Luanda - Um comunicado da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) divulgado a 19 de agosto, confirma o incidente ocorrido a poucos dias das eleições gerais em Angola: foram extraviados no município de Catabola, na província do Bié, 39 blocos de 100 boletins de voto cada - um total de três mil e 900 boletins.

Fonte: DW

No documento, a CNE afirma que se registou "um incidente" com uma viatura que transportava boletins, atas das operações e cadernos eleitorais na comuna do Chipeta. O comunicado refere que, "em consequência, resultou a queda de uma caixa que continha material eleitoral sensível das Assembleias de Voto".

A CNE promete acautelar medidas para que nenhum candidato eleitoral saia prejudicado. No entanto, a promessa e a explicação não são suficientes para os partidos ouvidos pela DW África na província. As formações políticas representadas no Bié querem que seja criada uma comissão de inquérito para esclarecer as reais circunstâncias do extravio dos boletins.

UNITA apela a fiscalização

Adérito Jaime Fernandes, Secretário Provincial da União para Independência Total de Angola (UNITA), considera estranha a forma como os boletins de eleitores foram encontrados, mais tarde, nos escombros de uma residência. O político da oposição já solicitou à CNE a divulgação dos números de série dos boletins encontrados pelos populares na zona.

Adérito Jaime Fernandes condena ainda a Comissão pelo facto de não ter notificado os representantes dos partidos políticos na província. "Até hoje, a Comissão Provincial não apareceu para esclarecer o comunicado que foi feito em Luanda. Pedimos que fosse criada uma comissão que incluísse também os partidos políticos para averiguarmos a situação e isso não se fez", explica.

 

Para o representante da UNITA no Bié, as medidas anunciadas pela CNE para impedir que o incidente prejudique os candidatos não chegam.

Jaime Fernandes garante, por isso, que o seu partido está preparado para fiscalizar o processo, destacando fiscais em todas as assembleias para evitar aquilo que classifica como "fraude eleitoral".

"O mais importante é colocarmos os delegados de lista, no sentido de acompanharmos até o próprio número de série, durante a contagem dos votos", frisa.

"Negligência grave", diz CASA-CE

Também para o secretário provincial da coligação CASA-CE no Bié, Ernesto Manuel Sozinho, as explicações dadas pela CNE são pouco convincentes. Sozinho acusa o órgão de agir de má fé e sublinha que "não há vontade política por parte de quem está a conduzir este processo".

"Fala-se de um acidente. O que nos preocupa são as caixas de boletins votos que se foram dispersando ao longo de comunas e aldeias", afirma. No entender do representante da CASA-CE, a viatura que transportava os boletins de voto deveria ter sido escoltada pela polícia. Ernesto Manuel Sozinho acusa, por isso, os responsáveis pelo processo na província de "negligência grave". "As caixas foram aparecendo nas aldeias", lembra o representante da CASA-CE, sublinhando a necessidade de se criar uma comissão de inquérito para apurar responsabilidades no incidente de Catabola.

PRS condena silêncio da comissão provincial


O secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS) na província, António Armando, diz ter sido "surpreendido" pelo comunicado da Comissão Nacional Eleitoral em Luanda sobre o incidente do Bié. No entender do político, deveria ter havido um pronunciamento ao nível da província. "Num momento como este, calaram-se. Não convocaram os nossos representantes para os informar", afirma.

À semelhança dos restantes partidos, António Armando questiona o facto de a Comissão Provincial Eleitoral não ter tomado as providências necessárias no transporte do material em causa, por todos considerado sensível: "Material como este não pode ser transportado sem escolta policial. O PRS não está de acordo que agora venham dizer que já estão a recuperar e a repor o material. Precisamos de um inquérito real para apurar responsabilidades".

Contactada pela DW África, a secretaria provincial do MPLA recusou prestar declarações sobre este caso. A DW África contactou igualmente o departamento de comunicação do Comando Provincial da Polícia Nacional no Bié para um pronunciamento sobre os incidentes, mas os responsáveis remeteram para o comunicado da CNE, alegando que não faz sentido a corporação tecer mais declarações enquanto se aguarda pela conclusão das investigações.