Lisboa - O ministro das Relações Exteriores alertou para o risco de os protestos de rua poderem degenerar em conflitos de proporções incontroláveis.


Fonte: Lusa


"Temos um país com vários grupos étnicos, com várias sensibilidades políticas e se cada um for para a rua e pegar em alguma coisa? É verdade que vamos aceitar algumas manifestações, mas temos que ter o cuidado de que isso não descambe. Temos que ter a certeza que podemos assumir as consequências das opções que escolhermos e nem sempre é assim. Veja como a guerra começou em 1975: todos pensámos que íamos para a democracia e acabámos lutando. É preciso ter esses cuidados", disse Georges Chicoti.


O ministro comentava assim o recente protesto contra o presidente José Eduardo dos Santos, que juntou algumas centenas de jovens em Luanda e resultou na detenção e ferimento de um número indeterminado de participantes, bem como na agressão a alguns jornalistas. Vinte e um dos jovens detidos foram submetidos a julgamento sumário, tendo 18 sido condenados a penas que variam entre 45 e 90 dias.

 

Georges Chicoti, que está em visita oficial a Portugal a convite do seu homólogo português, Paulo Portas, falava aos jornalistas à saída de um encontro privado com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, com quem garantiu não ter abordado este assunto.

 

O ministro angolano sublinhou a importância de "consolidar a democracia e a reconciliação nacional", após 30 anos de guerra, adiantando que em Angola existem "possibilidades para todos os cidadãos apresentarem as suas opiniões".

 

"Não é necessariamente quem está na rua que tem razão, mas pode criar uma situação que não possa depois resolver, nem as forças armadas consigam resolver, nem a polícia consiga resolver. Somos uma democracia e um país jovem, mas se todos quiserem ir para a rua, se todos quiserem usar os meios que entenderem para se manifestar, certamente que não são os poucos jovens que começaram isso que vão poder conter a situação", acrescentou.

 

Chicoti disse ainda que em democracia as pessoas podem manifestar-se e escolher o que querem para o futuro, lembrando que o país terá eleições no próximo ano. "Os partidos políticos terão direito a participar nessas eleições e nem tudo é feito com manifestações ou distúrbios", disse.