Luanda - O conflito armando opondo a República Federativa Russa e a Ucrânia completa este ano dois anos desde que começou, um conflito que parecia de término urgente, com uma garantia clara da vitória russa sobre a Ucrânia, ela mudou de rumo com a entrada da NATO no conflito. Sem a presença e o apoio da NATO, com certeza que hoje toda Ucrânia seria território anexado a Rússia.

Fonte: Club-k.net

Na visita surpresa de Boris Johnson a Ucrânia no dia 16 de Abril de 2022 logo após o início da guerra, a garantia do apoio da NATO e a certeza da vitória da Ucrânia sobre a Rússia era claro no discurso do então primeiro ministro inglês, o que veio a baralhar todas as contas da geopolítica mundial em relação ao desfecho. Com o apoio claro da NATO e passado dois anos do início do conflito e contra todas expectativas, mesmo com os perto de dois triliões de dólares gastos pelo ocidente no conflito em apoio a Ucrânia, a Rússia continua intacta. Foram aplicadas a Rússia e seus cidadãos mais de 16 mil sanções (dezasseis mil sanções), desde económicas, políticas, diplomáticas, financeiras, tecnológicas, recursos naturais, ligações aéreas, culturais, sociais e etc. Essas sanções abrangeram o Estado russo, os políticos, membros do governo e partido Rússia Unida, empresas e empresários russos, desportistas, cantores, actores, organizações, bancos, congelamentos de perto de 300 mil milhões (bilhões) de dólares russos depositados em bancos ocidentais, exclusão da Rússia no sistema Swift (impossibilidade de transferência e recepção de dinheiro dentro da Rússia), saída na Rússia de todas empresas ocidentais, com destaque para McDonald, Coca Cola, Starbucks, Heiniken, PepsiCo, Avon e muito mais.


Na história universal não há registo de nenhum país que tenha sofrido tantas sanções como foi aplicada a Rússia, com tudo isso a expectativa normal era que a Rússia estaria de rastos e com isso perderia a guerra, o declínio russo era uma quase certeza, ninguém duvidaria disto. Passado mais de dois anos, todas expectativas foram contrariadas e nenhum analista se arriscaria em prever o que a Rússia é hoje. Em 2022 a quando do início da guerra, o impacto das sanções a economia Rússa produziu um encolhimento profundo da sua economia, o Rublo (moeda russa) depreciou-se face ao dólar e euro, a inflação disparou e por conta da incorporação forçada nas forças armadas, a imigração de jovens disparou.


Depois deste cenário traumático no inicio do conflito, contra todas previsões, o conflito na Ucrânia fortaleceu a Rússia em várias áreas, a Rússia não está isolada diplomaticamente, teve vários apoios de parceiros históricos ao nível da diplomacia multilateral ou bilateral, reforçou o seu papel em África ganhando novos parceiros, retirando da França parceiros estratégicos em África, continua a registar crescimento económico apesar das sanções e tem um exército maior do que no início da guerra. Apesar de estar a enfrentar resistência ucraniana no campo de batalha, da Europa e dos Estados Unidos no plano económico e diplomático, a Rússia não só não caiu como está mais forte que nunca, uma vez que tem algo que quase nenhum outro exército do mundo tem neste momento, experiência combativa. Hoje, a Rússia adquiri livremente a tecnologia e produtos ocidentais por via de países como a Bielorrússia, Geórgia, Cazaquistão, China e outros países. A Rússia produz 9,7 milhões de barris de petróleo dia, atingindo 535,1 milhões de toneladas de petróleo bruto em 2023, sendo maior parte disto vendido a Índia e a China, extraiu no mesmo período 765 mil milhões de metros cúbicos de gás natural, vendidos a França, Bélgica, Espanha, incluindo a Estónia e a Lituânia. A China, a Índia, outros membros dos BRICS, Turquia e a Coreia do Norte têm sido os principais parceiros económicos da Rússia desde o início do conflito.


O exército russo hoje é indiscutivelmente o mais forte do mundo. É o mais bem preparado e mais bem treinado. Tem dois anos de experiência de guerra e, além disso, é apoiado por uma base tecnológica e industrial de defesa que não tem rival no Ocidente, hoje nenhum país ocidental tem mais experiência de guerra do que a Rússia, a Rússia tem mais efectivos, aviões, caças ou carros de combate do que tinha quando iniciou o conflito em 2022, além das perto de 5.580 mil armas nucleares contra as 5.328 dos Estados Unidos da América, 225 do Reino Unido e 290 da França.


