Joanesburgo - Fez um ano em que as atenções estavam voltadas para a cidade sul africana de Pietersburg cujo nome acabava de ser trocado por Polokwane. Para ajudar a promover o nome da nova cidade, o ANC realizou a 19 de Dezembro de 2007 naquela localidade a sua 52 conferencia, para eleição de um novo líder partidário, que passou a ser chamada de “conferencia de Polokwane”.
Perceber as lutas ocorridas em “Polokwane” requer-nos um exercício de recuo no tempo e penetrarmos no ano de 1975 quando a Suazilândia devido a sua posição geográfica enfrentava pressões políticas do então regime do apartheid que ameaçava cortar alguns “trade” econômicos a que eram dependentes. Para “agradar” ao regime do Apartheid, duas figuras do ANC que operavam naquele território foram detidas pelas autoridades Suazi. Era o então Representando do ANC na Suazilândia, Thabo Mbeki, e um então agente que dirigia as operações estratégicas que decorriam na fronteira entre os dois paises, Jacob Zuma. Certo dia foram retirados da cadeia e levados até ao aeroporto para serem deportados. A espera deles estava um avião pertencente a companhia “South African Airways”. Foi-lhes garantido que seriam “deportados” para Lusaka onde estava a sede do ANC. Porem, um pormenor iria inquietá-los. É que o avião antes de chegar ao destino faria uma escala em Joanesburgo. Mbeki percebeu a jogada e persuadiu, a porta do avião, os oficias de segurança Suazi para que não lhes colocassem naquele avião que equivalia entregar-lhes ao regime do Apartheid. Foram nestas circunstâncias que foi encerrado a representação do ANC naquele pais e por vias desconhecidas Thabo Mbeki juntou-se a Lusaka onde estava a direcção do movimento chefiada por Oliver Tambo, o Presidente do ANC. Jacob Zuma partiu para Maputo onde passou a chefiar os escritórios do ANC. É nestas circunstancias que nasce a amizade entre Mbeki e Zuma que seria congelada na conferencia de Polokwane.
Em Lusaka, o ANC tinha um centro de informação bastante estratégico. É de lá que através da emissora do partido a “Radio Freedom” que Thabo Mbeki passou a ser conhecido pela população sul africana que escutava o seu programa emitido em ondas curtas. Estava também neste centro de informação, Victor Moche que é jornalista de profissão emprestado aos serviços de inteligência. Victor Moche foi no ano de 90 transferido para o Canadá onde representou o ANC. Fez parte da “inteligência” do ANC na década 80/90 e com o fim do regime do Apartheid chefiou uma divisão nos serviços secretos da África do Sul. Moche simpatiza-se com Jacob Zuma e é figura que domina com propriedade a origem das lutas que deram lugar na “conferencia de Polokwane.” Presentemente faz parte do grupo do executivo da Telekom.
Cada personalidade da luta de libertação do ANC tomou um campo de apoio. Figuras como Andrew Feinstein, Jessie Eduard (ex assistente de Mandela e agora porta voz do ANC) e Sue Rabkin do departamento de informação do ANC jogaram papel importante. São figuras que nunca fizeram parte da hierarquia do partido mas que desde a luta do ANC sempre tiveram forte poder de influenciar o curso da historia através dos serviços de informação de onde vêem. O antigo Chefe do estado maior do “Umkhonto weSizwe”, ou “MK” o braço armado do ANC, tomou em Polokwane a sua posição em apoiar Jacob Zuma que é também um “MK” como se diz. Foi pelo “MK” que Zuma aprendeu “Umshini Wami” (Traga a minha maquina de guerra), a polémica musica que servia de preparação para soldados do “Umkhonto weSizwe”.
Polokwane por definição foi uma conferencia que identificou lutas entre notáveis elementos do extinto serviços de secretos do ANC mas sobretudo uma luta entre o grupo do ANC que viveu no exílio contra a ala que sobreviveu internamente as amarguras do regime do Apartheid .
Billy Masetlha, o antigo responsável da Inteligência do ANC na Europa é também visto como personalidade que teve papel crucial na conferencia de Polokwane ao lado de Jacob Zuma. Masetlha foi chefe dos serviços secretos da África do Sul e em 2006 foi demitido do posto pelo então Presidente Thabo Mbeki. A forma que saiu das funções que exercia culminando com abertura de um processo criminal deixou-o magoada acabando por se juntar a facção de Jacob Zuma. Diz-se que foram figuras da linha de Masetlha quem aconselharam a ultima da hora que a votação na conferencia deveria ser manual e não por meios eletrônicos como se previam.
O Principal opositor de Masetlha é Ronnie Kasrils o então Ministro da Inteligência com quem teve uma briga surda, e responsável pelo seu afastamento dos “serviços”. Ronnie Kasrils foi no tempo da luta anti apartheid, o chefe da inteligência militar do exercito do ANC . Foi um dos quadros que fez a sua formação militar na escola angolana. Dimitiu-se do posto de Ministro da inteligência quando Thabo Mbeki foi convidado a abandonar a chefia do Estado pelo seu próprio partido. Na conferencia de Polokwane, Ronnie jogou para Mbeki um papel importante que diluiu humilhação a que o então presidente estava submetido. A dada hora do conferencia, os conferencistas sabotavam as intervenções feitas pelos homens de Mbeki. Não os deixavam falar porque punham -se aos gritos como se desejassem dizer “vai te embora, queremos mudança”. Ronnie foi responsável de um trabalho de indução psicológica que acalmou a plateia. Do local onde estava sentado foi ter com Mbeki instruindo-lhe que incluísse no seu discurso questões chaves e ao mesmo tempo fazer-lhes refrescamento de sacrifícios feitos no seu mandato. Passado minutos não se ouvia mais gritos indesejados naquela sala. Era a influencia do trabalho dos homens dos serviços secretos na conferencia de polokwane.
Fonte: Club-k.net