O sistema eleitoral vigente (leis, orgãos, procedimentos, etc.), confere ao MPLA condições propícias para praticar a fraude – igualmente facilitada pelo controlo quase hegemónico que tem sobre o Estado, a administração e as grandes empresas. O regime também conta com uma predisposição internacional para validar o resultado eleitoral
Nas expectativas perceptíveis em meios do regime, o resultado considerado política e socialmente conveniente apresenta particularidades como as seguintes:
- Vitória “folgada” do MPLA – mais de 55%, i.e., superior à alcançada em 1992; distribuição equilibrada da sua votação em todo o território; confirmação da sua base de apoio em áreas consideradas tradicionais como Luanda, Bengo, Kwanza-Norte e Kwanza-Sul; recuperação de áreas perdidas para a UNITA em 1992, em especial Benguela; bom resultado em Cabinda, de preferência uma vitória.
- Derrota “honrosa” da UNITA – pouco menos de 40%, i.e., inferior a 1992; conservação da sua anterior maioria eleitoral em áreas de notória implantação etno-política, como o Huambo e Bié; bons resultados no Moxico, Kuando-Kubango, Lunda-Sul e Uíge.
- Esvaziamento da FNLA e pulverização dos pequenos partidos, em especial o PRS, que no conjunto terão c 10%.
2 . O recurso à fraude para alcançar o resultado esperado, bem como a sua subsequente validação internacional, serão facilitadas por artifícios presentes em toda a campanha eleitoral do MPLA como o de promover exaustivamente a ideia de um maciço apoio popular, enquanto a oposição não – por estar desarticulada.A promoção mediática e propagandística da ideia de que o MPLA goza de apoio popular expressivo destinou-se a criar uma harmonia entre tal realidade, considerada ilusória, e um resultado eleitoral a atingir e/ou a compor com o emprego de meios menos transparentes.
Este desígnio do MPLA é favorecido por vantagens como o poder e as influências do Estado que usa em seu benefício. Os grandes meios de comunicação social, todos do Estado, são parciais no tratamento da campanha; os fundos de que o MPLA dispõe, em geral obtidos indevidamente, são muito abundantes.Para a aceitação internacional do resultado das eleições o MPLA e o regime também contam com os reflexos de um forcing (AM 297) destinado a disseminar ideias como a “exemplaridade” do processo eleitoral (equidade das leis e independência das instituições destinadas a vigiar a sua aplicação).
3 . Um dos motivos da incerteza do MPLA em relação ao efectivo apoio com que pode contar no eleitorado decorre da noção de que a sociedade evoluiu e as camadas mais jovens manifestam uma atitude de insubmissão (AM 303), fenómeno especialmente constatado no comício de abertura da sua campanha em Luanda. Os dirigentes do partido não estão intimamente seguros de que as acções de aliciamento material do eleitorado, paralelas a outras, de intimidação/coacção, produzam efeitos concretos em termos de captação de votos; contam mais com a adesão dessas pessoas a manifestações públicas (comícios/passeatas), que possam ser apresentadas como prova de apoio.
Jorge Valentim, um antigo dirigente da UNITA, que em condições consideradas moralmente censuráveis, rompeu com o seu partido, ficou por isso despojado do prestígio de que antes a gozava na zona Lobito/Benguela – uma evidência que supostamente se acentuou com a sua participação (AM 307) na campanha do MPLA.
A capacidade de manipulação ao dispor do MPLA em virtude de factores como o controlo dos grandes meios de comunicação social, permite, porém, criar a ilusão de que J Valentim mantém intacta a sua popularidade, dando assim “cobertura” a um resultado, em Benguela, a alcançar por meios ilegítimos.
4 . O envolvimento activo de José Eduardo dos Santos na campanha do MPLA estava previsto e é atribuído a 3 razões em especial: demonstrar que o regime está coeso; pronunciar a sua própria importância política, aparecendo como elemento que melhorou as condições de vitória; identificar-se com a vitória.
Fonte: África Monitor