Com a experiência de combate que tem as forças armadas russas neste conflito, que já é tão longo do que a guerra da Coreia nos anos 50 que dividiu a Coreia em duas, a Rússia tem dezenas de milhares de veteranos com conhecimento de combate, o que é uma grande mais-valia para o exército russo. Outra nota importante é o número de efectivos das forças armadas russa, ela continua a crescer em número e qualidade. No incio do conflito, os dados apontam que a Rússia tinha perto de um mihão e duzentos mil homens no activo em todos ramos, actualmente esse número é de mais de um milhão e quinhentos mil homens, podendo chegar a dois milhões se necessário, assim a Rússia tem a terceira maior forças armadas em número de efectivos ficando apenas atrás da China e índia.


Por conta do conflito e das perdas de material no campo de batalha, a Rússia aplicou uma técnica que aconteceu na antiga URSS que é a transformação da insdústria cilvil em insdústria militar, com trabalhos de 7 dias por semana, 24 horas por dia e todos dias do mês. Hoje a Rússia produz mais material militar (munições, carros de combate, tanques, meios aéreos, misseís, drones e etc) do que no início do conflito, consegue por isso repor melhor e mais rápido esses meios para o serviço da guerra, por conta disto vemos uma Rússia mais aguerrida, combativa, moral da tropa alta e convicta da vitória.


Hoje, é seguro afirmar que a Rússia está mais forte do que no início da guerra. O povo russo mobilizou-se em volta dos valores patrióticos e da defesa do Estado russo. Tal como o Tratado de Versalhes em 1919 que impós sanções humilhantes a Alemanha, depois da derrota desta na Primeira Guerra Mundial, que produziu um Adolfo Hitler com discurso do restauro do orgulho alemão e do respeito pela pátria alemã, tendo por isso chegado ao poder em 1933 por eleições democráticas, e se tornou um homem extremamente poderoso. Hoje vemos o mesmo efeito com Vladimir Putin, está mais forte, mais respeitado, mais admirado e amado pelo seu povo também por conta da sua resistência as sanções ocidentais, a desconstrução da russofobia e a propaganda norte americana.


Actualmente a Rússia é a maior economia europeia, a sua economia cresce mais que toda União Eurpeia, que os Estados Unidos da América, perdendo apenas com a índia, China, Filipinas e Indonésia, ou seja, a economia russa cresceu em 2,6% em 2023, superior que todos países membros do G7, embora 40% do OGE russo vá para o esforço da guerra.


Contudo que descrevemos, vemos que o Ocidente esperava que houvesse um clamor da Rússia por conta das sanções a si impostas ao violar a soberania de um Estado, isolando a Rússia com as sanções aplicadas, acreditou que isso levaria a uma desistência da guerra na Ucrânia e assim a humilhação russa, mas isso não aconteceu. Com uma economia que cresce a 2,3%, com desemprego a 6% , com o orgulho russo restaurado, com a opinião publica interna e internacional a perceber cada vez as motivações russas para invasão da Ucrânia, com um ocidente e NATO cada vez mais divididos com envio de tropas a Ucrânia, com o Senado norte-americano impedindo a aprovação de 60 mil milhões de dólares para apoio a Ucrânia, com os sinais claro do regresso de Donald Trump a Casa Branca, sendo este um apoiante da invasão russa a Ucrânia, e a reeleição de Vladimir Putin com 87,3% dos votos, numa participação eleitoral de 77% que nunca foi vista antes, Vladimir Putin é com certeza o maior vencedor deste conflito, saiu mais forte, mais temido, mais amado, mais admirado e com caminho aberto para governar a Rússia até 2030 ou até 2036, já que na Rússia os mandatos presidenciais são de 6 em 6 anos. Assim, o balanço destes dois anos da guerra nota-se claramente que Vladimir Putin é o grande vencedor, vendo-se um claro virar de jogo russo em relação as sanções.


Pedro dos Santos Santareno – Professor de Relações Internacionais