Luanda - Dissemos no nosso número anterior, que a bajulação é um mal social que prejudica as novas gerações, desmorona o castelo da concórdia e desestimula a emulação de cérebros num dado país, gerando com isso percalços na afirmação da personalidade, da honra, da dignidade e da integridade moral dos homens e da juventude em particular. Em suma, pode dizer-se que a bajulação enquanto prática indiscreta de aproveitamento do ego alheio para proveito próprio, apenas serve o próprio bajulador.


Fonte: SA

«Bajulador sujo», olha para a sua barriga de modo

privativo, se esquece da nação

 
Sedento por litros de sangue ilícito para enriquecer as suas veias com rios de dinheiro, ou ganhar fama por hipócrita aproximação física ou identidade ideológica falsificada na hora, o bajulador adora recolher à sua volta os mais amedrontados para com eles amordaçar moralmente os cidadãos que o ouvem ou escutam - qual dilinquente em pleno sequestro de almas de boa fé – fazendo-se passar por pessoa de fidelidade absoluta e cumpridor de orientações superiores como só os caninos sabem fazer por dom natural. Este tipo de bajuladores é geralmente constituído por voluntários interesseiros, graduados, altos funcionários do Estado a procura de conforto administrativo e rápida promoção, profissionais pouco competentes, políticos inseguros, gananciosos e ainda traiçoeiros parecidos aos cágados que não podem trepar árvores senão com ajuda de braços alugados à bajulação. Um bom humorista seria capaz de ilustrar melhor com gestos, um bajulador em plena prestação de serviço: torce os músculos do rosto imitando e fazendo-se passar por indivíduo falando à sério; recobre a testa de linhas horizontais quando elogia para além do verdadeiro para forçar a opinião dos mais distraídos e gesticula para lançar as palavras que selecciona a rigor, escolhendo os adjectivos em dicionário ou até forjando termos à sua maneira para convencer com a maior das eficácias.

 

Num belíssimo artigo que li numa revista brasileira acerca dos bajuladores brasileiros (que até se assemelham a muitos dos nossos) dizia o seu autor que a bajulação também podia ser considerada uma doença, pois ela tem cura no foro psicológico. O artigo chamava à atenção para o ridículo que se tornam tais voluntários, que a troco de acomodação política ou administrativa se transformam em verdadeiros prostitutos que preferem a falsidade para lograrem postos altos, dinheiro e felicidade ainda que temporária.


Ao ler tal revista, me pareceu que ela havia sido escrita por algum de nós, angolano atento. E recordei-me de bajuladores no MPLA, na UNITA (sobretudo quando Savimbi era vivo) no PRS e demais partidos, nas empresas estatais, nas organizações sociais... no parlamento, enfim.


Já por aqui recordei que há mais de 30 anos que lido com bajuladores. Ainda estudante, em plena Europa do Leste, já olhava para os bajuladores com desconfiança. O tempo depois, me deu razão.


Mas como dizia no número anterior, nem sempre o bajulador pode ser tido como um elemento errante com demérito e infractor das normas da boa convivência social. Existem aqueles bajuladores cuja missão consiste em relevar e enaltecer até ao limite máximo as supostas qualidades do chefe, de modo a fortalecer o seu poder e autoridade (do chefe), quer por razões de estratégia política, delineada colectivamente, quer por razões mais individualistas de promover ao mais alto pedestal a figura escolhida para liderar um determinado combate. Assim ocorre na política, na economia, na actividade desportiva ou noutra, com certa intencionalidade previamente concertada, a que eu chamaria de marketing político ou marketing comercial – dependendo da natureza do assunto. De modo algum condeno tais práticas, que são, a meu ver, absolutamente compreensíveis e toleráveis por razões de concorrência, na conquista de novos simpatizantes ou aderentes de uma determinada e causa nobre. Contudo, se é verdade que esta razão é defensável, e se poderá a este grupo de cidadãos encorajar a prosseguir, também é verdade dizer que estes se diferenciam daqueles, pois são pessoas desprovidas da mais elementar partícula de respeito e amor próprio, oportunistas e interesseiros sem escrúpulos, geralmente corruptos que se abocanharam, se abocanham ou pretendem abocanhar-se de pedaços de riqueza e conforto à custa de uma prática venenosa, mentirosa e exagerada do enaltecimento de qualidades irreais e inexistentes, com a clara intenção de tirar proveito pessoal.


Enquanto o marketing político do «bajulador limpo» preconiza a vitória num combate igual e centrado para a defesa do interesse colectivo, o bajulador reles, chamemo-lo de «bajulador sujo», olha para a sua barriga de modo privativo, se esquece da nação,  dos valores distintos da sociedade e da sua própria organização, para se dedicar à prostituição com o recurso a elogios modelados em tom ameaçador, intimidador e malfeitor.


Enquanto os activistas políticos e operadores mais discretos do marketing limpo a que me refiro, se decidem levar a cabo acções concertadas colectivamente, com propósitos claros de vencer duelos políticos entre adversários que se confrontam à luz da lei, dos seus regulamentos e estatutos partidários, elevando ao mais alto expoente as verdadeiras qualidades do chefe ou aquelas que seriam de se esperar, os bajuladores de rua, estes tristes oportunistas de carreira que amiúde nos intimidam com discursos ou intervenções nutridas de bobagem, desvirtuando deste modo o carácter concorrencial da luta sadia e leal pela liderança das organizações políticas ou sociais, estes oportunistas, que desvirtuam a natureza progressivista da emulação amistosa entre companheiros com programas e ideias inovadoras para corresponderem aos formatos cíclicos e alternativos para as lideranças modernas que devem obedecer aos princípios da alternância e da evolução entre pessoas nas organizações, estes bajuladores impregnados com maldade e má fé, tentam segurar-se no topo da árvore onde surgiram sem mérito, intimidando os demais com palavras meticulosamente escolhidas para o efeito, fazendo recurso aos elogios ao chefe exageradíssimos, que só podem ser recebidos com aplausos, ainda que falsos.


São destes bajuladores que o país não necessita, pois tanto mal lhe causam. As organizações políticas e outras, deviam separar este «joio humano» do trigo limpo de que o país necessita, para dar o pão que a todos nos deve saciar colectivamente.

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