Luanda - Enquanto o furacão Milton assola a costa Oeste da Flórida, deixando um rasto de devastação desde Orlando até à Baía de Tampa, a dura realidade da transformação do nosso clima é novamente trazida à tona de forma brutal. Esta tempestade calamitosa serve como uma poderosa lembrança de que os Estados Unidos já não se podem dar ao luxo de permanecer na retaguarda da cruzada global contra as alterações climáticas. É imperativo que a América se comprometa totalmente com as iniciativas internacionais que visam mitigar os efeitos deletérios desta ameaça existencial.

Fonte: JA

Durante décadas, os Estados Unidos têm sido terreno fértil para o cepticismo em relação às alterações climáticas, fomentado em grande parte pela indústria dos combustíveis fósseis e por certas facções ideológicas. Este negacionismo tem obstaculizado o progresso global no confronto de um dos desafios mais urgentes da nossa era. Contudo, a maré está a mudar, e os Estados Unidos devem aproveitar este momento para implementar mudanças substantivas.

O argumento económico que se opõe à acção climática está, rapidamente, a perder força. As empresas de combustíveis fósseis, outrora colossos da economia americana, representam agora apenas 4 por cento da avaliação da S&P 500 — um nadir que não se via há quatro décadas. Em contraste, as energias renováveis têm demonstrado uma resiliência notável, mesmo em meio a crises económicas. Os principais gestores de activos estão a desinvestir em combustíveis fósseis e a priorizar investimentos sustentáveis, sinalizando uma mudança inequívoca do mercado em direcção a um futuro mais verde.

Do outro lado do Atlântico, os europeus há muito demonstram uma maior receptividade à ciência climática e têm sido mais proactivos nos seus esforços para combater as alterações climáticas. A União Europeia (UE) está a desenvolver uma legislação para reduzir as emissões em 55 por cento até 2030, colocando-se numa trajectória rumo à neutralidade carbónica até 2050. Até mesmo os grandes conglomerados petrolíferos europeus, como a BP, a Shell e a Total, estão a comprometer-se com emissões líquidas zero até 2050 e a alocar uma proporção significativamente maior dos seus orçamentos para as energias verdes do que as suas congéneres americanas.

É tempo de os Estados Unidos colmatarem esta lacuna. A nação deve implementar políticas ousadas que reduzam drasticamente as emissões de carbono, investir substancialmente em infra-estruturas de energias renováveis e, ao fazê-lo, gerar milhões de empregos verdes. Este esforço não se limita à gestão ambiental; trata-se de garantir a competitividade económica num meio global em rápida evolução.

A opinião pública já está a mudar, com 60 por cento dos americanos a reconhecerem a necessidade imperativa de uma acção mais forte em relação às alterações climáticas. É crucial que os líderes políticos se alinhem com a vontade da população. O interesse bipartidário na legislação climática está a crescer, e os líderes americanos devem cultivar este espírito de colaboração para superar o impasse político, que há muito impede o progresso.

A indústria dos combustíveis fósseis, historicamente um obstáculo formidável à acção climática, está agora a confrontar-se com a inexorabilidade da mudança. As grandes empresas petrolíferas estão a reconhecer publicamente as alterações climáticas e a expressar apoio à tarifação do carbono. No entanto, as suas acções continuam insuficientes. As autoridades americanas devem compelir estas entidades a transformar genuinamente os seus modelos de negócio e a intensificar significativamente os seus investimentos em tecnologias de baixo carbono.


As acções judiciais contra as empresas de combustíveis fósseis por promoverem conscientemente produtos nocivos estão em curso. Embora nenhuma tenha ainda prevalecido, uma única vitória poderá ser transformadora, com o potencial de alterar tanto a percepção pública como as políticas. O sistema legal americano deve estar preparado para responsabilizar estas empresas pela degradação ambiental que vão causando.

Ao testemunharmos a devastação causada pelo furacão Milton — guindastes desabados, estádios comprometidos, ruas inundadas e cortes de energia generalizados — somos confrontados com o custo humano da inacção. As alterações climáticas não são um espectro distante; estão a afectar as vidas e os meios de subsistência dos americanos no presente.

Os Estados Unidos sempre se orgulharam de ser um líder global. É tempo de recuperar esse estatuto na luta contra as alterações climáticas. A América possui a inovação, os recursos e, cada vez mais, o mandato público para efectuar mudanças significativas. O que é necessário agora é a fortaleza política para agir de forma decisiva.

Envolver-se plenamente em iniciativas globais para combater as alterações climáticas não se trata apenas de cumprir uma obrigação moral colectiva para com o planeta e as gerações futuras. Trata-se de salvaguardar o futuro económico da América, proteger as comunidades da crescente severidade dos desastres naturais e reafirmar a sua posição como líder no palco mundial.

Enquanto as equipas de gestão de emergência na Flórida avaliam as consequências do furacão Milton, que os seus esforços sirvam como um apelo inequívoco à acção para toda a nação e para a comunidade global.