Lisboa - Os investimentos angolanos no mercado de capitais português, que se restringem aos da Sonangol e de Isabel dos Santos (filha do Presidente Eduardo dos Santos), valiam 1813 milhões de euros no início de Setembro, o que representa três por cento do total da capitalização bolsista do principal índice, o PSI 20.


* Luís Villalobos
Fonte: Publico

Isabel dos Santos, através da Santoro, ficou com os 9,7 por cento do BPI

As contas foram feitas pela consultora AT Kearney, que apresentou ontem um estudo sobre as tendências das operações de fusões e aquisições entre Portugal e os países emergentes. Ao todo, estes mercados já têm um peso de cinco por cento, equivalente a três mil milhões de euros, cabendo ao Brasil, com um por cento do valor total de capitalização bolsista, o segundo lugar de maior investidor entre os países em desenvolvimento.


Aqui destacam-se os investimentos do Bradesco no BES e do Itaú no BPI. O outro um por cento está dividido por diferentes origens, como a China (Stanley Ho, com pouco mais de dois por cento do BCP), Argélia e Emirados Árabes Unidos (na EDP).


No caso dos investimentos angolanos, estes são protagonizados por apenas duas entidades e em três empresas. Primeiro foi a entrada da Sonangol e de Isabel dos Santos, via Esperaza, na Amorim Energia, da qual controlam 45 por cento do capital, ou seja, 15 por cento, de forma indirecta, da Galp, avaliados em 1206 milhões de euros. Depois, a petrolífera angolana começou a comprar acções do BCP, detendo já dez por cento e que, ao valor de cotação de 1 de Setembro, valiam 424 milhões de euros. Mais recentemente, Isabel dos Santos, através da Santoro, ficou com os 9,7 por cento do BPI que estavam nas mãos do BCP.


De acordo com as contas da AT Kearney, as acções de Isabel dos Santos valiam 183 milhões de euros no início do mês passado. João Rodrigues Pena, vice-presidente da AT Kearney para Portugal e Espanha, considera que, dentro de cerca de três anos, o crescimento da economia angolana, suportado pelo aumento do preço de matérias-primas como o petróleo e pela abertura (que tem sido adiada) do mercado de capitais, fará aparecer "novos empresários com interesse e capacidade para investir". É expectável, também, que os actuais investidores venham a olhar para outras empresas e sectores, sendo público o interesse demonstrado pela Sonangol em entrar na EDP. Por outro lado, João Rodrigues Pena considera que haverá outros países a receber investimentos de Angola sob a forma de aquisições e fusões, tendo Portugal sido o primeiro passo para entrar em outros mercados, até por uma lógica de diversificação.


Ao todo, o investimento angolano em Portugal, entre 2005 e 2008, foi de 791 milhões de euros, enquanto o valor de Portugal para Angola foi de apenas 75 milhões, segundo as contas da consultora, já que a maioria do capital está ligado a projectos e parcerias locais (no período em análise este valor foi da ordem dos dois mil milhões de euros). Já no caso do Brasil, Portugal aplicou 715 milhões de euros neste país da América do Sul nos últimos quatro anos, tendo as empresas brasileiras investido 157 milhões no mercado nacional. Ao todo, Angola e Brasil, incluindo as apostas em empresas não cotadas (como a compra de parte das OGMA pela Embraer, por exemplo), valem mais de 60 por cento do valor das operações de fusões e aquisições efectuadas em Portugal com base em mercados emergentes. A análise da AT Kearney explica que, no caso das empresas brasileiras, estas têm como objectivo a internacionalização, "envolvendo sobretudo aquisições maioritárias" de pequenas e médias empresas.


A curto prazo, espera-se uma retoma do crescimento das fusões e aquisições por parte dos países emergentes (que esmoreceu no último ano), devido a factores como a subida dos preços das matérias-primas e a necessidade de capital por parte dos países mais desenvolvidos. E, diz João Rodrigues Pena, há ainda um importante volume de investimentos a captar para Portugal.