Luanda - Quase 85% do tempo dedicado pelas televisões e rádios angolanas à cobertura da campanha eleitoral do último mês foi ocupado pelo Movimento Popular para a Libertação e Angola e Governo, com 1.900 em 2.246 minutos monitorizados pelos voluntários do projeto "Jiku".
Fonte: Lusa
Os números foram avançados hoje à Lusa pela associação cívica angolana Handeka, fundada por personalidades como o ativista Luaty Beirão ou o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, que lançou este projeto de monitorização à cobertura da campanha eleitoral para as eleições gerais de 23 de agosto.
"Esta monitorização mostra, com uma base mais científica que vai para lá dos habituais queixumes baseados nas perceções, que não há um pingo de intenção nem de organizar eleições que possam ser chamadas de justas, nem tão pouco respeito pelas leis vigentes no país pois, apesar dos vários alertas que foram sendo emitidos ao longo do processo, nenhum dos órgãos se corrigiu e nenhuma entidade reguladora se impôs", acusou hoje o 'rapper' e ativista Luaty Beirão.
A análise, segundo os dados do projeto "Jiku", resultam da monitorização, por voluntários da associação, das televisões pública TPA e privada Zimbo, bem como da Rádio Nacional de Angola, Rádio Mais, Rádio Lobito, Rádio Morena e Rádio Huíla, entre 23 de julho e 20 de agosto.
Em 2.972 minutos que a associação refere terem sido monitorizados em praticamente um mês de campanha, 2.246 promoviam de alguma forma um dos seis partidos candidatos às eleições.
Deste total, 1.900 minutos foram atribuídos à campanha do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, e ações do Governo (84,6%), enquanto a cobertura dada à União para a Independência Total de Angola (UNITA) não passou dos 96 minutos (4,2%), ficando a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) com 80 minutos (3,6%), respetivamente os dois maiores partidos da oposição.
"Fica assim bem demonstrado quem manda neste país e como tenciona continuar a mandar, um país onde a única lei é a que convém ao MPLA e a sua clique de mafiosos", insiste Luaty Beirão, um dos 17 ativistas que em 2016 chegaram a cumprir pena de prisão por ordem do Tribunal do Luanda.
Nesta contagem, o Partido de Renovação Social (PRS) somou 73 minutos (3,2%), a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) 54 minutos (2,4%) e a Aliança Patriótica Nacional (APN) 41 minutos (1,8%).
A Handeka foi lançada em abril passado, em Luanda, para combater a "cultura do medo", que os fundadores consideram inibir o exercício de cidadania e participação civil da maioria dos angolanos.
A associação, cujo nome significa "voz" na língua nacional Nganguela, tem como subscritores nove cidadãos de variados estratos sociais, os quais pretendem promover a defesa da democracia e dos direitos humanos, bem como fomentar o exercício dos direitos e liberdades de reunião, expressão, de imprensa, manifestação e associação.
A associação propõe-se contribuir para a formação de opinião, educação patriótica e cívica, bem como estimular a participação dos cidadãos na vida pública.
Hoje é o último dia de campanha eleitoral em Angola.
Às eleições gerais de quarta-feira concorrem seis formações políticas concorrentes - MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e APN - e há 9.317.294 eleitores em condições de votar.
Nas eleições gerais são eleitos o parlamento e, por via indireta, o Presidente da República e o vice-Presidente.