Huambo -  Enquanto os órgãos de comunicação estatais chegam ao ridículo de assegurar a positividade do programa de combate à pobreza – não seria melhor à miséria? – que decorre em todo país, a população camponesa angolana garante não ver nada. Uns chegam mesmo ao ponto de recusar a receber o dito crédito agrícola de 10 mil kwanzas, cedidos pelos bancos vocacionados. A mesma opinião (dos camponeses) é também partilhada pelo secretariado provincial da UNITA na Huíla. 


Fonte: Club-k.net


Em entrevista a este portal, a secretária provincial da UNITA, Amélia Judith, decifra a acção do executivo de outra maneira. “Parece-nos que aqui há indícios de combater pobres e não à pobreza”, disse sem papas na língua a “dama de ferro”.

 

 Para ela, a designação do programa do executivo é mais que claro “PROGRAMA INTEGRADO DE COMBATE À POBREZA E DESENVOLVIMENTO RURAL”, mas na prática é completamente diferente. “Porque a designação do programa integrado, significa que engloba todas as vertentes. E este não”, revelou.


 As constatações da UNITA, sobretudo nos meios rural e suburbano, indicam que a população huilana se encontra numa situação muito desagradável. “Não podemos falar do combate à pobreza se as vias de comunicação, por exemplo, não forem devidamente reparadas. Como no caso concreto do município de Chicomba”, exemplificou, garantindo que “se o senhor jornalista viajar para este município (localizado a 100 e tal quilômetros da capital huilana), não vai fazer menos de seis horas”.

 

 De acordo com a mesma, a maior preocupação do seu partido reside na questão de saúde. “Porque nesta localidade, se por alguma razão, houver a necessidade de evacuar uma pessoa com sérios problemas de saúde para o hospital de Lubango. Este doente vai ter de percorrer mais de seis horas, logo a probabilidade de estar em vida é pouca”, aclarou.


 Por outro lado, a secretária provincial da UNITA diz também ser impossível combater a pobreza enquanto existir população a consumir a água não tratada. “se eu levar o senhor para estas localidades vai constatar que os angolanos que vivem nessas comunidades ainda não estão a consumir água não potável”, assegurou, questionando aos órgãos competentes “essa água para todos, que tanto os governantes ‘sabulam’, é para quem?”.


 Enquanto a velha maka da agricultura, Amélia Judith salienta que a falta de orientação por parte do executivo tem dificultado a vida dos agricultores daquela província. “Hoje a população está a fazer agricultura ao Deus dará. Sem orientação”, lamentou.

 

 De acordo com a mesma, para se combater realmente a pobreza, na vertente agricultura, é preciso – além de engenheiros – levar em conta os regentes agrícolas, no sentido de orientar, e ajudar, as populações naquilo que devem cultivar em cada época. “E hoje, a população faz um cultivo de sobrevivência”, enfatizou.

 
Outrossim, a nossa entrevistada diz que existe uma grande desorientação no que tange a distribuição dos referidos créditos agrícolas. “Parece-nos que o governo quer fazer negócios com os camponeses ao invés do fomento agrícola”, sustentou Amélia Judith, salientando que “aqui não há fomento agrícola, mas sim negócios com os camponeses. Porque os empresários locais que têm inputs agrícolas estão a exigir, dos camponeses, o reembolso num prazo de seis meses”.

 
“Mas uma vez digo que os nossos governantes estão a governar no espaço. Porque nenhum camponês consegue, provavelmente, produzir em seis meses para reembolsar aos empresários. Eu não sou agrônomo, mas sei que uma coisa que se pode cultivar neste período é a hortaliça e a batata rena, além disso, não existe outra coisa”, afiançou.


 Por estes e outros motivos, a “maninha” Judith acredita que este programa de combate a pobreza, na sua essência no papel, é interessante, mas na prática tem muita insuficiência. Para o seu melhoramento, a número um da UNITA na Huíla sugere: “mais fiscalização e seriedade. Uma vez que, o que está na prática não corresponde aquilo que está de facto concebido em termos de programa como tal”.