Luanda - O ex-primeiro-ministro e antigo secretário de Estado do MPLA, Marcolino Moco, revelou que João Lourenço tomou a iniciativa de promover a sua reaproximação ao partido, gesto que, explica, não pode recusar. "Nesta altura dou o benefício da dúvida ao candidato do partido".
Fonte: Novo Jornal
João Lourenço é o grande responsável pelas recentes e surpreendentes aparições de Marcolino Moco em acções de campanha do MPLA.
Em entrevista à agência Lusa, o antigo primeiro-ministro explica que não pode recusar a reaproximação aos "Camaradas" -"numa altura em que o candidato do partido já não é o mesmo"-, da mesma forma que não pode passar cheques em branco a ninguém.
"Não posso atestar que o partido está a mudar. O que estou a fazer é para que amanhã não seja acusado de que me abriram a janela e eu não aceitei, é só isso. Nesta altura dou o benefício da dúvida ao candidato do partido", salientou o ex-secretário do MPLA, sem esquecer as provações do passado.
"Agora, a testar o estrago que foi feito, há uma aproximação repentina à minha pessoa", adiantou, lamentando que, no partido, nunca tenham querido saber das suas críticas. "Pelo contrário, recebi ameaças, o isolamento perante muitas pessoas", recordou o hoje docente.
Questionado pela Lusa sobre se pondera voltar a trabalhar directamente com o MPLA, e com João Lourenço, num cenário de renovação governamental, Marcolino Moco não descartou a hipótese.
"Responder liminarmente a essa pergunta não posso. Haverá certamente aproximações, mais conversas. Ele [João Lourenço] felizmente garantiu-me essa abertura, a iniciativa foi dele, não foi minha. E, das conversas que tivemos, se ninguém as interromper, nós poderemos chegar a uma saída, a uma conclusão", apontou.
Marcolino Moco sublinhou ainda que só marcou presença no comício de sábado do MPLA, no Camama, porque o secretário-geral do MPLA lhe transmitiu que o Presidente José Eduardo do Santos pediu que fosse, "no dia em que faria a última intervenção".
"Posso dizer - e disse-o ao João Lourenço - que para ir ao comício no sábado deixei muita gente a chorar, dividida, em casa. Que não queriam que eu fosse, depois desse episódio [de alegada manipulação do seu discurso], em que me humilharam, me passaram de crítico a um dos bajuladores mais reles".
Apesar dos sinais de reconciliação partidária, Marcolino Moco não desarma a crítica ao MPLA.
"É um partido muito intolerante para com qualquer ideia diferente lá dentro", considerou, personalizando as críticas à liderança de José Eduardo dos Santos.
"Há uma família que toma conta do país e estraga tudo, que é a família do Presidente, que acham que com o desaparecimento de Jonas Savimbi o país estava nas suas mãos, tinham direito a tudo", assinalou, criticando o que diz ter sido uma "gestão desastrosa e vergonhosa" dos destinos nacionais.
"Queria evitar utilizar esses termos agora, mas é inevitável, é evidente, quando um Presidente cria um Fundo Soberano sem consultar a Assembleia Nacional e nomeia o seu filho para o dirigir", prosseguiu.