata de violações de direitos humanos em países que historicamente nos dizem respeito Portugal não pode calar-se agora”, frisou Tavares, instando o as autoridades portuguesas a tomarem a palavra e a protestarem, tal como o fizeram, por exemplo, no caso de Timor-Leste.

 

Tavares reconheceu que Angola evoluiu “numa série de aspectos nos últimos anos”, salientando, contudo, que “falta evoluir politicamente”.

 

“Não me parece que os angolanos vão ficar satisfeitos só com um crescimento económico que depois não podem controlar” e sem que possam participar na discussão política de como distribuir essa riqueza, salientou.

 

“E Portugal nisso tem de ser um aliado dos angolanos e não um aliado dos interesses dentro de Angola”, defendeu Rui Tavares.


Centenas de jovens pediram sábado em Luanda a destituição do chefe de Estado angolano, no poder há 32 anos, manifestação que terminou com a detenção de 24 pessoas, segundo a polícia, enquanto fontes próximas dos manifestantes falam em 50 detidos.


A organização Human Rights Watch afirma que pelo menos 30 detidos continuam incontactáveis e com paradeiro desconhecido. Esta terça-feira, 21 dos detidos foram presentes a um juiz para julgamento sumário, que acabou por ser adiado para quinta-feira.